Recuperação é desigual com ganhadores e perdedores
“Na China a palavra crise é uma palavra composta que significa perigo e oportunidade oculta” – afirmou Ana Côrte- -Real. A “associate dean” para a Formação Executiva da Católica Porto Business School foi a oradora convidada do BNI Lidador que acaba de celebrar o 10.º aniversário.
“Nos últimos anos falamos da crise sempre numa lógica negativa” – referiu Ana Côrte-Real. E recordou que na origem da palavra crise na Grécia, o significado não é desgraça, nem tem associado um atributo de sofrimento, ou de escassez. “Crise significa alteração, momento decisivo e ponto de inflexão. O que a crise nos trouxe foi a certeza de que aquilo que nos permitiu ganhar dinheiro no passado não nos vai permitir dinheiro no futuro” - disse Ana Côrte-Real aos membros do BNI Lidador.
Em Espanha, a ESADE estuda as empresas que crescem mais de dois dígitos na margem de lucro. De 2008 até agora estão identificadas 14 mil empresas. Para Ana Côrte-Real, estas empresas viram na crise a dita oportunidade oculta. Por exemplo a Uber ou a edreams não criam inovação no produto mas criam um modelo de negócio e uma proposta de valor distinta, por isso crescem neste período de crise.
A Gala de aniversário do BNI Lidador contou com a participação de mais de 100 convidados entre gestores de empresas, associações, universidades, e quadros da administração pública.
Ásia é o novo centro de poder e decisão
Como principais tendências, Ana Côrte-Real referiu o crescimento globalizado com diferenças significativas e instabilidades. “A recuperação económica já se iniciou mas assistiremos a grandes diferenças no crescimento entre regiões e a sucessivas fases de instabilidade. Estamos perante a transferência do poder de decisão para a Ásia. Em 2020, a China será a primeira economia mundial e a terceira de consumo. Em 2020, a Índia será a quarta economia mundial e a quinta de consumo. Em 2020 o Japão será a quinta economia mundial e a Coreia a 10ª. Em 2020, os países asiáticos suportarão 33 da produção mundial, 50% do comércio internacional, 70% da oferta qualificada e 50% de investigação e desenvolvimento. As empresas asiáticas serão as novas referências das empresas multinacionais. Temos noção que será uma recuperação desigual com ganhadores e perdedores. Os países perdedores são os países da Europa com fortes desigualdades entre regiões. Os últimos dados da OCDE dizem-nos que os países da OCDE perderão 12% do PIB mundial até 2020 e já todos percebemos que ninguém fala do G7” – acrescentou.
Transformação tecnológica e digital
A segunda tendência destacada por Ana Côrte-Real é a aceleração tecnológica e digital. “Estamos perante novas formas de inovação, de relação, de transação. Todos os mercados são online ou multicanal. Temos um novo intermediário com a internet. Perante este contexto, podemos trabalhar em rede, podemos contratar, reter e gerir talento digital. Apostar em inovação interdisciplinar e identificar o que fazemos, o que fazem os outros e sobretudo o que podemos fazer juntos” - afirmou.
Outa grande tendência está ligada à urbanização e às megacidades. “Temos mais cidades e cidades maiores. Em 2010, 50% da população mundial vivia em grandes cidades. Estima-se que em 2020 seja 80% da população mundial a viver em grandes cidades. Significa que temos oportunidades de construção e de infra-estruturas, oportunidades até associadas aos novos nómadas” - salientou.
Extensão da vida laboral
Uma quarta tendência tem que ver com as alterações sociodemográficas. Em 1950 a idade média era 29 anos. Estima-se que em 2050 a idade média em toda a OCDE seja 51 anos. “Quantas empresas para a estrutura etária projetada de 2012-2060 para Portugal? Teremos uma extensão de vida laboral. Temos uma escassez de talento novo nas organizações. A par, também vamos ter de gerir uma geração diferente. Quantas empresas estão preparadas para gerir e liderar este milénio?” – questionou Ana Côrte-Real.
Esta geração é multitarefa, olham para os projetos como efémeros, apostam na coletividade e na colaboração, o projeto profissional não é o projeto de vida, é uma geração síncrona. Como vamos reter este talento? Qual a proposta de valor que hoje as empresas têm para captar e reter o talento?
Cada vez mais se vê os mesmos consumidores a quererem comprar low-cost, mas simultaneamente aderirem aquilo que é o novo luxo. Se calhar todos os dias vamos em Ryanair mas depois temos Iphones. O consumo atual é um consumo de extremos. O mais difícil é estar na proposta do meio, que é a qualidade ao melhor preço.
Crescimento e sustentabilidade
Ana Côrte-Real destacou também a tendência ligada ao meio ambiente e a sustentabilidade. “Temos uma forte pressão nos recursos naturais. Há uma alteração climática que tem enormes impactos na procura, na venda, nos negócios. Mas também há oportunidades. Devem olhar bem para o vosso modelo de negócio, comunicar bem para dentro e para fora, rentabilizar todas as operações, ganhar escala para crescer e gerir a sustentabilidade e da sucessão”- concluiu.