“Negócios e investimentos entre Turquia e Portugal estão abaixo do potencial real”
Portugal e Turquia podem melhorar de forma exponencial as suas relações económicas, nomeadamente ao nível do investimento, turismo e comércio. Esta é a opinião de Arda Ermut, presidente da Agência de Promoção e Apoio ao Investimento da Turquia (ISPAT), a AICEP local, que esteve recentemente em Lisboa para promover o incremento das relações comerciais e de investimento bilaterais.
Energia, petroquímica, tecnologia, telecomunicações, serviços e imobiliário são os setores onde a Turquia mais precisa dos portugueses.
Relativamente ao processo de adesão, Arda Ermut considera que “ter o apoio de Portugal no caso europeu é muito importante”.
Energia, petroquímica, tecnologia, telecomunicações, serviços e imobiliário são os setores onde a Turquia mais precisa dos portugueses.
Relativamente ao processo de adesão, Arda Ermut considera que “ter o apoio de Portugal no caso europeu é muito importante”.
Vida Económica - A Turquia tem experienciado tempos turbulentos, ao nível social e político. Como tenciona convencer os investidores a investir no seu país?
Arda Ermut - Esperamos um pouco mais de compreensão e confiança por parte dos nossos aliados, para se conseguir criar soluções para a região.
Nos últimos 15 anos o nosso país teve as taxas de crescimento (económico) mais elevadas da OCDE, mesmo com toda a turbulência.
Temos um processo de eleições em andamento, mas que só vai durar dois meses. O Governo tem mantido a ênfase no desempenho da economia, no crescimento, nas reformas contínuas e no criar de uma consciência sobre a necessidade de um bom desempenho da economia.
VE - Que tipo de reformas?
AE - Há algumas semanas implementámos um novo enquadramento jurídico que diminuiu o processo de constituição/criação de empresas para apenas algumas horas. Por outro lado, pode-se comprar uma propriedade na Turquia ou ser cidadão turco, tudo dependendo do enquadramento dos incentivos e da estratégia empresarial externa que beneficie o país e o emprego local. Temos aquilo a que chamamos de incentivos personalizados. Todas estas regulamentações estão a ser atualizadas, de forma contínua, dependendo do feedback que obtemos dos investidores e do setor privado.
Nos últimos 18 meses não sofremos nenhum ataque terrorista ou tivemos problemas, o que potenciou o crescimento do turismo em mais de 20% este ano. Empresas como a Turkish Airlines também registaram lucros este ano.
Tudo na Turquia está a regressar à normalidade. Mesmo em termos sociais, quando comparado com outros países na região, a Turquia é um porto seguro. É claro que não podemos dizer que é tudo perfeito, mas, se olharmos para os EUA, para a Europa, para outros países europeus, ou para os nossos vizinhos, em nenhum deles há uma situação perfeita. De uma forma relativa, especialmente na região, a Turquia ainda surge como um dos países mais favoráveis ao investimento.
VE - Qual é a relação económica entre os dois países?
AE - Portugal é um dos países europeus com os quais temos uma balança comercial positiva. Exportamos mais do que importamos. A relação é boa, assim como o networking. O nosso embaixador também é muito proativo em suportar ações e em potenciar as relações de negócios entre os dois países. Mas penso que o volume de negócios e os investimentos entre os dois países ainda estão abaixo do seu potencial real. É por isso que aqui estamos. Esperamos que outras entidades como a nossa, assim como associações empresariais, venham cada vez mais a Portugal.
As empresas turcas são fortes no networking em áreas vizinhas como o Médio Oriente, Norte de África e Ásia central. As empresas portuguesas podem beneficiar da experiência das empresas turcas e do networking na região. Podem fazer parcerias, joint-ventures, fusões ou aquisições entre os dois países. E a Turquia pode beneficiar da posição de Portugal como “entrada ocidental da Europa” e o seu efeito nalguns países sul-americanos e em África. Ambos os países podem contribuir para aumentar a sua competitividade a uma escala global.
A partir de Istambul, à distância de quatro horas de voo, conseguimos atingir uma população de 1600 milhões de pessoas. É um enorme potencial, e penso que os portugueses também podem beneficiar deste potencial. Quando vierem para a Turquia, não devem pensar apenas no mercado turco de 89 milhões, mas sim nos 1600 milhões de pessoas que facilmente se conseguem alcançar e que estão nos mercados com o índice de desenvolvimento mais rápido do mundo.
VE - Quais os negócios mais interessantes para os empresários portugueses?
