“É preciso melhorar as condições para o investimento direto estrangeiro”
Portugal tem de melhorar as condições para o investimento direto estrangeiro (IDE), de acordo com o cabeça de lista do partido Iniciativa Liberal por Viana do Castelo às eleições legislativas de 6 de outubro, António Lúcio Baptista. “O IDE nos territórios nacionais tem sido prejudicado por custos de contexto muito elevados, nomeadamente demoras nas licenças, justiça lenta, grande carga fiscal, burocracia com documentos múltiplos. Aquilo que gostaríamos de propor para o distrito de Viana é, de certo modo, um agilizar de procedimentos, aquilo que em termos da Iniciativa Liberal tem sido chamado de ‘descomplicar Portugal’. Gostaríamos de ‘descomplicar’ o distrito de Viana do Castelo para poderem surgir oportunidades para o IDE, quer de empresas, quer de pessoas singulares, quer em investimento horizontal, quer em investimento vertical”, indica, em declarações à “Vida Económica”.
António Lúcio Baptista propõe “cortar de barreiras a novas empresas que se implantem no território nacional, nomeadamente no distrito de Viana do Castelo, para uma isenção ou minimização destas taxas, taxinhas e impostos durante três anos, permitindo assim às empresas alavancarem e arrancarem de uma forma saudável”.
O entrevistado, que é médico de profissão, dá o exemplo de “indústrias e empresas que produzem para a saúde, componentes, consumíveis e, porque não, farmacêuticas, podendo depois esses produtos serem não só consumidos, evitando importações, como poderem ser exportados para países terceiros”. Recorda que “Portugal despende mais de dez mil milhões por ano no seu serviço nacional de saúde e é praticamente um importador da maior parte dos consumíveis aí despendidos, ao contrário de outros países que produzem os seus próprios produtos e ainda exportam”. A nossa fonte não tem dúvidas de que “isso tem a ver com vícios da economia, com monopólios e com distorção do mercado”.
Aliás, acrescenta, “a saúde tem sido vista em Portugal e discutida como um setor de grande dispêndio financeiro e não tem sido tratada como um setor onde se podem criar produtos inovadores que alavancarão” as exportações. “Quando falamos de saúde, temos tendência a ter uma visão redutora sobre a prestação dos cuidados e não uma visão alargada sobre a produção de equipamentos e tudo o que está a montante e tudo o que está a jusante desta prestação, englobando-se centros, escolas, formação, equipamentos de alta tecnologia, consumíveis, farmacêutica, robótica, etc.”, explica.
Falta investimento na promoção da saúde
O médico considera, de resto, que o país investe pouco na prevenção e promoção da saúde. “Não tem cumprido o artigo 64 da constituição, que fala especificamente nas iniciativas para a prevenção e para a promoção da saúde, criar as condições para esse objetivo. O país tem estado focado na doença, o Serviço Nacional de Saúde tem sido o ‘Serviço Nacional de Doença’ e necessitamos agora de iniciativas para a prevenção e para a promoção”, considera.
“O século XXI vai centrar em novos paradigmas no aspeto da saúde, nomeadamente nos chamados autocuidados”, prossegue. “Esses autocuidados passam por consciencializar os cidadãos de que têm que tomar iniciativas de vida saudável para a promoção da saúde e que são responsáveis socialmente pela sua degradação e, neste caso, o Estado não terá uma interferência direta, mas vemos isto mais como uma visão liberal, partindo das próprias populações, criando as estruturas, muitas delas já existentes em espaços verdes, para a prática não só do exercício físico orientado como de autoavaliação periódica dos seus utilizadores”, defende António Lúcio Baptista.
Importância da educação e da ligação à Galiza
O cabeça de lista do partido Iniciativa Liberal por Viana do Castelo considera importante para a região a ligação à Galiza (ver caixa), mas também a educação, com o politécnico à cabeça. “Esta região Noroeste regista uma proporção de pessoal em investigação e desenvolvimento próxima de Lisboa. No entanto, a percentagem do Minho-Lima é pequena comparada com o resto. Neste sistema, chamado ecossistema de inovação, entram vários parceiros, as universidades, os centros de investigação, as empresas, as incubadoras, os parques de ciência e tecnologia, os municípios, associações empresariais, entidades de capital, estruturas de interface, etc. Considera-se imprescindível que todos estes atores colaborem, para além das suas fronteiras tradicionais”, explica.
