NOVA SBE é uma escola de dimensão e qualidade internacionais
“A ligação às empresas e organizações cria um ecossistema de cocriação de projetos de inovação empresarial e social” – afirma Rita Cunha. Em entrevista à “Vida Económica, a “deputy dean” da Nova SBE destaca o envolvimento de todos os atores – empresas, organizações sociais e governamentais, professores e alunos – no desenvolvimento economico e social da escola aquém e além-fronteiras, com um elevado número de estudantes internacionais.
O campus da Nova SBE em Carcavelos envolveu um investimento de 50 milhões de euros, sem recursios públicos disponíveis para o projeto, além da disponibilização do terreno por parte da autarquia. Apesar de ser uma escola pública, a Nova SBE apostou numa campanha de “fundraising” junto das empresas para concretizar o maior investimento de sempre na construção de um campus universitário em Portugal.
Vida Económica - Que balanço faz da expansão da Nova SBE com o novo Campus de Carcavelos?
Rita Cunha - A mudança para o novo Campus em Carcavelos abriu um novo período no desenvolvimento da escola. Por um lado, a arquitetura do campus, com a sua transparência e espaços interiores e exteriores, reforçou o propósito de sermos uma comunidade aberta ao mundo, inovadora e pautada pelos valores da diversidade e inclusão. Por outro lado, a sua dimensão permite-nos planear o crescimento gradual e sustentado dos nossos programas. Por exemplo, nesta altura de adaptação às normas preventivas associadas à pandemia, a dimensão permite-nos igualmente uma oferta dos nossos programas respeitando as normas de distanciamento social, sem diminuir o número previsto de alunos. Em terceiro lugar, a localização do campus, num dos concelhos mais inovadores do país, com uma praia e um horizonte de mar límpido, apela a uma experiência do aluno que é extremamente atrativa, nomeadamente para alunos internacionais. Finalmente, a ligação às empresas e organizações cria um ecossistema de cocriação de projetos de inovação empresarial e social, em que todos os atores – empresas, organizações sociais e governamentais, professores e alunos – se envolvem para o desenvolvimento económico e social, aquém e além-fronteiras.
VE - Apesar de a Nova SBE ser uma escola pública, foi possível haver uma forte participação de capitais privados no investimento?
RC - O novo campus nasceu de um objetivo de desenvolvimento num período em que Portugal atravessava uma profunda crise económica, não havendo recursos públicos para investir neste empreendimento. No entanto, a visão do Presidente da Câmara de Cascais, que concedeu o terreno, foi o estímulo acionador de uma campanha de ‘fundraising’ junto das empresas que acreditaram na missão e na liderança da escola para criar uma escola de negócios e de economia de dimensão e qualidade verdadeiramente internacionais. Não posso deixar de salientar o papel fundamental dos outros dois parceiros fundadores, Jerónimo Martins, e em particular Teresa e Alexandra Soares dos Santos e o Banco Santander. Com este grupo, iniciou-se um trabalho intenso de uma equipa, liderada pelo Prof. Pedro Santa Clara, que estabeleceu as parcerias com um número muito elevado de empresas e com amigos da escola nomeadamente, antigos alunos, em torno do propósito central – uma escola de excelência para o desenvolvimento do talento, empenhado na responsabilidade social e inclusão, na inovação e na colaboração com todos os parceiros empresariais, institucionais e individuais.
VE - O principal segmento da Nova SBE são os estudantes estrangeiros?
RC - Não diria que o principal segmento da Nova SBE são estudantes internacionais. Embora eles representem já uma percentagem bastante elevada da população de alunos, o nosso principal segmento são todos os alunos – sejam eles nacionais ou internacionais.
Programas atuais e relevantes para o mercado de trabalho
VE - Que fatores favoráveis permitem ao país exportar conhecimento?
RC - Nos nossos programas de licenciatura, mestrado e doutoramento a inovação é contínua. A Nova SBE tem uma grande agilidade na criação de “curricula” que inclui os temas mais atuais e relevantes para o mercado de trabalho, sem diminuir o rigor das componentes básicas indispensáveis ao ensino da economia e da gestão. Estes programas têm sempre um conjunto de disciplinas obrigatórias de grande exigência teórica e técnica. Mas, adicionalmente, os alunos têm uma grande flexibilidade na escolha de disciplinas opcionais que lhes permitem customizar o seu programa, de acordo com as suas preferências e motivações. Só nos mestrados existem mais de 150 disciplinas opcionais.
