“Estamos no calçado para competir ao mais alto nível”
A estilista Fátima Lopes, que lançou uma linha de sapatos em 2015, está preocupada com o efeito negativo que a era protecionista de Donald Trump pode trazer para as exportações de calçado português para aquele mercado. Num exclusivo à “Vida Económica” na feira MICAM, em Milão, a empresária portuguesa é taxativa: “o mercado dos Estados Unidos é fundamental, é muito importante, espero que as coisas não aconteçam como parecem”. Pela sua parte, a aposta é na qualidade e no design. “Estamos aqui para competir ao mais alto nível”, diz.
Vida Económica – Como vê a era protecionista da nova Administração Trump nos EUA?
Fátima Lopes – Pois... eu espero que as coisas não aconteçam como parecem. Estava agora a falar aqui com um cliente e ele estava a dizer que eles próprios não sabem o que vai acontecer. Portanto, é uma incógnita para todos. Mas espero que [Donald Trump] não venha estragar todo o trabalho que tem sido feito ao longos destes anos. O mercado dos EUA é fundamental, é muito importante, mas, neste momento, ninguém pode dizer o que vai acontecer. Lá está: é uma incógnita.
VE – A qualidade do calçado português pode ser uma mais-valia, tendo em conta que os EUA não têm muitas alternativas de oferta a este nível?
FL – Portugal só pode sair beneficiado pela qualidade. Qualidade e design. É isso que nós, neste momento, trazemos para o mercado. Eu lembro-me que quando se falava de Portugal só se falava de qualidade, não se falava de design. Agora fala-se de qualidade e de design. A imagem do calçado português mudou muito e isso pode fazer uma enorme diferença. A APICCAPS [Associação Portuguesa da Indústria do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Seus Sucedâneos] é muito responsável por isso também. E nós temos de aproveitar e agarrar isto. Posso dizer-lhe que tivemos há pouco uma encomenda gigante para a Turquia, para Istambul, que é um mercado que também supostamente está... bem, não sabemos como é que está a Turquia. Mas recebemos uma encomenda enorme. Portanto, isto significa que, apesar dos problemas no mundo, a nossa qualidade traz uma mais-valia que temos de saber aproveitar. E é isto que estou a fazer na Fátima Lopes Calçado, com a nossa diferenciação, os nossos modelos completamente originais, o ter coisas que mais ninguém tem, isto faz toda a diferença.
VE – A marca de roupa Fátima Lopes é sobejamente conhecida no mercado, mas a Fátima Lopes Calçado é muito recente. Que balanço faz desta aposta no calçado?
FL – Olhe, para já, é espetacular. Nós começamos há seis meses. Fizemos a primeira feira e começamos devagarinho a abrir alguns mercados. Neste momento, de repente, só neste pequenino período da manhã [do primeiro dia da MICAM] já foi uma diferença gigante. Há seis meses atrás, as pessoas estavam a tentar perceber e conhecer e agora já não têm medo e vêm diretamente comprar. Isto para mim é fantástico. Estou superfeliz. Até porque é para isto que se trabalha. Estamos prontos para entrar no mercado, sem medo nenhum de trabalhar e da concorrência, sem medo nenhum do design. Aliás, os sapatos da Fátima Lopes estão no desfile da MICAM. Temos dois modelos a desfilar, escolhidos por eles. E, por isso, em termos de design e qualidade, estamos aqui para competir ao mais alto nível.
VE – Que perspetivas tem para 2017?
FL – Temos muito boas perpetivas para 2017. De 2016 preferia ainda não falar, ainda é cedo, mas 2017 vai ser o ano da consagração. Agora é que nós estamos a entrar no mercado. A APICCAPS tem marcas que estão aqui há dezenas de anos e nós estamos a começar, mas entrámos pela porta da frente. Há seis meses, fomos diretamente para o pavilhão 1, de luxo. E agora viemos logo para a fila A. Estamos aqui à frente. Ninguém está. Só há marcas italianas aqui à frente. E fomos logo escolhidos para o desfile.
VE – Para além dos EUA e Turquia, em que outros mercados está a apostar?
FL – Estamos a apostar nos EUA, na Europa toda, evidentemente, e a começar o Médio Oriente. Tivemos hoje um cliente dos Emirados Árabes. É um mercado que eu conheço, que já tenho há algum tempo, mesmo com a moda. Já fiz um desfile em Abu Dhabi o ano passado. São mercados importantes. Todos. Em maio vou fazer um desfile nas Maurícias. A ideia aqui é o mundo. Não há limites.