AE - Em termos de setores para investir, na Turquia, o espetro é muito amplo. Atualmente, há setores onde a Turquia está mais forte, como equipamento automóvel, indústria, turismo, agroindústria, agroturismo e farmacêutica. Nestes setores e em diferentes níveis há muitas oportunidades para os investidores portugueses. E, ao mesmo tempo, há áreas onde a Turquia tem uma necessidade urgente de investimento: energia, petroquímica, áreas relacionadas com investimentos tecnológicos e negócios relacionados com as telecomunicações. Nestas áreas há uma boa escala e a procura é elevada. Nestas áreas os investidores portugueses podem ter uma palavra a dizer. E também há oportunidades em setores como os serviços ou o imobiliário. São áreas onde os investidores portugueses têm uma vasta experiência. Acho que são áreas onde há muitas oportunidades, até porque as estruturas dos dois países são similares.
“Ter o apoio de Portugal no caso europeu é muito importante”
VE - O que está a impedir a aceleração do processo de adesão da Turquia à União Europeia?
AE - Se fosse apenas um processo económico, acredito que já faríamos parte da UE há 15 anos. Mas, quando se trata de interesses políticos de ambos os lados, infelizmente não se consegue um ajuste perfeito.
Pensamos que a União Europeia é um projeto político muito importante. É um projeto que alavancará as melhorias colaborativas de todos os países. É benéfico para todos.
O que esperamos dos nossos amigos na Europa é que sejam mais abertos. Mais honestos. Dizendo o que é, ou não, possível para que possamos continuar a negociar. No fim, esperamos encontrar um acordo benéfico para ambas as partes. Se no final o ser membro da UE não beneficiar nenhum dos lados, então (a adesão) não acontecerá. Pensamos que no longo prazo é do interesse para a Europa a adesão da Turquia. Os líderes têm de encontrar o melhor acordo para ambas as partes.
VE - A Turquia pode contribuir para a resolução do problema dos refugiados na Europa?
AE - Na verdade, a Europa deveria agradecer-nos por contribuirmos para a estabilidade da região. A Turquia é o primeiro ponto de milhares de refugiados que chegam à Europa. Não só os acolhemos como estão a recolocar a população síria na sua terra natal ao criarmos zonas seguras na região. Se não tivéssemos boas relações com os outros países da região, não conseguiríamos fazer isto. Isto é um problema e esperamos uma maior compreensão por parte dos aliados europeus.
VE - O que pode Portugal fazer para ajudar a aproximação entre a Turquia e a UE?
AE - Ter o apoio de Portugal no caso europeu é muito importante. Sejamos ou não membro da UE, nunca nos esqueceremos disso. Sempre veremos Portugal como um bom país, com boas relações, numa parte importante da Europa. A dimensão neste caso não é o mais importante, mas sim as relações políticas com os outros países. Não estamos a falar de uma nação que surgiu há 15 anos, estamos a falar de uma nação com centenas de anos de história. É por isso que o apoio de Portugal é muito importante para nós.
Arda Ermut - Esperamos um pouco mais de compreensão e confiança por parte dos nossos aliados, para se conseguir criar soluções para a região.
Nos últimos 15 anos o nosso país teve as taxas de crescimento (económico) mais elevadas da OCDE, mesmo com toda a turbulência.
Temos um processo de eleições em andamento, mas que só vai durar dois meses. O Governo tem mantido a ênfase no desempenho da economia, no crescimento, nas reformas contínuas e no criar de uma consciência sobre a necessidade de um bom desempenho da economia.
VE - Que tipo de reformas?
AE - Há algumas semanas implementámos um novo enquadramento jurídico que diminuiu o processo de constituição/criação de empresas para apenas algumas horas. Por outro lado, pode-se comprar uma propriedade na Turquia ou ser cidadão turco, tudo dependendo do enquadramento dos incentivos e da estratégia empresarial externa que beneficie o país e o emprego local. Temos aquilo a que chamamos de incentivos personalizados. Todas estas regulamentações estão a ser atualizadas, de forma contínua, dependendo do feedback que obtemos dos investidores e do setor privado.
Nos últimos 18 meses não sofremos nenhum ataque terrorista ou tivemos problemas, o que potenciou o crescimento do turismo em mais de 20% este ano. Empresas como a Turkish Airlines também registaram lucros este ano.
Tudo na Turquia está a regressar à normalidade. Mesmo em termos sociais, quando comparado com outros países na região, a Turquia é um porto seguro. É claro que não podemos dizer que é tudo perfeito, mas, se olharmos para os EUA, para a Europa, para outros países europeus, ou para os nossos vizinhos, em nenhum deles há uma situação perfeita. De uma forma relativa, especialmente na região, a Turquia ainda surge como um dos países mais favoráveis ao investimento.
