Calçado português cai 8,2% nas exportações e não se compromete com metas ;

Calçado português cai 8,2% nas exportações e não se compromete com metas
Manuel Carlos, presidente executivo da APICCAPS.
As vendas de calçado ‘made in Portugal’ para o estrangeiro estão a baixar. Até junho, tinham caído 8%, com as exportações totais do país a baixarem 8,3%. Este mês, as vendas de bens nacionais para o exterior, no geral, inverteram a tendência e cresceram 1,3%, mas o setor do calçado não acompanhou essa subida. Os dados revelados esta semana pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram que as empresas de calçado exportaram, até julho, 1090 milhões de euros, registando uma quebra de 8,2% face ao período homólogo.
A perceção internacional dos importadores e retalhistas internacionais sobre a qualidade do calçado português valorizou 28% face a 2005. A mudança dá-se sobretudo desde 2009, ano em que foi lançada a campanha ‘The Sexiest Industry in Europe’, onde a APICCAPS já investiu mais de 6,5 milhões de euros, nomeadamente em mercados considerados estratégicos, como a América Latina (Colômbia, sobretudo) e os Estados Unidos. A campanha foi, aliás, premiada pela Comissão Europeia em 2013 no âmbito dos Prémios Europeus de Promoção Empresarial.
Os resultados de uma prova cega foram avançados na última semana pela APICCAPS - Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos, ao revelar os resultados dos inquéritos realizados pela Católica Porto Business School em Milão, na última feira MICAM, abrangendo 80 compradores de 26 países. Em 2005, numa prova cega semelhante, o calçado fabricado em Portugal valia menos 30 pontos percentuais aos olhos do consumidor. 
Mas o crescimento da notoriedade dos sapatos ‘made in Portugal’ começa a ficar desalinhado da tendência das vendas para o exterior. O ano de 2018 já tinha sido de quebra nas exportações, com o setor do calçado a exportar 85 milhões de pares de calçado (+2,4% face a 2017), mas, em valor, a recuar 2,85%, para 1,904 mil milhões de euros. Já as importações de calçado cresceram 4,8% em 2018 e, até julho deste ano, subiram 2,57% face ao período homólogo anterior.
No primeiro semestre deste ano, a quebra nas vendas para o estrangeiro manteve-se, baixando 8% face ao período homólogo anterior. Esta semana ficamos a saber que, de janeiro a julho de 2019, as exportações portuguesas de calçado somaram 1090 milhões de euros (49,7 milhões de pares) e diminuíram 8,2% face aos primeiros sete meses de 2018. Paulo Gonçalves, porta-voz da APICCAPS, diz que “a redução é notória na Europa (recuo de 9,7%)” e que, “fora da Europa, as exportações seguem a crescer, com destaque pata os EUA, China e Japão”. 
Nos últimos 10 anos, o calçado português aumentou as exportações em 50% (passando de 1,3 mil milhões de euros em 2009 para 1,904 mil milhões de euros em 2018). Vende agora para 163 países. O número de empresas passou de 1407 em 2008 para 1476 em 2018 (+4,9%), o número de trabalhadores cresceu de 35398 em 2008 para 39602 em 2018 (+11,9%) e o calçado produzido subiu de 69,1 milhões de pares em 2008 para 80,4 milhões de pares em 2018. 
A “Vida Económica” questionou o presidente executivo da APICCAPS, sobre se tem metas quanto às exportações do setor, atendendo à queda das exportações e a fatores como o Brexit ou a guerra comercial EUA-China. 
Manuel Carlos desvalorizou. Reconhecendo que “os mercados estão muito instáveis”, acredita, contudo, que “o protecionismo vai deixar de se colocar” e que, depois desta “instabilidade”, “havemos de regressar ao caminho”. Por outro lado, garante que os empresários portugueses da indústria do calçado “acumularam competências” e “investiram mais que os seus parceiros europeus”. “Não estamos imunes aos impactos [do Brexit], mas as nossas empresas estão mais preparadas do que outras”, disse Manuel Carlos.
TERESA SILVEIRA teresasilveira@vidaeconomica.pt, 12/09/2019
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