Nos últimos cinco anos, temos investido nas áreas da digitalização, de ‘data science’ e ‘analytics’, com a criação de um centro de conhecimento e investigação, mas também através de parcerias, como, por exemplo, com o Departamento de Informática da Faculdade de Ciências e Tecnologia, da UNL. Mais recentemente, para a área de gestão da hospitalidade e serviço, estabelecemos uma parceria de colaboração com uma organização internacional, o Westmont Institute.
Mas também há programas não conducentes a grau que são atrativos a nível internacional, nomeadamente através da nossa área de formação executiva, e ainda de programas com outras unidades orgânicas da universidade, como, por exemplo, um programa de empreendedorismo para lançamento de novos produtos e serviços de base científica, em parceria com o Instituto de Tecnologia Química e Biológica (ITQB) da UNL.
Resumiria estes fatores em três vertentes: rigor e excelência no ensino, diversidade e flexibilidade curricular e abertura contínua às novas tendências e necessidades do mercado de trabalho.
VE - A crise do Covid-19 comprometeu a atividade da escola em 2020?
RC - Todo o ensino foi afetado pela pandemia, em todo o mundo. De um dia para o outro, literalmente, as escolas foram obrigadas a mudar. Mas Douglas McGregor, que foi Professor no MIT, dizia: ‘um objetivo sem um plano é um sonho’. Na Nova SBE, tínhamos um plano para a eventualidade do fecho, que nos permitiu ter a tecnologia e dar formação aos professores e alunos antes da passagem para o ensino remoto. Todas as aulas e exames foram realizados, sem que houvesse paragem no funcionamento normal dos programas.
Do mesmo modo, temos feito um trabalho muito exaustivo de preparação do próximo ano letivo, para incluir diversos cenários e, assim, termos capacidade de responder adequadamente às eventuais circunstâncias que surjam.
Claro que o impacto da pandemia ao nível das pessoas e das suas famílias afetou profundamente a atividade da escola. Mantivemos o contacto com os nossos alunos, nacionais e internacionais, para os podermos ajudar e dar apoio psicológico. O nível de stress dos alunos, professores e staff aumentou. O trabalho online exige que o contacto e a comunicação com as pessoas sejam feitos de forma regular e frequente. Por exemplo, a certa altura, tivemos reuniões quinzenais online de Conselho Pedagógico com os representantes dos alunos, para clarificação das normas quanto às aulas e exames.
Neste momento, ainda não sentimos que o futuro dos nossos programas vá ser comprometido em número de alunos. As candidaturas têm aumentado, bem como a sua qualidade. Mas a incerteza mantém-se, em particular quanto à eventualidade de futuras vagas da pandemia.
Ensino superior terá vertente
presencial e vertente on-line
VE - Que reflexos vão resultar da crise sobre o Ensino Superior?
RC - Penso que haverá o reforço das escolas que tenham a capacidade para se ajustar a este cenário. E isso implica um repensar das metodologias de ensino. Não creio que a resposta seja a mudança para ensino totalmente online. Mas também acho que um ensino totalmente presencial não se adequa ao ensino superior do futuro; a coexistência de componentes assíncronas (online) e presenciais em algumas disciplinas e áreas académicas obriga os professores a definir de forma mais clara quais os objetivos de aprendizagem e a melhor forma de os transmitir, mantendo a personalização e identidade de cada professor. O desenvolvimento de competências humanas de reflexão crítica, de criatividade, de resiliência, de adaptação à mudança digital e de autonomia é crítico para que as escolas tenham impacto. As escolas que não conseguirem fazer esta transição irão, na minha opinião, perder relevância.
VE - A transformação digital está a mudar o sistema de ensino, reduzindo a necessidade de instalações físicas e alargando a área de influência das escolas fora das fronteiras?
RC - Como já mencionei, a transformação digital é uma realidade a que não podemos escapar. Mas não implica que a influência das escolas passe a estar necessariamente fora das nossas fronteiras. Implica, sim, que as escolas, dentro e fora das fronteiras, sejam capazes de demonstrar a sua excelência em termos de ensino neste novo mundo. Julgo que haverá escolas a perder influência dentro, mas também fora, das fronteiras e penso, e espero, que haja escolas dentro das nossas fronteiras a reforçar a sua influência, o seu impacto e o seu papel educativo, ao nível nacional e internacional, nomeadamente europeu.
A construção do campus de Carcavelos envolveu um investimento de 50 milhões de euros, financiado pelas empresas privadas e pelo Banco Europeu de Investimento.
A construção do campus de Carcavelos envolveu um investimento de 50 milhões de euros, financiado pelas empresas privadas e pelo Banco Europeu de Investimento.