Cabo Verde quer atingir um milhão de turistas em 2020
O turismo tem “muito potencial” em Cabo Verde, já “representa 20% do PIB e está com um crescimento rápido”. Em entrevista à “Vida Económica”, no Porto, à margem do XII congresso nacional do Mutualismo, o primeiro-ministro cabo-verdiano revela os objetivos de curto prazo: “melhorar o ambiente de negócios”, “modernizar a Justiça” e “diversificar a oferta” turística para conseguir “um milhão de turistas em 2020”.
Ciente dos constrangimentos “institucional” e da dívida pública – 128% do PIB – que afetam o país, Ulisses Correia e Silva está a negociar uma nova parceria estratégica com a União Europeia. Espera, assim, captar mais investimento estrangeiro para o país.
Ciente dos constrangimentos “institucional” e da dívida pública – 128% do PIB – que afetam o país, Ulisses Correia e Silva está a negociar uma nova parceria estratégica com a União Europeia. Espera, assim, captar mais investimento estrangeiro para o país.
Vida Económica – Em fevereiro, realizou-se na cidade da Praia uma cimeira entre Portugal e Cabo Verde, onde esteve presente o primeiro-ministro português, António Costa. Foi estabelecido um programa estratégico de cooperação 2017-2021 em várias áreas. O que é que está previsto, nomeadamente na área económica?
Ulisses Correia e Silva - Temos diversas áreas de intervenção, desde económicas, de promoção de investimentos empresariais para Cabo Verde, dependendo muito da melhoria das condições do ambiente de negócios e da facilitação de encontros e de parcerias com as organizações empresariais caboverdianas e portuguesas e os empresários. Temos [ações] na área do ambiente e da agricultura, onde temos estado a desenvolver, não só atividades estruturais, mas de desenvolvimento de competências. No domínio das Finanças temos relações que têm a ver com os dossiers que estão em curso para encontrarmos soluções conjuntas, nomeadamente quanto a programas que foram financiados no passado pelo Governo português através de linhas de crédito. No geral, temos com o Governo português e com Portugal relações privilegiadas de parceria em vários domínios, económico, social, cultural.
VE – No domínio da agricultura, de que falou, há investimentos de empresas portuguesas em Cabo Verde?
UCS – Há e em desenvolvimento. Na área da produção hortícola e frutícola para o mercado turístico que está em crescimento, nomeadamente em Santa Cruz. Creio que há um processo que já vem de há vários anos, de uma propriedade que tinha sido nacionalizada na década de 70. E agora estamos a tentar uma solução para que haja o retorno dessa propriedade através de um investimento empresarial muito forte, envolvendo esse grupo, que hoje se constituiu numa empresa, envolvendo o município de Santa Cruz e o próprio Governo, no sentido de redinamizar a agricultura num concelho que já foi o celeiro do país. E também no sentido da melhoria das condições e das competências para que a agricultura possa ser mais moderna, mais virada para o rendimento.
VE – No turismo, também há projetos com relevância. Quer dar exemplos?
UCS – Temos tido alguns investimentos de empreendedores portugueses. O grupo Oásis é o que está com maior dinâmica. Tem hotéis na ilha do Sal, na Praia e está a perspetivar a construção de um hotel de cinco estrelas no Tarrafal. Temos outros grupos portugueses que estão no mercado há mais tempo. Em termos de grupos emergentes, ainda não há uma presença muito forte. Isto, no sentido de aproveitar as oportunidades, por exemplo, na ilha da Boavista, que não era um destino turístico há uns anos atrás. Mas há muito potencial. O turismo é um setor que representa 20% do PIB, está com um crescimento rápido e podemos atingir um milhão de turistas em 2020. Mas queremos ter uma oferta diversificada, conforme a natureza das ilhas. Há umas que têm mais vocação para o turismo de natureza, ecológico, de aventura, outras que têm mais vocação para turismo de sol e praia. É preciso tentar conjugar as necessidades de cada uma das ilhas. Mas há mercado, para pequenos e médios investidores e mesmo para o grande investidor, que é o entra com o capital mais elevado e cuja entrada é muito mais restrita por causa do montante do investimento. Mesmo nas ilhas onde o turismo é muito mais virado para a natureza e o desenvolvimento do ecoturismo, o turismo de montanha e mesmo o associado a atividades desportivas, à atividade medicinal e da saúde. Há todo um campo a ser desenvolvido. E os investidores deveriam olhar para isto com uma atenção especial.
VE – Como está a oferta em termos de ligações aéreas com Cabo Verde?
UCS – Hoje temos, por exemplo na ilha da Boavista, um fluxo muito grande com várias partes do mundo, mas muitos desses voos estão ligados aos operadores turísticos, às agências de viagens. No Sal, Boavista, e outros destinos e nos voos que não são ligados ao turismo, hoje temos uma presença muito maior da TAP, que tem vários voos semanais. A SATA também começou a operar, fazendo ligações Praia-Estados Unidos, passando por Ponta Delgada. E estamos num processo de reestruturação da nossa própria companhia aérea. A nível dos voos internacionais vamos fechar brevemente um dossier, em que vai poder ser agilizado o conceito de ‘hub’ aéreo a partir da ilha do Sal, para termos operações que possam aproveitar mais o mercado da África ocidental e da América Latina. É um setor que está com uma dinâmica muito interessante.
