Cooperativa Ribadouro exporta 70% da produção
O mercado da exportação tem sido determinante para contrariar a tendência de quebra de preços nos vinhos. A Cooperativa Ribadouro, sediada em Sendim, no Parque Natural do Douro Internacional, já exporta 70% da produção, tendo no Brasil o seu principal mercado. Em entrevista à “Vida Económica”, Óscar Afonso destaca o papel da cooperativa na economia local.
Esta unidade é o maior produtor de vinhos da região Trás-os-Montes, tendo vindo a aumentar as exportações de forma sustentada.
Esta unidade é o maior produtor de vinhos da região Trás-os-Montes, tendo vindo a aumentar as exportações de forma sustentada.
Há alguns anos atrás, as exportações representavam apenas 10% das receitas da Cooperativa. Com o aumento das vendas para o Brasil, França, Noruega e Estados Unidos, as exportações valem mais de 2/3 das vendas. O mercado nacional representa apenas 30% e é cada vez menos interessante, pela concentração em grandes superfícies e preços inferiores aos da exportação.
O comportamento das exportações tem contrariado a queda no preço das uvas pago aos produtores. Na última campanha, o preço médio foi de J0,66/kg que é considerado satisfatório. A Cooperativa Ribadouro tem cumprido com os pagamentos previstos aos produtores, o que incentiva o cultivo, apesar do envelhecimento da população.
Os resultados conseguidos na exportação devem-se à boa imagem dos vinhos portugueses no estrangeiro. O trabalho de promoção externa desenvolvido pela Aicep e pela Viniportugal tem contribuído para valorizar os vinhos portugueses fora das fronteiras.
Vida Económica - Qual tem sido a evolução da atividade da Cooperativa Ribadouro?
Óscar Afonso - Uma evolução marcada por um passado de descapitalização, falta de recursos a todos os níveis, sem qualquer tipo de ajuda e com tudo por fazer. Embora limitados pelos recursos herdados, creio que a cooperativa está mais sólida hoje que há cinvo anos.
VE - O que pensa sobre o contributo da Cooperativa para o desenvolvimento da região?
OA - Determinante. As pessoas vão atrás da economia e a cooperativa é uma entidade criadora de valor. Pena que os políticos não entendam que é assim. Parece que temos de continuar a saga de transmontanos e beirões e que passa por ir à procura de melhores condições de vida.
VE - Tem havido um aumento do valor de mercado de produtos tradicionais e genuínos do Planalto Mirandês como o vinho e o azeite?
OA - Acho que não. No conjunto, não tem existido um aumento de valor sustentado. O valor de mercado é determinado anualmente em função da produção face ao ano anterior; por exemplo, no azeite, basta um aumento da produção em Espanha para o preço de venda cair abruptamente em Portugal, o que motiva o aumento de stocks disponíveis durante longos períodos, perda de qualidade do produto e preços muito baixos, como acontece atualmente. Embora, em anos anteriores, se tenham realizado feiras com foco nos produtos regionais, pois em muitos casos é a única montra de produtos locais, dado que não existe uma política de grupo, uma entidade “chapéu” que possa dedicar-se à promoção ao longo do ano e dar a conhecer fora de portas os produtos do planalto. A qualidade é reconhecida, depois falta, o que demasiadas vezes acontece, promoção, divulgação e essencialmente trabalhar em conjunto para beneficiar de alguma escala e ganhar com isso competitividade. Falta todo um trabalho a montante e também a jusante em termos de minimizar custos de produção. A este nível, releva-se a existência de pequenas parcelas de cultivo, difíceis de mecanizar, mas também a falta de uma união profissional das organizações existentes. Não faz sentido existiram no planalto 7-8 cooperativas dedicadas ao azeite, vinho, carnes autóctones e frutos secos, que replicam serviços e, por isso, perdem valor, que poderiam ser direcionados para a promoção e comercialização. É necessária uma reorganização conjunta que, face aos recursos existentes, só as câmaras municipais podem fazer.
Produtores com mais
de 100 toneladas de uvas
no planalto mirandês
VE - De que forma a cooperativa apoia os pequenos produtores para evitar o abandono das explorações e manter a atividade?
OA - Atualmente, não há, por parte da cooperativa, nenhuma medida que vise evitar o abandono das explorações, até porque o abandono resultante do envelhecimento da população acaba por ser uma consequência difícil de combater e um problema de âmbito nacional. No entanto, há alguns exemplos em que a iniciativa privada absorve as parcelas que sejam contíguas às explorações e facilmente mecanizáveis, o que aumenta a área de produção individual e diminuiu os custos de exploração, o que acaba por ser positivo em termos de produtividade e quanto ao retorno do investimento. Por exemplo, hoje há produtores com mais de 100 toneladas de uvas no planalto mirandês, mas, há 20 anos, era necessário juntar 3-4 dos maiores produtores de uvas para somar esta quantidade.
VE - É verdade que as cooperativas conseguem ter boa capacidade de produção mas revelam menos força no marketing e na venda dos produtos?
OA - As cooperativas são essencialmente unidades de produção, faltando em muitas delas, possivelmente na sua maioria, “dar o salto” para o campo comercial. Na sua origem, as cooperativas estavam apenas viradas para receção da produção dos seus cooperadores, num mercado pouco aberto ao exterior, em que os compradores tinham forçosamente que procurar produtos acabados junto das cooperativas. Atualmente com a globalização, a facilidade de importar e exportar para todo o mundo, a procura e a oferta foram alargadas. O que muitas vezes acontece é que as organizações não se adaptam a esta realidade e continuam à espera que os compradores venham bater à porta...
VE - Acha que a transição digital vai concentrar a produção e distribuição em grandes unidades ou abre novas perspetivas a unidades com menos dimensão?
OA - Creio que é uma incógnita, mas, como as grandes empresas podem beneficiar de economias de escala, considero que a tendência é para a concentração.
VE - Com a experiência na direção da cooperativa, quais são os principais ensinamentos que recolhe e transmite aos seus alunos da Faculdade de Economia do Porto?
OA - No fundo, serve para exemplificar teorias e procedimentos, acreditando que ganha mais a cooperativa com os ensinamentos usados nas decisões que vão sendo tomadas.
Professor de Economia dirige a cooperativa
Óscar Afonso é doutorado e professor associado com agregação da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP). Leciona nos três ciclos de estudos – licenciatura, mestrados e doutoramento. É membro fundador do NIFIP (Núcleo de Investigação em Finanças Públicas e Política Monetária, do OBEGEF (Observatório de Economia e Gestão de Fraude, sendo atualmente seu presidente), CEFAGE-UBI (Centro de Estudos e Formação Avançada em Gestão e Economia) e CEFUP (Centro de Estudos em Economia e Finanças da Universidade do Porto). É autor de livros, de diversos capítulos em livros, de mais de 90 artigos em revistas científicas internacionais, de inúmeros working papers e de comunicações em congressos internacionais. Colabora com diversos jornais e revistas da imprensa portuguesa – em particular, Público, Expresso, Visão, Dinheiro Vivo, “i”. Tem realizado trabalhos de consultadoria, como membro da equipa técnica e como coordenador. |