“É essencial que as empresas se preparem para ser digitais”
Fazer evoluir os seus modelos de negócios e construir soluções que não apenas sobrevivam, mas que também prosperem no novo cenário de negócios que irá advir. Na opinião de João Moreira, CEO da Abaco Consulting, este é o grande desafio do momento para as empresas, que terão de apostar ainda mais na transformação digital dos seus negócios.
“Este ‘recomeço’ que agora se está a erguer será, sem dúvida, mais digital”, acrescenta.
Vida Económica - O impacto da atual crise obriga as empresas a tornarem-se mais competitivas?
João Moreira - Sim, sem dúvida. Para muitas empresas, este “recomeço” será bastante diferente daquilo que conheciam. É um facto que a Covid-19 veio impulsionar e, até mesmo, acelerar a transformação digital de muitas empresas e, neste sentido, tornou-se essencial que estas tenham capacidade para reinventar os seus processos e apostar ainda mais na transformação digital dos seus negócios, pois só assim conseguirão ultrapassar esta crise com que nos deparamos. O desafio agora é conseguirem definir e implementar medidas de forma a adaptarem-se a esta nova realidade, fazendo evoluir os seus modelos de negócios e construindo soluções que não apenas sobrevivam, mas que também prosperem no novo cenário de negócios que irá advir.
VE - Nessa medida o sistema de informação tem uma importância acrescida?
JM - Completamente. Este “recomeço” que agora se está a erguer será, sem dúvida, mais digital, quer na forma de fazermos negócios, quer nos processos organizacionais, sendo que a tecnologia desempenhará um papel ainda mais preponderante na vida das organizações. Apesar da evolução tecnológica que tem ocorrido nos últimos anos, ainda existem muitos entraves que limitam a nossa ação e que, na verdade, sempre fizeram parte do nosso dia a dia que nem paramos para pensar neles. Só agora, com as limitações que todos tivemos por causa da pandemia, é que realmente percebemos o quanto o digital é importante. Por exemplo, um simples pagamento por cheque obriga à deslocação de pessoas de duas entidades às suas empresas (e de uma delas ao banco), quando, na verdade, já utilizamos transferências bancárias há dezenas de anos. Isto para dizer que é urgente eliminar tudo o que não seja ágil, de forma a que nos permita ter um modelo de negócio rápido a reagir. É essencial que as empresas se preparem para serem digitais desde o processo de venda até ao início da expedição, desde a compra da matéria-prima até ao planeamento da produção, desde o recrutamento até aos modelos de compensação e progressão na carreira.
VE - Quais devem ser as prioridades das empresas em termos de métodos de trabalho e processos inovadores?
JM - Nada será como antes e isso é um facto. Por isso penso que a principal prioridade é não nos focarmos em voltar “ao que era antes”, mas sim adaptar-nos a uma nova realidade, com novas exigências, sendo que o importante é continuarmos a entregar aos nossos clientes o nosso trabalho com o mesmo nível de qualidade. É possível que as principais mudanças que iremos sentir sejam no modo como as empresas se irão relacionar, quer com clientes quer com parceiros ou colaboradores. Acho que já conseguimos todos perceber que somos igualmente eficientes em modo remoto. O facto de haver menos deslocações (menos tempo em viagens) vai permitir um aumento de interações diárias e o ritmo com que tomamos (ou recebemos) decisões irá acelerar. Perspetivo alguma pressão na capacidade de entrega e na necessidade de existirem ferramentas que nos permitam acompanhar esse ritmo.
Na mesma linha, julgo que o teletrabalho aumentará consideravelmente e assistiremos a uma diminuição do espaço útil de trabalho nos escritórios. A segurança nas redes e nas aplicações passa a ser uma preocupação e uma das principais prioridades para as empresas, assim como a sua capacidade para gerir o tráfego de grandes quantidades de informação. As ferramentas de monitorização e acompanhamento de saúde e segurança no trabalho vão definitivamente entrar na agenda, pois é necessário reagir rápido se acontecer uma situação semelhante.
No entanto, acho que a principal mudança está relacionada com o nosso alcance a nível de mercado. O modelo descentralizado de trabalhar e de negociar vai permitir que o nosso mercado passe efetivamente a ser global, uma vez que iremos fazer negócio de igual modo com um cliente português ou com um cliente em qualquer parte do mundo, uma vez que a transformação digital chegou a todos ao mesmo tempo.
