Agricultura: a grande ausente da campanha eleitoral
Kevin O’Leary é o mais conhecido dos investidores do programa Shark Tank, não apenas porque participou nas versões canadiana e norte-americana, mas porque tem uma caraterística muito particular: é o que mais ‘caro’ vende o negócio ou, neste caso, o mais rígido, não se coibindo, no entanto, de oferecer elevadas somas, quando se justifica.
Mas, apesar da fama de ‘Tio Patinhas’, O’Leary não se faz rogado em investir no que importa, tendo dito recentemente que se deve “investir em comida de qualidade, que a comida é o motor do nosso corpo e que devemos pensar bem no que ingerimos todos os dias”.
Isto serve para realçar que, apesar de o setor primário ser o que menos peso tem na economia, é o mais importante, porque sem ele não existem os outros. É ele que nos alimenta.
Por isso é por de mais relevante olharmos para a Agricultura com o respeito que este setor merece. Desde logo, porque deixou de ser o parente pobre da economia. Nos últimos anos, felizmente, o rendimento médio no setor tem crescido substancialmente.
Contudo, e não obstante o que já referi, em vésperas de uma eleição legislativa, a Agricultura é um tema ausente do debate, só havendo ruído relativo a alguns ‘faits divers’ de desinformação.
Para além disso, convém recordar que estamos prestes a finalizar um quadro comunitário de apoio e a negociar o próximo, com a Agricultura, mais uma vez, a não ter o destaque que é devido, principalmente porque será cada vez mais um setor fundamental num mundo em crescimento demográfico e com menos recursos, nomeadamente hídricos.
É imprescindível que pensemos estrategicamente para a década seguinte, que aproveitemos a disrupção tecnológica que está a ocorrer e que fomentemos as novas tecnologias, que irão oferecer métodos de produção mais eficazes, mais ecológicos e com potencial para gerar produtos mais saudáveis.
Indo um pouco mais longe, devemos igualmente refletir estrategicamente sobre que produtos devemos apoiar com maior afinco, porque, no final do dia, os produtos, tal como os serviços, não são todos iguais. Há uns com menor e outros com maior valor acrescentado. São os segundos que nos devem prender as atenções, é através da sua produção que será possível aumentar de forma considerável o rendimento médio do setor, com ganhos óbvios para a economia.
Ou seja, não interessa produzir o que outros conseguem produzir com maior valor acrescentado relativo do que nós. Importa, sim, saber extrair o maior rendimento líquido por cada euro de vendas, porque, numa economia globalizada, a questão da independência alimentar não é um fator determinante, salvo algumas exceções, mas sim quem terá mais rendimento para adquirir os alimentos nos vários produtores a nível mundial que os oferecem.