A nossa fonte defende ser “absolutamente fundamental” levar o Minho-Lima para as restantes áreas da macrorregião. “É preciso tirar dividendos, nomeadamente da proximidade da universidade do Minho em Braga e Guimarães, um verdadeiro polo de investigação e ligação às empresas”.
O Instituto Politécnico de Viana do Castelo, que foi criado em 1980, tem seis escolas: Escola Superior Agrária, Ciências Empresariais, de Desporto e Lazer, de Educação, Superior de Saúde, Tecnologia e Gestão.
“Jovens sentem que só existem para pagar impostos”
“O Alto Minho tem muito para oferecer”, considera Maurício Antunes
Os jovens que vivem no Alto Minho têm orgulho em Portugal e na região, mas nem sempre se sentem bem tratados pelo Governo central. A opinião é do estudante Maurício Antunes. “[Sentimo-nos] distantes do país, pois temos a sensação que só existimos para pagar impostos. Todas as decisões e investimentos continuam voltados para Lisboa e ainda vivemos como no tempo do Império, em que precisávamos ir de chapéu na mão. Desejamos um país descentralizado que fortaleça as capacidades de cada localidade e devolva a possibilidade de os jovens viverem onde escolherem”, disse à “Vida Economica”.
Apesar desta realidade, Maurício Antunes salienta que “o Alto Minho tem muito para oferecer”. A região, recorda a mesma fonte, tem, atualmente, “uma taxa de empregabilidade alta, uma excelente qualidade de vida, um custo de vida baixo, instituições de formação profissional e ensino superior, proximidade dos grandes centros urbanos, muita cultura e uma saborosa gastronomia”.
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Mais de um terço da população portuguesa
no Noroeste Global
Viana do Castelo, como distrito, coloca-se na região que pode designar de Noroeste Global, que, segundo um trabalho realizado pela fundação Gulbenkian, corresponde a regiões do Minho, Lima, Cávado de Ave, Grande Porto, Tâmega, Entre Douro e Vouga e Baixo Vouga. Trata-se de uma macrorregião funcional. Dado que esta macrorregião não tem uma delimitação territorial, considerou-se para efeitos de análise que corresponde ao território do seguinte set NUT III. Esta região é importante porque concentra um conjunto populacional de cerca de 3,7 milhões de habitantes (36,5% da população) e corresponde a uma área de 10 800 km2.
“Nesta região, existe uma certa coisa regional e concentra esta região cerca de um terço da população do continente, destacando-se por oposição à evolução positiva que se verifica nos concelhos mais centrais e urbanos industrializados uma coroa periférica de municípios”, considera António Lúcio Baptista. “O Noroeste continua a constituir a grande concentração de emprego industrial do país, bem como universidades, institutos politécnicos, e tem vindo a polarizar a criação de ecossistemas de inovação, constituídos por vários níveis”, conclui o candidato da Iniciativa Liberal.
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Perfil:
Médico, investigador
e escritor
António Lúcio Baptista, cabeça de lista do partido Iniciativa Liberal por Viana do Castelo, é natural de Barcelos, e médico-cirurgião cárdio-torácico. Responsável da área de saúde na equipa Portugal 2040 da Iniciativa Liberal, é investigador e escritor ligado a projetos de investigação com o IPCA – Instituto Politécnico do Cávado e Ave e Universidade do Minho na área do laser médico, robótica e inteligência artificial, sendo membro emérito da direção da European Laser Association. Foi também docente na Faculdade de Medicina do Porto.
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Defende médico galego que trabalha do lado de cá
Políticas combinadas Portugal-Galiza são essenciais
A ligação Norte de Portugal-Galiza é essencial e deve haver políticas combinadas, de acordo com José Mouro, médico-cirurgião nascido em Santiago Compostela, onde está todos os fins de semana, mas que trabalha em Portugal há 15 anos.
O clínico salienta a importância de reforçar as sinergias entre as duas regiões através dos “clusters automóvel, têxtil, agroalimentar, turístico e digital (startups)”. A mesma fonte salienta que as exportações entre a Galiza e Portugal, que agora são favoráveis à primeira, “devem ser combinadas para uma política mais justa e liberal”.
Curiosamente, José Mouro fala em mais barreiras do lado de lá da fronteira do que do de cá. “Ao sul da Galiza está Andaluzia e não Portugal, isto é o que qualquer companheiro galego iria responder. Aqui temos um problema cultural imaginário. Na imaginação coletiva galega, há 30 anos que há fronteiras. Os galegos são nacionalistas, não europeístas”, lamenta a nossa fonte.
