Projeto Novo Rumo a Norte demo cratiza acesso à informação empresarial
O projeto Novo Rumo a Norte teve um início difícil, pelo desafio que representava, mas foi concluído com sucesso e com resultados acima das expetativas. A realidade é que se trata de um programa que mudou muito a região Norte e, sobretudo, tende a mudar muito mais no futuro. Desde logo, foi criada uma rede sem paralelo a nível nacional, que tem como pilares a cooperação, o empreendedorismo e a inovação. Luís Miguel Ribeiro, vice-presidente da AEP, acredita que se está perante um novo modelo no que toca ao apoio às micro, pequenas e médias empresas.
Vida Económica – Até que ponto o projeto Novo Rumo a Norte está a mudar a forma de intervir junto das empresas e o relacionamento entre as associações empresariais?
Luís Miguel Ribeiro – Este foi um projeto extremamente desafiante, que terminou com resultados superiores às expetativas iniciais. O programa já mudou muita coisa, desde logo a capacidade das instituições se relacionarem. A realidade é que as associações podem interagir, trabalhar melhor em conjunto. As associações empresariais foram os parceiros que permitiram chegar a informação junto de muitas empresas. Criámos uma ferramenta que é uma plataforma com mais de 2600 empresas registadas e mais de 600 mil visualizações. A duração média de cada visita é de 6,34 minutos, o que diz bem do interesse suscitado. O programa tem-se revelado essencial no que se refere ao trabalho em rede. E este era sem dúvida um dos nossos principais objetivos.
VE – Até que ponto há mudanças relativamente ao anterior Quadro Comunitário de Apoio?
LMR – No anterior quadro era mais difícil o acesso das regiões do interior, em benefício das regiões do litoral (ainda que seja aqui que esteja localizado o maior número de empresas). Ora, um dos grandes objetivos deste programa passava precisamente por dar um forte contributo à coesão territorial. A realidade é que têm de existir condições iguais a nível territorial. É essencial criar oportunidades e condições para as populações se fixarem no interior. Este programa representou a democratização no acesso à informação. O que se conseguiu por via da cooperação entre as associações empresariais, colocando estas o seu foco nas micro, pequenas e médias empresas.
VE – Um outro pilar de que falou foi o empreendedorismo…
LMR – De facto, tivemos sempre a preocupação de trabalhar a área do estímulo ao empreendedorismo. Foram muitas horas de formação, de intervenções junto de associações e empresas. Mais de mil participantes estiveram nas ações promovidas pela AEP. Consideramos essencial contribuir para o aparecimento de empreendedores, mas sem deixar de apoiar aqueles empresários que já estão no terreno. Os empresários têm de estar mais preparados para as novas realidades. As associações, por seu lado, têm a responsabilidade de trabalhar a capacitação dos empresários para os desafios diários.
VE – A inovação assume especial relevância do programa. Em que medida?
LMR – No que respeita à inovação, a intenção foi dar um novo contributo. Daí entre as entidades parceiras contarem-se muitas de caráter tecnológico. Sobretudo, ficou evidente a necessidade de aproximar as empresas dos centros de conhecimento. As três linhas de atuação mencionadas mereceram especial atenção durante o período de dois anos e meio. Faço ainda notar que a AEP tem a responsabilidade de partilhar conhecimentos com outras associações. Não nos queremos substituir seja a quem for e não estamos em competição com outras associações. O importante é respeitar a intervenção de cada um e acrescentar valor, na medida do possível, na atuação junto das empresas.
Envolvimento de todos num projeto para todos
VE – O Novo Rumo a Norte teve o envolvimento dos destinatários na sua elaboração?
LMR – Sem dúvida, através das associações empresariais. O projeto foi construído em colaboração com os intervenientes a quem se dirige. Exigiu um esforço muito maior da equipa que o coordenou. Foi elaborado em função de um conjunto de desafios e oportunidades. O sucesso resulta do envolvimento de todas as partes. O projeto foi sendo desenhado e construído ao longo de dois anos e meio, por todos e para todos. Contou com a participação dos conselhos estratégico e coordenador. No primeiro estavam os presidentes das associações e dos núcleos empresariais e no segundo os secretários gerais, para delinearem e monitorizarem as linhas de atuação. Certo é que este projeto mudou a forma de as entidades empresariais se relacionarem. A região Norte lidera em termos de exportações e de criação de emprego, mas há coisas que não funcionam, como o PIB “per capita” ou a produtividade, o que significa que é necessário introduzir mudanças.
VE – O facto de existirem conselhos empresariais regionais e comunidades intermunicipais favorece a existência deste tipo de projetos?
LMR – Com essas estruturas é mais fácil construir este tipo de projetos. É mais simples, com cada um a funcionar no seu espaço, fazer funcionar a rede. É preciso ter estruturas com dimensão para se fazer o trabalho e este chegar às empresas. É mais um fator essencial na coesão territorial. Realço ainda que sendo um projeto desenvolvido de baixo para cima, os resultados são melhores e mais céleres. Este projeto tem as condições necessárias para se transformar num programa nacional. Estão criadas as condições nesse sentido, sendo que qualquer região pode aceder ao mesmo.
VE – No futuro haverá um programa com novos objetivos?
LMR – Temos essa vontade e essa capacidade. Vamos dar continuidade, com a rede a ser expandida a outras regiões. Podemos fazer chegar aos empresários outros tipos de apoios, que não os das entidades bancárias, por exemplo. Por outro lado, a qualificação dos recursos humanos tem de se manter uma aposta. Também o problema da produtividade tem de ser trabalhado. Neste âmbito há muito trabalho a fazer por parte das associações empresariais, em particular. Tem ainda de se continuar a reivindicar o investimento que é necessário realizar nas empresas. O trabalho pode ser mais eficaz a parte da rede agora criada. Há todo o interesse em rentabilizar o capital criado com esta rede.
Exemplo transferível para outras regiões
Projeto Novo Rumo a Norte “continua vivo” O impacto do Novo Rumo a Norte na economia local é visível no cumprimento do indicador de resultado: o projeto superou as expetativas e contribuiu já para a criação de três empresas em setores de alta e média-alta tecnologia ou serviços intensivos em conhecimento: Truenet, Ergontotis e Cosme TEK. Além disso, há uma vasta comunidade empresarial beneficiária de atividades de informação e capacitação. O projeto NRN é transferível para outras regiões do país onde a malha institucional é idêntica e uma vez que a promoção do espírito empresarial é o objetivo de política pública nacional. A aprendizagem que o NRN permitiu possibilitará a própria transferibilidade para outras geografias com as caraterísticas sociodemográficas e empresariais idênticas às da região Norte de Portugal. Este projeto possibilitou a integração da AEP num consórcio liderado pela Universidade do Porto que integra entidades portuguesas e espanholas para o projeto INOVAJACOBI – Rede Transfronteiriça para a Inovação, Criatividade e Experiências nos Caminhos de Santiago. |