“Património é o que fica entre o que está construído”
Como é que Mega Ferreira, o antigo comissário, vê a zona da Expo, em Lisboa, 20 anos depois? A história contada na primeira pessoa no mais recente debate do International Club of Portugal, ICPT, foi simplesmente envolvente e apaixonada. O gestor não deixou de elogiar o colega de administração, o então comissário Cardoso e Cunha.
A inovação da zona da Expo “trouxe às pessoas o espaço público”, diz o escritor que se transformou em gestor porque “tinha de acontecer”. Afirma: “Vivíamos na ideia do património que era o construído e descobrimos que (o património) é o que fica entre o que está construído”. Para acrescentar que com a Expo 98 o país e os habitantes não descobriram apenas a beira-rio, “mas também um espaço aberto e cujo único objetivo era olhar”. E esta foi uma experiência fundamental “que marcou a primeira, segunda e terceira gerações”.
O impacto não foi apenas em Lisboa, mas em todo o país. Mega Ferreira conta que depois da Expo 98 “polvilharam projetos de pavilhões multiusos um pouco por todo o país, chegando ao caricato de um autarca do Norte pretender “transplantar” o parque urbano do Tejo e Trancão, algo impensável perante a dimensão da cidade onde se iria inserir e perante os custos exorbitantes de manutenção, mas houve réplicas de mobiliário e as pessoas assumiram a Expo como exemplo. Mega Ferreira concluiu que “a Expo sobreviveu à vida efémera”.
O antigo gestor elogiou o regime de exceção criado para a zona na altura. Foi crucial na gestão do tempo e na abertura dentro da data prevista. “A mesa de licenciamento” aberta em Lisboa e Loures permitiu encurtar os tempos de decisão. Questionado sobre o melhor que pessoalmente retirou da Expo, disse ter sido a evolução dos trabalhos. “Na política é raro vermos o resultado do trabalho” e isto porque o tempo do mandato não é suficiente para ver o resultado da criação”. E este é o argumento de Mega Ferreira para não ter querido entrar na política, independentemente dos vários convites e preferir o trabalho onde tem tempo para ver os resultados.
Sobre Lisboa daqui a 10 anos realça apenas ser necessário “reequilibrar o crescimento da cidade”, para salientar que a cidade está num “movimento imparável” e que “não há nada como Lisboa”.