Portugal entre os países da OCDE com maiores desigualdades de rendimentos
O poder local é responsável por “valorizar a intenção social” através da “criação de redes sociais”, afirmou José Vieira da Silva, na sua intervenção no âmbito do debate Leiria Social, dinamizado pelo Fórum Cidadania Leiria, em Leiria. O ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social alertou que “nem todos conhecem dos seus direitos” e que “há redes sociais que não descolaram” por haver “recursos disponíveis que não usamos”. Para o Ministro, estes instrumentos “funcionam melhor quanto maior for o envolvimento das autarquias locais”.
De acordo com Vieira da Silva, “só no concelho de Leiria os apoios de caráter social a lares e outras instituições são superiores a 14 milhões de euros”, sendo responsáveis pela criação de “2500 postos de trabalho”. No entanto, entende que, “por vezes, as políticas falham porque não têm apoios suficientes”. Por outro lado, o ministro defende que “as políticas sociais têm na educação o seu coração”, e referiu que “houve um investimento na educação que está agora a dar frutos”, recordando que o abandono escolar está nos 14%. “Todo o trabalho em torno da educação é fundamental”, e “deve ser olhado do ponto de vista civilizacional”.
Desigualdade social trava desenvolvimento
Retratando o país nas suas realidades sociais, Vieira da Silva considera que “Portugal é um país demasiado desigual, é um país com demasiada pobreza”. De acordo com o ministro, as desigualdades são complexas, e recordou que Portugal é dos países da OCDE com maiores níveis de desigualdade, onde o milhão de portugueses com mais rendimentos tem 11 vezes mais rendimentos que o milhão de portugueses com menos rendimentos. “A desigualdade é sempre um travão ao desenvolvimento, porque o desenvolvimento exige equilíbrio”, defende. “Em Portugal cerca de 20% da população está em risco de pobreza, e dos que trabalham são 10%, o que revela que “nem sempre o trabalho consegue colmatar o risco de pobreza”.
“Identifico como primeiro fator explicativo das desigualdades sociais e da pobreza a desigualdade educativa, depois a fragilidade económica e as assimetrias territoriais profundas. Estas são as causas estruturais. Depois o efeito das crises que vivemos na última década, que agravaram a pobreza e as desigualdades”, considera o ministro. Vieira da Silva entende que “o desemprego é o grande acelerador da desigualdade e da pobreza”, e que “a emigração é uma consequência, que agrava não só as condições de vida mas também a recuperação económica”.
Na sua intervenção, que decorreu na Quinta do Alçada, Vieira da Silva destacou ainda a pobreza infantil como “um fenómeno complexo. Se não atacarmos a pobreza infantil dificilmente conseguimos evitar a propagação da pobreza”. No que respeita ao apoio a idosos, o ministro defende que “temos de ter uma atitude de grande humildade face às respostas que achamos serem as mais adequadas”. Vieira da Silva adianta que “em cerca de 15 anos a população com mais de 75 anos dobrará o seu peso (em termos demográficos)”. Para o ministro “as políticas sociais passam por respostas sociais domiciliárias, mas a melhor solução passa por integrá-las em espaços vocacionados para isso”.