“Há que lutar muito pelo interesse do país”;

Presidente da AEP afirma
“Há que lutar muito pelo interesse do país”
Paulo Nunes de Almeida, presidente da AEP, e Nuno Botelho, presidente da ACP.
“Vamos atravessar um período eleitoral com várias eleições” e “é preciso trabalhar muito pelo interesse do país”, afirmou Paulo Nunes de Almeida, presidente da AEP, no jantar em sua homenagem realizado pela ACP.
Crescimento económico sustentável, internacionalização, mercado de trabalho, capitalização das empresas e equilíbrio das contas públicas são os desafios que considera mais prementes e cujas variáveis mais afetam as empresas e o seu desempenho no futuro.
Paulo Nunes de Almeida, o 30º presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP), foi homenageado na última semana pela Associação Comercial do Porto (ACP). O presidente desta instituição, Nuno Botelho, elogiou-lhe a “seriedade, a determinação e inteligência”, a “dedicação à causa pública” e, ainda, “a sobriedade, que nem sempre lhe é reconhecida”, mas que, em seu entender, marcam a personalidade de um dirigente associativo empresarial que “ajudou a fazer do Porto e do Norte a capital do trabalho”.
“Apanhado de surpresa com a homenagem”, Paulo Nunes de Almeida agradeceu. E brindou as várias dezenas de personalidades que encheram o salão árabe do Palácio das Bolsa com uma longa intervenção carregada de simbolismo, de números e de responsabilidade. Deixou cinco desafios para o futuro das empresas e avisou os presentes: “temos recursos que são limitados”, pelo que é “preciso trabalhar muito pelo interesse do país”.
Na intervenção na ACP, começou por lembrar que 2019 será o terceiro ano consecutivo de crescimento da economia portuguesa acima da média da União Europeia (UE), mas que, em 2020, o PIB português subirá apenas ao mesmo ritmo, de acordo com as projeções da Comissão Europeia. No período entre 2010-2018, Portugal teve o terceiro pior crescimento da União Europeia, mas, em 2018, teve o oitavo pior (2,1%).
Ora, os dois principais ‘drivers’ do crescimento económico são o investimento e as exportações e, na verdade, disse Paulo Nunes de Almeida, o crescimento da economia portuguesa nos últimos anos foi “puxado pelas exportações e pelo crescimento privado”. Isto, embora “o trabalho das empresas e dos empresários nem sempre seja reconhecido”, disse.
O certo é que, olhando para o Produto Interno Bruto (PIB) do país, 44,3% assenta nas exportações. Mas “ainda temos muito que caminhar”.
E do crescimento económico sustentável Paulo Nunes de Almeida passou ao desafio da internacionalização, lembrando os principais números e um dado preocupante: apesar de Portugal ter aumentado a sua intensidade exportadora – passámos de 30% de exportações em 2010 para 44% em 2018 e de um de grau de abertura da economia portuguesa de 67% em 2010 para 87% em 2018 –, “70% das empresas exportam apenas para um país”. E para Paulo Nunes de Almeida não há dúvida: “era muito importante que pegássemos neste grupo de empresas exportadoras e as apoiássemos para exportar para mais do que um país”.
 
Norte representa 39,2% das exportações nacionais
 
Por outro lado, apontou o presidente da AEP, as 50 maiores empresas exportadoras representam um terço das nossas exportações e metade das exportações de bens está concentrada em apenas três mercados: Espanha, França e Alemanha. 
Ora, atenção: “apesar do acréscimo das exportações em múltiplos setores de atividade, há sinais de algum abrandamento e/ou redução em alguns setores”. E, além disso, é preciso promover a “diversificação de mercados” e o “alargamento da base exportadora”, vendendo o mais possível para “mercados mais complexos” e, até, “com mais desafios cambiais”, lembrando os Estados Unidos, a China ou o Brasil.
Também frisou que é no Norte que está o grosso das exportações (39,2%) – “é a principal região exportadora”, assinalou -, enquanto a Área Metropolitana de Lisboa apenas regista 30,1% das exportações nacionais. O Centro do país exporta 19,5%.
Mas, além do desafio do crescimento económico sustentável e da internacionalização, há também o do mercado de trabalho. E se é certo que o desemprego “prossegue uma queda e atinge mínimos históricos”, também é verdade que assistimos a “um abrandamento do crescimento do emprego”. E, a somar a isto, temos “o desafio das qualificações”. É que, frisa Paulo Nunes de Almeida, 51,7% dos trabalhadores portugueses tem como escolaridade máxima o ensino básico, sendo que 30,4% tem o ensino secundário, 15,7% tem uma licenciatura, 2% têm mestrado e 0,2% doutoramento.
 
AEP lançou programa N-Invest
 
Por último, foi ao encontro de um problema endémico: a capitalização das empresas, que “não estão bem capitalizadas”, fruto, sobretudo, de “dificuldades de relacionamento com o sistema bancário”. Isto, ainda que, “em termos médios, nos últimos quatro anos, tenhamos vindo a melhorar”, mas ainda estamos em cerca de 33,3%, o que revela que “as empresas estão descapitalizadas”.
Destacou, até, um programa da AEP para ajudar as empresas a arranjarem financiamento. Trata-se da plataforma N-Invest, que visa permitir a potenciais investidores percecionarem a realidade de cada um dos 86 municípios do Norte com o objetivo de fixar empresas e atrair novos negócios nas oito NUTS (Nomenclatura das Unidades Territoriais para fins Estatísticos) do Norte do país.
Por fim, não deixou de falar na dívida pública portuguesa, que é “muito grande”, e na carga fiscal em percentagem do PIB, que é “inferior à média europeia (2018)”, mas que, “mesmo assim, tem vindo a aumentar a partir de 2010”.
Lançou, então, vários desafios mais de curto/médio prazo, lembrando os impactos que as empresas podem sofrer em virtude dos condicionalismos associados ao ‘Brexit’, ao agravamento das tensões geopolíticas, das questões do ambiente e do clima, das relacionadas com os “cyber riscos”, a demografia, os níveis de endividamento ou os custos de contexto, como é a carga fiscal, a burocracia ou os custos energia.
Depois de tudo isto, concluiu: “temos de pensar muito bem”. E avisando que “vamos atravessar um período eleitoral com várias eleições”, Paulo Nunes de Almeida deixou um repto: “é preciso trabalhar muito pelo interesse do país”.
Susana Almeida, 17/04/2019
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