“Partilhamos uma língua que o português ‘moçarabizou’ e levou para o Brasil, Angola e Moçambique. Os galegos desprezam esta herança linguística imortal. Os galegos têm apenas uma saída, é aceitar a realidade, a geografia e a reunião sem prejuízos”, remata, sem “papas na língua”, José Mouro.
Ligação “muitíssimo importante”
A ligação entre o Norte de Portugal, com Viana do Castelo à cabeça, e a Galiza é histórica e “muitíssimo importante”, de acordo com António Lúcio Baptista. “Não esquecer que existem já nesta região projetos avançados a nível europeu, como por exemplo na área da nanotecnologia, em que existe uma ligação das universidades próximas, nomeadamente Braga e universidades da Galiza, Santiago e Vigo, tendo-se desenvolvido aqui uma região de excelência para a nanotecnologia que será exemplo para ser multiplicado a nível europeu”, refere o candidato pela iniciativa liberal pelo distrito de Viana do Castelo às eleições legislativas.
A mesma fonte salienta que “existem muitas outras oportunidades e este quadrilátero que envolve as áreas de Barcelos, Braga, Guimarães, Viana do Castelo são áreas de grande potencial intelectual, científico, das universidades e dos politécnicos e com centros tecnológicos”. O clínico considera, de resto, que “a proximidade das indústrias, nomeadamente a ligação das universidades às indústrias, é de uma grande importância, e a Galiza faz parte desta visão”.
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Visita a Estaleiros de Viana e Prédio Coutinho
O partido Iniciativa Liberal visita, hoje (dia 6), às 15 horas, os Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC), onde reunirá com a administração, e às 17 horas conversará com os moradores do Prédio Coutinho. As duas visitas contarão com a presença do líder do partido, Carlos Guimarães Pinto, e de António Lúcio Baptista, cabeça de lista da Iniciativa Liberal por Viana do Castelo. Após as visitas, o partido realiza, às 19 horas, no Hotel Rali, a apresentação pública dos candidatos do círculo de Viana do Castelo às eleições legislativas de 6 de outubro.
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Economia ligada ao mar deve ser acarinhada
Maria Helena Evangelista é a número dois da Iniciativa Liberal em Viana.
A economia ligada ao mar deve ser acarinhada, de acordo com Maria Helena Evangelista, vice-líder da lista da Iniciativa Liberal pelo distrito e especialista em questões portuárias. “Viana do Castelo, pela sua localização geográfica, foi sempre determinada por atividades ligadas ao mar. Teve, desde sempre, a atividade da pesca e a atividade do comércio marítimo que foram determinantes para o desenvolvimento da região, tendo, no século XX, também tido um forte incremento do seu desenvolvimento através da construção e reparação naval e da atividade de recreio e desporto náutico”, recorda.
A mesma fonte recorda que “o porto de Viana tem uma infraestrutura que lhe permite o seu funcionamento” nas quatro vertentes: comercial, pesca, construção e reparação naval e náutica de recreio e desporto náutico. “Estas atividades devem, naturalmente, ser acarinhadas e estar sempre presentes no que diz respeito ao desenvolvimento da cidade e da região”, defende Maria Helena Evangelista.
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Desporto como fator de atração
Viana tem ligação ao desporto marítimo.
Viana do Castelo conta com alguns centros de alto rendimento desportivo, nomeadamente na área da ligação ao mar, como o surf. António Lúcio Baptista defende que esses possam ser valorizados de várias formas, entre as quais a atração de turistas e residentes. “A criação de centros deste género é importante, uma vez que, dada a localização e o clima, pode atrair alunos e desportistas estrangeiros a radicarem-se ou a fazerem as suas formações no distrito”, refere.
O cabeça de lista do partido Iniciativa Liberal pelo distrito minhoto salienta, ainda, a importância do Instituto Politécnico de Viana do Castelo neste particular. “[Os centros de alto rendimento são] uma mais-valia e que está de acordo com a exploração das potencialidades geográficas, e ainda a possibilidade de se desenvolverem estudos científicos nessa área, nomeadamente na área da prevenção do risco, como já foi efetuado. Isto permite, por um lado, dar garantias de segurança aos utilizadores e ainda atrair turistas estrangeiros que praticam ou querem praticar a modalidade para poder aprender e dar aulas nestes centros do nosso país”, remata.
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