Bolota: 55% da produção é desperdiçada
A fileira da bolota em Portugal vale hoje “cerca de 6,3 milhões de euros”. A produção anual média está estimada em 401 585 toneladas, mas 55% (221 530 toneladas), que se concentra sobretudo no Norte do país e no Alentejo, está a ser “desperdiçada”.
Miguel Sottomayor, docente da Escola Superior de Biotecnologia (ESB) da Universidade Católica Porto (UCP) e autor do estudo “Potencial Económico da Bolota em Portugal: Análise Exploratória”, revelou, em finais de novembro, em Matosinhos, num simpósio ibérico, que o potencial de acréscimo de valor pela utilização da produção de bolota não utilizada é “da ordem dos 13 milhões de euros”. Aliás, diz este investigador que há procura em Portugal para dois produtos: a venda de bolota limpa (30%) e a venda de bolota processada (70%). O preço da primeira varia entre 0,50 euros e um euro o quilo; já o preço segunda oscila entre 1,5 euros e os três euros o quilo.
A utilização passiva mais corrente da bolota é pela fauna selvagem (alimentação do javali, raposa, veado, corço, raposa, pombo bravo), já em termos de utilização ativa, mais de 83,6 mil toneladas de bolotas são recolhidas para a engorda de suínos de raça alentejana (montanheira). Cerca de 13 mil toneladas vai para engorda em regime extensivo de outras espécies pecuárias, sendo que apenas um valor residual de 3048 toneladas de bolotas é que é utilizado no processamento de farinhas, utilizadas na confeção de vários produtos alimentares (pão, bolachas, entre outros).
Os estudos realizados pela ESB da Católica Porto sobre a bolota de azinheira do montado alentejano demonstram “um elevado valor nutricional” da bolota fresca e da respetiva farinha que, além da “riqueza em fibra e proteína, perfil de lípidos semelhante ao azeite e ausência de glúten, exibe uma riqueza em compostos antioxidantes”. A investigação, conduzida pela investigadora Manuela Pintado, dá conta de várias outras utilizações possíveis da bolota no setor alimentar, que já é utilizada na produção de bebidas de café de bolota, com sabor harmonioso a aroma a café (sem cafeína). E também ficaram demonstradas as propriedades antioxidantes deste fruto extraído do sobreiro, da azinheira e do carvalho. Aliás, o ‘chef’ de cozinha Pedro Mendes, autor do livro um livro de receitas “O Renascer da Bolota” e presente no simpósio de Matosinhos, tem olhado para este superalimento pelo prisma do seu potencial na alimentação humana.
No estudo desenvolvido pela ESB-UCP foi igualmente validada a “ausência de toxicidade” das bebidas de bolota. Em paralelo, a equipa de investigação desenvolveu uma bebida de bolota fresca desprovida de amargor que, além das propriedades antioxidantes, demonstrou, pela primeira vez, “a capacidade de promover o crescimento das bactérias benéficas presentes na nossa microbiota intestinal”.
Também a Herdade do Freixo do Meio, próxima de Montemor-o-Novo, tem trabalhado várias formulações de pão e biscoitos com caraterísticas sensoriais consideradas “únicas” e com “elevado prazo de validade”. Aliás, “todos os produtos são adaptados a doentes celíacos, ou seja, com alergia ao glúten”.
Finalmente, e porque da bolota nada se perde, esta investigação da ESB da Católica do Porto também olhou para os resíduos da casca de bolota, a partir dos quais foram produzidos extratos que, pela sua “excelente ação antioxidante e antimicrobiana”, são considerados “promissores no desenvolvimento de cosméticos com ação anti-envelhecimento”.