Alto Minho concentra maioria dos novos investimentos na indústria automóvel;

Luis Ceia, presidente da CEVAL, destaca crescimento da indústria na região
Alto Minho concentra maioria dos novos investimentos na indústria automóvel
Para uma grande parte das empresas do Alto Minho, os clientes galegos representam 80% das vendas totais – refere Luís Ceia.
“Nos últimos anos, a região do Alto Minho posicionou-se como um local privilegiado para albergar fabricantes de componentes automóveis que tem como destino da sua produção a fábrica de Vigo do grupo PSA” – afirma Luís Ceia. O presidente da CEVAL – Confederação Empresarial do Alto Minho considera que o crescimento e emprego estão agora fortemente ameaçados pelos efeitos da pandemia e pelos reflexos negativos sobre a indústria automóvel. Em entrevista à “Vida Económica”, recorda que as fronteiras da região representam 47% do tráfego rodoviário total entre Portugal e Espanha. O encerramento das fronteiras coloca em causa a sobrevivência de um elevado número de empresas.
 
Vida Económica - Como avalia os efeitos da crise da Covid-19 na região?
Luis Ceia - O impacto da COVID-19 no Alto Minho, tal como no resto do país, ainda é difícil de avaliar com a precisão que se deseja face à incerteza que ainda permanece sobre o comportamento da pandemia.
E, nesta região transfronteiriça, essa imprevisibilidade é porventura mais acentuada, dada a forte relação económica com a Galiza.Somos a região fronteiriça do país que regista o maior movimento diário de veículos ligeiros.  Nas  5 fronteiras que ligam o Alto Minho à Galiza passam  31.190 veículos por dia, o que corresponde a 47% do total global de veículos que todos os dias cruzam as fronteiras entre Portugal e Espanha. Esta região, neste aspeto, não tem paralelo com a restante realidade transfronteiriça nacional. É com muita mágoa que até agora, passados sucessivos governos, não tenhamos visto esta importância reconhecida, o que beneficiaria muito a região, assim como o país.
 A nossa economia, particularmente nas regiões mais raianas, está muito dependente dos visitantes galegos. Setores como o comércio, a restauração e a hotelaria estão fortemente dependentes da reabertura das fronteiras. O recente inquérito sobre “A reativação da Economia nas Regiões de Fronteira do do Alto Minho”, promovido pela CEVAL junto do setor comercial, revela que para cerca 40% dos inquiridos as compras dos turistas/visitantes galegos representam mais de 80% das suas vendas totais. São dados reveladores de uma relação umbilical de muitos anos.
 
VE - Existe uma grande dependência da região face ao setor automóvel?
LC - Nos últimos anos, a região posicionou-se como um local privilegiado para albergar fabricantes de componentes automóveis que tem como destino da sua produção a fábrica de Vigo do grupo PSA. Esta unidade, depois de em 2019 ter produzido 400 000 veículos, preparava-se para este ano atingir a cifra recorde de 600 000 veículos. Como se depreende, esta dependência é enorme, com um impacto enorme particularmente no emprego. A região, antes da pandemia, registava das taxas de desemprego mais baixas do pais, podendo falar-se inclusive de desemprego técnico.
Para se ter uma ideia desta importância, nos últimos anos, 9 dos 10 maiores investimentos em fábricas cuja produção está essencialmente orientada para Vigo foram feitos no Norte de Portugal, sendo a maioria no Alto Minho.
 
VE - Que ações a Ceval está a promover para relançar a economia?
LC - A CEVAL, junto com as associações que a compõem, tem procurado estar próximo das empresas e das pessoas, ouvindo, esclarecendo, apoiando, no sentido de poder tornar mais universal e simplificado o acesso às medidas de apoio lançadas pelo Governo. Todo este trabalho tem sido feito em estreita colaboração com outras entidades, em que destacaria a CIP e a AEP.
Estamos também a preparar, em conjunto com as empresas e entidades locais, um plano para a revitalização da economia transfronteiriça.
 
VE -  Que balanço faz das linhas de financiamento e do regime de “lay-off” simplificado?
LC - O balanço, na sua generalidade, é positivo. O “lay-off” é um instrumento que tem sido crucial e que deverá, na nossa opinião, ser prolongado para além dos limites preestabelecidos.
Importa, no entanto, acelerar os pagamentos às empresas de todas as entidades públicas,  o Estado deve ser referência no  cumprimento das suas obrigações com terceiros.
 
VE - A recuperação da crise depende da criação de novos incentivos ao investimento e à criação de emprego qualificado?
LC - É desejável reforçar a cooperação entre as empresas e o ensino superior e apostar no aumento da qualificação dos quadros das empresas.
A pandemia veio acelerar o futuro. Por exemplo, o teletrabalho exige competências diferentes, porventura de maior qualificação, que o tornem não um desenrasque, mas sim uma alternativa válida ao aumento da produtividade.
Esta cooperação tem de ser palavra de ordem, hoje não é possível existirem empresas competitivas sem ensino superior interveniente, assim como o ensino superior só será de qualidade se for feito com e para as empresas.
Susana Almeida, 21/05/2020
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