Construção está numa constante pressão de preços em baixa
O mercado da construção continua a passar por uma fase difícil. O investimento público está em forte contenção e há uma pressão constante no sentido da diminuição dos preços. A que se junta a já conhecida complexidade dos processos burocráticos no que toca aos licenciamentos. As construtoras estão obrigadas a adaptar-se aos novos tempos, referiu à “Vida Económica” Carlos Garcia, administrador da empresa de engenharia e construção Garcia, Garcia.
Vida Económica – Como carateriza a atual situação do mercado da construção a nível nacional?
Carlos Garcia – Não atravessa uma fase positiva. A recuperação continua em compasso de espera ou num ritmo aquém do que seria desejável. A construção está dependente do investimento, seja ele público ou privado, nacional ou estrangeiro. E a disponibilidade para o investimento está dependente dos ciclos económicos e da capacidade do país para o gerar ou atrair. Com o investimento público em forte contenção, tem sido o mercado privado a dinamizar o setor. Em algumas áreas, como a reabilitação urbana, os sinais têm sido animadores. Mas há problemas adicionais. O mais relevante é a forte pressão para a diminuição dos preços, muitas vezes para além do que é razoável. Os tempos de resposta elevados e os processos burocráticos complexos por parte das entidades responsáveis pelos diferentes regimes de licenciamento são problemas que não têm conhecido evoluções significativas, no bom sentido. Um outro problema está relacionado com a crescente dificuldade no que se refere à disponibilidade de mão de obra. A construção continua a ser um setor de mão de obra intensiva, mas, paradoxalmente, apesar das elevadas taxas de desemprego, é cada vez mais difícil colocar pessoas em obra.
VE – Que soluções preconiza para inverter a situação?
CG – A questão é complexa. Acredito que é preciso dar um salto disruptivo ao nível da forma de estar e atuar. As construtoras têm de se adaptar aos novos tempos e aos novos mercados, reduzindo os custos fixos e reforçando a aposta em parcerias estratégicas em algumas áreas não nucleares para o seu negócio. Uma questão fundamental passa também por melhorar a imagem das empresas de construção, sejam elas grandes ou pequenas. O rigor e a transparência devem ser a imagem de marca do setor, que também deve assentar numa concorrência leal e racional. Neste contexto, a Garcia, Garcia procurou trabalhar em antecipação.
Em 2004 iniciámos uma profunda reestruturação organizativa, através da qual imprimimos uma nova dinâmica. Foi um processo difícil, mas que se revelou fundamental para fazermos face à crise que viria a acontecer. Quando a crise se instalou, a GG já era uma empresa focada na eficiência, na agilidade organizacional e com uma estrutura otimizada. O que nos permitiu agarrar as oportunidades e traçar o nosso rumo. Desde 2010 que estamos em completo contraciclo com o setor. Em seis anos, a empresa mais do que triplicou o seu volume de negócios.
Melhorias ao nível regulatório
VE – Considera que o setor da construção está devidamente regulamentado?
CG – Globalmente, o setor está regulamentado, quer por normas nacionais, quer por diretrizes europeias. O que não significa que não haja sempre espaço para melhorias, seja no sentido de maior regulamentação, seja na flexibilização de algumas áreas. Mas, mais do que alterações regulamentares, o setor precisa de mais e melhor fiscalização. Questões como o cumprimento de práticas e normas concorrenciais, assim como de cumprimento de normas de segurança, deveriam estar no topo das prioridades.
VE – A vossa empresa é responsável pela recuperação da Yazaki Saltano, em Ovar. O que representa este projeto para a Garcia, Garcia?
CG – Tratou-se de uma reabilitação industrial, que é uma área que tem crescido e na qual a nossa empresa tem desenvolvido uma intervenção relevante, com vários projetos realizados nos últimos anos. Neste caso, era um antigo complexo fabril que teve de ser integralmente reabilitado, renovado e adaptado para uma utilização final diferente, nomeadamente para um edifício logístico para o grupo Garland, que é um dos principais operadores nacionais do setor em que opera. Desenvolvido em duas fases, num total de mais de 33 mil metros quadrados, o projeto implicou o reforço estrutural do edifício, a substituição de cobertura e fachadas, a instalação de modernos sistemas de segurança contra incêndio, a construção de baterias de cais de carga e a substituição integral das acessibilidades à volta do edifício. A promoção da eficiência energética foi outra das preocupações a que o projeto procurou dar resposta, com soluções direcionadas para a poupança de energia e para a minimização da pegada ambiental.
VE – Qual a estratégia definida para os próximos tempos?
CG – Os resultados da GG revelam que a estratégia desenvolvida tem sido acertada. É natural que, na sua essência, assim se mantenha. Somos uma empresa de “design and build”, com experiência única ao nível da construção industrial e logística e que o mercado reconhece, como se pode comprovar pela carteira de clientes. Este nosso “core business” vai continuar a ser o nosso motor, não obstante ser nossa intenção reforçar o peso de outras áreas, como a reabilitação urbana e a construção residencial, onde temos alguns projetos muito interessantes em curso. Nos próximos anos, vamos continuar a investir ao nível da melhoria de processos e práticas, assim como das ferramentas de trabalho.