Governos serão cada vez mais importantes para a competitividade
“Na maioria dos países, o Governo empurra e o setor privado segue”– disse Arturo Bris na sessão de abertura do OWP 2018, que decorreu na semana passada, na sede do IMD, em Lausanne.
A importância crescente dos governos no aumento da competitividade foi a principal mensagem do diretor do IMD à audiência de mais de 400 executivos globais, vindos de todo o Mundo.
A importância crescente dos governos no aumento da competitividade foi a principal mensagem do diretor do IMD à audiência de mais de 400 executivos globais, vindos de todo o Mundo.
Para Arturo Bris, ao longo das últimas dezenas de anos, a competitividade tem sido baseada em dois sistemas diferentes. “Num primeiro sistema, temos o Governo, um setor público forte que puxa a economia através de regulamentações e de investimento público, e um setor privado que acompanha. Esse sistema está presente em países como a China, Singapura e alguns países europeus” - disse Arturo Bris.
Num segundo modelo, que tem sido mais bem sucedido, assenta numa atitude mais passiva do Estado que assume um papel de facilitador e permite que o setor privado faça crescer a competitividade. Para Arturo Bris, esta é a abordagem liberal da competitividade. Neste sistema, a função assumida pelo Estado é dupla: facilitar a criação de empresas através de um quadro legal adequado e estar presente nas situações de crise. Este é o modelo que encontramos em países como os Estados Unidos ou a Suíça. “A Suíça é o paradigma de um país onde o Governo não existe ou pelo menos onde não vemos o Governo “- disse Arturo Bris.
Apesar de até agora os maiores ganhos de competitividade ocorrerem nos países onde há menos intervenção do Estado, Arturo Bris considera que o papel dos Governos será cada vez mais importante nesta matéria.
“A perspetiva segundo a qual o Governo deve criar as condições para as empresas se desenvolverem já não está a ser praticada” – disse o diretor do IMD.
“A grande questão é: qual é a melhor forma de o setor privado e o setor público trabalharem em conjunto?” – acrescentou. Os ecossistemas da inovação precisam do Governo.
Para Arturo Bris, a competitividade deve ser entendida como a capacidade que as nações têm de criar riqueza e prosperidade para os seus cidadãos.
Tesla obteve financiamento público de 465 milhões
A importância crescente dos Governos na área da competitividade coloca as empresas privadas perante o novo desafio de propor cada vez mais parcerias e obter financiamento público ou garantias do Estado.
“O Governo americano assegurou à Tesla, SolarCity e Space X subsídios, incentivos e facilidades de financiamento por um valor global de 4900 milhões de dólares. A Tesla beneficiou de um grande financiamento público no valor de 465 milhões de euros”, – exemplificou o diretor do IMD. Em sua opinião, a dimensão dos investimentos e os riscos associados tornam indispensável o apoio público.
Mas, nem sempre o desfecho é positivo. Em 2009, a Solyndra, uma “start up” de painéis solares, obteve um financiamento de 535 milhões com garantia pública do Departamento da Energia. Foi à falência em 2011 e as perdas relativas a esse financiamento foram assumidas pelo Estado.
Para Arturo Bris, os Governos enfrentam o dilema da moeda ao ar: “caras, você ganha; coroas, eu perco”.
A inteligência artificial e os seus limites são, para Arturo Bris, uma área que requer a intervenção do Governo. O diretor do IMD citou Elon Musk ao afirmar quee a inteligência artificial é o maior risco que enfrentamos como civilização.
“A tributação dos monopólios criados pela tecnologia vai exigir políticas fiscais justas” – disse Arturo Bris, a propósito da perda de receitas fiscais ligada à atividade dos grandes grupos.
O papel do setor público será acrescido, pelos desafios colocados pela proteção de dados, políticas de privacidade e cibersegurança.
Para o diretor do IMD, a regulação será o primeiro fator a determinar quem vão ser os novos líderes nas áreas da “fintech” e “insurtech”. A prosperidade das nações obriga a uma grande convergência que ajude a resolver o problema das migrações em massa de pessoas que fogem das regiões de guerra e da pobreza.
O envelhecimento da população é também uma área onde a intervenção dos Governos se torna necessária. “À medida que a longevidade aumenta, só o setor público pode garantir a qualidade de vida dos idosos” – afirmou Arturo Bris.
Segundo referiu, os e-Governos, como é o caso da Estónia, vão ser uma atividade de expansão. A Estónia já está a prestar serviços que incorporam novas tecnologias a países menos desenvolvidos, como é o caso do Gana.
“Na era dos Governos, o foco não deve ser apenas o que pode ser controlado pelos governantes. Qual é o papel político dos grandes grupos? Só devemos delegar nos políticos as escolhas macro e políticas? Ser responsável não implica também ser politicamente responsável?” – questionou Arturo Bris.