Por outro lado, sem dúvida que é importante continuar a inovar, uma vez que constatamos hoje que a velocidade de transformação do negócio dos nossos clientes, e do mercado em geral, já não se coaduna com modelos de inovação fechados, exigindo uma abertura disruptiva como forma de acelerar este processo, apostando em redes e clusters que envolvem universidades, startups, fornecedores e clientes. Só assim poderemos acompanhar o ritmo e continuar a gerar valor para os nossos clientes na implementação de projetos a nível nacional e internacional.
VE - As soluções SAP estão mais dirigidas a médias e grandes empresas?
JM - Não necessariamente. Depende essencialmente do valor que uma empresa atribui ao seu sistema de informação e a sua importância para o exercício da gestão. O ERP em geral, e o SAP não é diferente, é o coração do sistema de informação de uma empresa, e um bom sistema de informação pode ajudar a crescer o negócio, a melhorar a eficiência da operação, a gerir eficientemente os seus ativos e a valorizar os recursos humanos. Aliás, foi esta situação que motivou a criação da Abaco Consulting, ao percebermos e identificarmos que este tipo de soluções podia ser dirigido e implementado também nas PME, ao contrário do que se fazia há 16 anos atrás. Neste sentido, em 2004, quando a Abaco foi criada, a sua estratégia passava pela implementação de soluções SAP nas PME da zona industrial do Porto, cidade onde foi fundada, uma vez que estas eram vistas, até então, enquanto empresas que não tinham dimensão para instalar o ERP SAP mas tinham as mesmas necessidades ao nível do seu sistema de informação para apoio à gestão.
VE - Como podem as empresas avaliar e gerir o retorno dos investimentos em sistemas de informação?
JM - À semelhança do que acontece com outros investimentos, há indicadores objetivos, tangíveis e outros cuja determinação de um valor exato é mais difícil. A título de exemplo, é frequente os nossos clientes, logo após a implementação do SAP, detetarem grandes mais-valias em áreas como a gestão stocks, quer de produto acabado quer de matérias-primas, que se deve ao facto de passarem a ter um sistema de informação integrado ou pela utilização de ferramentas ao nível do planeamento de produção. Nalguns casos, estes dados objetivos justificam só por si o investimento realizado. Por outro lado, temos valores intangíveis e difíceis de quantificar de forma objetiva, como sejam por exemplo a fiabilidade, robustez e qualidade da informação. Um exemplo concreto disso é o facto de em determinadas indústrias ser necessário/obrigatório ter a rastreabilidade dos lotes produzidos, incluindo todos os componentes que integram o produto final. Quanto vale ter esta informação integrada num único sistema e à distância de um “click” se for necessário acionar um plano de contingência? Qual seria o impacto no negócio de um cliente que demore dias a identificar qual o lote que tem um problema e quais os clientes que consumiram esse produto? Conseguimos avaliar de forma objetiva o retorno de um investimento desses?
Todavia, esta é uma perspetiva do passado, que olha para os investimentos em sistemas de informação como um custo para as empresas. Com a atual revolução tecnológica em curso, os investimentos em sistemas de informação podem ajudar a criar novos negócios ou a mudar os modelos de negócio das empresas. Os recentes desenvolvimentos ao nível da Inteligência Artificial são um bom exemplo disso, até mesmo a sua aplicação no apoio ao combate à pandemia como foi o caso recente com projeto apresentado pelo MIT.
Inovação tecnológica permite
estar um passo à frente
A Abaco Consulting tem um posicionamento diferenciado assente em três vetores: Posicionamento Vertical de Mercado, Inovação Tecnológica e Capital Humano. Posicionamento vertical, porque “a nossa oferta é focada em cinco setores de negócio onde temos conhecimento profundo de processos de negócio, trazendo valor acrescentado em relação a um integrador de software tradicional, focado apenas em tecnologia. No fundo, conseguimos diminuir a distância de conhecimento entre o cliente final e a empresa implementadora, traduzindo-se numa redução de risco, relevante para ambas as partes”, explica João Moreira.
Inovação tecnológica, porque “procuramos estar sempre um passo à frente na utilização das ferramentas SAP, como por exemplo o novo ERP SAP S/HANA. A Abaco Portugal foi a primeira empresa a ter clientes em produtivo nesta solução, assim como a Abaco Brasil foi a primeira a ter uma referência S/4HANA na América Latina.”
Capital Humano, “sendo o diferenciador mais subjetivo, é igualmente único no sentido de que dificilmente pode ser replicado. A diferenciação reside na cultura da organização, nos seus valores e na forma como interage com os seus clientes, colaboradores e parceiros”, conclui.
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