VE - Qual é a relação económica entre os dois países?
AE - Portugal é um dos países europeus com os quais temos uma balança comercial positiva. Exportamos mais do que importamos. A relação é boa, assim como o networking. O nosso embaixador também é muito proativo em suportar ações e em potenciar as relações de negócios entre os dois países. Mas penso que o volume de negócios e os investimentos entre os dois países ainda estão abaixo do seu potencial real. É por isso que aqui estamos. Esperamos que outras entidades como a nossa, assim como associações empresariais, venham cada vez mais a Portugal.
As empresas turcas são fortes no networking em áreas vizinhas como o Médio Oriente, Norte de África e Ásia central. As empresas portuguesas podem beneficiar da experiência das empresas turcas e do networking na região. Podem fazer parcerias, joint-ventures, fusões ou aquisições entre os dois países. E a Turquia pode beneficiar da posição de Portugal como “entrada ocidental da Europa” e o seu efeito nalguns países sul-americanos e em África. Ambos os países podem contribuir para aumentar a sua competitividade a uma escala global.
A partir de Istambul, à distância de quatro horas de voo, conseguimos atingir uma população de 1600 milhões de pessoas. É um enorme potencial, e penso que os portugueses também podem beneficiar deste potencial. Quando vierem para a Turquia, não devem pensar apenas no mercado turco de 89 milhões, mas sim nos 1600 milhões de pessoas que facilmente se conseguem alcançar e que estão nos mercados com o índice de desenvolvimento mais rápido do mundo.
VE - Quais os negócios mais interessantes para os empresários portugueses?
AE - Em termos de setores para investir, na Turquia, o espetro é muito amplo. Atualmente, há setores onde a Turquia está mais forte, como equipamento automóvel, indústria, turismo, agroindústria, agroturismo e farmacêutica. Nestes setores e em diferentes níveis há muitas oportunidades para os investidores portugueses. E, ao mesmo tempo, há áreas onde a Turquia tem uma necessidade urgente de investimento: energia, petroquímica, áreas relacionadas com investimentos tecnológicos e negócios relacionados com as telecomunicações. Nestas áreas há uma boa escala e a procura é elevada. Nestas áreas os investidores portugueses podem ter uma palavra a dizer. E também há oportunidades em setores como os serviços ou o imobiliário. São áreas onde os investidores portugueses têm uma vasta experiência. Acho que são áreas onde há muitas oportunidades, até porque as estruturas dos dois países são similares.
“Ter o apoio de Portugal no caso europeu é muito importante”
VE - O que está a impedir a aceleração do processo de adesão da Turquia à União Europeia?
AE - Se fosse apenas um processo económico, acredito que já faríamos parte da UE há 15 anos. Mas, quando se trata de interesses políticos de ambos os lados, infelizmente não se consegue um ajuste perfeito.
Pensamos que a União Europeia é um projeto político muito importante. É um projeto que alavancará as melhorias colaborativas de todos os países. É benéfico para todos.
O que esperamos dos nossos amigos na Europa é que sejam mais abertos. Mais honestos. Dizendo o que é, ou não, possível para que possamos continuar a negociar. No fim, esperamos encontrar um acordo benéfico para ambas as partes. Se no final o ser membro da UE não beneficiar nenhum dos lados, então (a adesão) não acontecerá. Pensamos que no longo prazo é do interesse para a Europa a adesão da Turquia. Os líderes têm de encontrar o melhor acordo para ambas as partes.
VE - A Turquia pode contribuir para a resolução do problema dos refugiados na Europa?
AE - Na verdade, a Europa deveria agradecer-nos por contribuirmos para a estabilidade da região. A Turquia é o primeiro ponto de milhares de refugiados que chegam à Europa. Não só os acolhemos como estão a recolocar a população síria na sua terra natal ao criarmos zonas seguras na região. Se não tivéssemos boas relações com os outros países da região, não conseguiríamos fazer isto. Isto é um problema e esperamos uma maior compreensão por parte dos aliados europeus.
VE - O que pode Portugal fazer para ajudar a aproximação entre a Turquia e a UE?
AE - Ter o apoio de Portugal no caso europeu é muito importante. Sejamos ou não membro da UE, nunca nos esqueceremos disso. Sempre veremos Portugal como um bom país, com boas relações, numa parte importante da Europa. A dimensão neste caso não é o mais importante, mas sim as relações políticas com os outros países. Não estamos a falar de uma nação que surgiu há 15 anos, estamos a falar de uma nação com centenas de anos de história. É por isso que o apoio de Portugal é muito importante para nós.