Ulisses Correia e Silva - Temos diversas áreas de intervenção, desde económicas, de promoção de investimentos empresariais para Cabo Verde, dependendo muito da melhoria das condições do ambiente de negócios e da facilitação de encontros e de parcerias com as organizações empresariais caboverdianas e portuguesas e os empresários. Temos [ações] na área do ambiente e da agricultura, onde temos estado a desenvolver, não só atividades estruturais, mas de desenvolvimento de competências. No domínio das Finanças temos relações que têm a ver com os dossiers que estão em curso para encontrarmos soluções conjuntas, nomeadamente quanto a programas que foram financiados no passado pelo Governo português através de linhas de crédito. No geral, temos com o Governo português e com Portugal relações privilegiadas de parceria em vários domínios, económico, social, cultural.
VE – No domínio da agricultura, de que falou, há investimentos de empresas portuguesas em Cabo Verde?
UCS – Há e em desenvolvimento. Na área da produção hortícola e frutícola para o mercado turístico que está em crescimento, nomeadamente em Santa Cruz. Creio que há um processo que já vem de há vários anos, de uma propriedade que tinha sido nacionalizada na década de 70. E agora estamos a tentar uma solução para que haja o retorno dessa propriedade através de um investimento empresarial muito forte, envolvendo esse grupo, que hoje se constituiu numa empresa, envolvendo o município de Santa Cruz e o próprio Governo, no sentido de redinamizar a agricultura num concelho que já foi o celeiro do país. E também no sentido da melhoria das condições e das competências para que a agricultura possa ser mais moderna, mais virada para o rendimento.
VE – No turismo, também há projetos com relevância. Quer dar exemplos?
UCS – Temos tido alguns investimentos de empreendedores portugueses. O grupo Oásis é o que está com maior dinâmica. Tem hotéis na ilha do Sal, na Praia e está a perspetivar a construção de um hotel de cinco estrelas no Tarrafal. Temos outros grupos portugueses que estão no mercado há mais tempo. Em termos de grupos emergentes, ainda não há uma presença muito forte. Isto, no sentido de aproveitar as oportunidades, por exemplo, na ilha da Boavista, que não era um destino turístico há uns anos atrás. Mas há muito potencial. O turismo é um setor que representa 20% do PIB, está com um crescimento rápido e podemos atingir um milhão de turistas em 2020. Mas queremos ter uma oferta diversificada, conforme a natureza das ilhas. Há umas que têm mais vocação para o turismo de natureza, ecológico, de aventura, outras que têm mais vocação para turismo de sol e praia. É preciso tentar conjugar as necessidades de cada uma das ilhas. Mas há mercado, para pequenos e médios investidores e mesmo para o grande investidor, que é o entra com o capital mais elevado e cuja entrada é muito mais restrita por causa do montante do investimento. Mesmo nas ilhas onde o turismo é muito mais virado para a natureza e o desenvolvimento do ecoturismo, o turismo de montanha e mesmo o associado a atividades desportivas, à atividade medicinal e da saúde. Há todo um campo a ser desenvolvido. E os investidores deveriam olhar para isto com uma atenção especial.
VE – Como está a oferta em termos de ligações aéreas com Cabo Verde?
UCS – Hoje temos, por exemplo na ilha da Boavista, um fluxo muito grande com várias partes do mundo, mas muitos desses voos estão ligados aos operadores turísticos, às agências de viagens. No Sal, Boavista, e outros destinos e nos voos que não são ligados ao turismo, hoje temos uma presença muito maior da TAP, que tem vários voos semanais. A SATA também começou a operar, fazendo ligações Praia-Estados Unidos, passando por Ponta Delgada. E estamos num processo de reestruturação da nossa própria companhia aérea. A nível dos voos internacionais vamos fechar brevemente um dossier, em que vai poder ser agilizado o conceito de ‘hub’ aéreo a partir da ilha do Sal, para termos operações que possam aproveitar mais o mercado da África ocidental e da América Latina. É um setor que está com uma dinâmica muito interessante.
Cabo Verde investe 15 milhões de euros na Justiça
“Modernizar a Justiça é resolver um problema crónico, que é a necessidade de celeridade dos processos judiciais e introduzir maior confiança nos cidadãos e nos investidores no sistema judicial”, revela o primeiro-ministro de Cabo Verde à “Vida Económica”. Nesta entrevista, Ulisses Correia e Silva garante que essa aposta é “prioritária” e que têm tido “diversas ações legislativas para melhorar o sistema e as condições para aumentar a produtividade dos que operam o setor da Justiça, nomeadamente os magistrados”. Explicando que tem em mãos “um pacote de investimentos pesado para o setor”, o chefe do Governo de Cabo Verde adianta que, “nos próximos anos, o investimento na Justiça será de 15 milhões de euros, incluindo no sistema prisional”. E esse, diz, “vai ser um dos vetores estratégicos da nova parceria estratégica com a União Europeia, que estamos a negociar e que vamos seguramente assinar nos próximos tempos e onde a vertente institucional ganha força, nomeadamente no setor da justiça e da descentralização”. Dívida pública em 128% do PIB Em funções há pouco mais de um ano, o primeiro-ministro de Cabo Verde diz que “o balanço é positivo”, mas que encontrou constrangimentos, nomeadamente “uma degradação institucional que temos estado a repor, no sentido de focalizar a Administração para o serviço público e não para trabalhos de natureza político-partidária”. Ulisses Correia e Silva quer “uma Administração muito mais produtiva e eficiente”, em prol da “eficiência da própria economia”. Em paralelo, fala do “problema da dívida pública, que encontrámos em cerca de 128% do PIB, o que, para um país como Cabo Verde, é muito elevado”. Assegura, contudo, que estão a gerir essa dívida “em parceria com o FMI e o Banco Mundial, no sentido de consolidar as finanças públicas e, ao mesmo tempo, fazer crescer o país”. |