António Almeida Henriques: um adeus imprevisto;

António Almeida Henriques: um adeus imprevisto
A primeira conversa que tivemos com o dr. António Almeida Henriques foi em 2012. Naquela altura o dr. António Almeida Henrique era secretário de Estado da Economia e do Desenvolvimento Regional. Nessa conversa questionámos a utilização dos fundos europeus para financiar a despesa pública corrente no que nos parecia ser uma má prática seguida pelo governo em funções, na mesma linha dos governos anteriores.

O tema da conversa não era confortável porque colocava em causa a aplicação dos fundos europeus, deturpando a sua finalidade estratégica e perspetiva de longo prazo e comprometendo assim o desenvolvimento regional.
Com uma expressão serena e afável o dr. António Almeida Henriques disse-nos : “Sabe que o país está numa situação de resgate…”. Ao ser confrontado com a crítica, assumia as dificuldades da missão, os limites do possível, sem deixar de ser determinado em relação ao que devia ser feito, transparecendo franqueza, seriedade e sem ter qualquer sobranceria pelas funções que desempenhava no Governo. Era uma atitude de dedicação à causa pública interpretada de forma muito própria. A função era assumida com muitas obrigações e muito empenho pessoal mas conferia muito poucas prerrogativas ao contrário do que acontece com uma grande parte dos políticos e governantes.
Quando terminou as funções no Governo e foi eleito presidente da Câmara de Viseu, achámos que iria ser uma mais-valia para a região. Também aqui o percurso do dr. António Almeida Henrique era o oposto do habitual. Enquanto a maioria dos políticos encarava a presidência de uma autarquia como um trampolim para o Governo ou cargos ligados à Administração central, o dr. António Almeida Henriques dava o salto na direção contrária, assumindo o desafio da gestão e estratégia de desenvolvimento de um concelho do interior.
E de facto a região de Viseu tem-se destacado pelo número e qualidade de novos projetos em setores competitivos e inovadores. Contrariando o discurso habitual do interior esquecido e desfavorecido, o dr. António Almeida Henriques mostrava que ra possível atrair investimento nacional e estrangeiro, criar emprego qualificado, concorrendo de forma direta com as maiores cidades do lirtoral.
O último email que trocámos foi próximo do final do ano passado. Tínhamos previsto fazer uma conferência sobre a estratégia de desenvolvimento de Viseu. O dr. António Almeida Henriques respondeu de imediato sugerindo os temas mais relevantes : Os novos setores de atividade em Viseu, como as tecnologias de informação, saúde, ambiente e energia, a atividade da incubadora Vissaium 21, a disponibilidade de terrenos para a instalação de empresas e as medidas de apoio á actividade económica. A conferência iria ter uma participação alargada aos representantes das empresas e das organizações da economia social.
A declaração do Estado de Emergência atrasou a realização desta iniciativa.
A notícia triste do falecimento do Dr. António Almeida Henriques na manhã do domingo de Páscoa foi recebida com um profundo pesar e suscitou uma onda de solidariedade e reconhecimento pela pessoa invulgar que foi e pelo mérito do trabalho realizado. Infelizmente, o vírus perigoso e traiçoeiro não vitima apenas as pessoas idosas e debilitadas.
Para aqueles que tiveram oportunidade de conhecer o dr. António Almeida Henriques o seu desaparecimento cria um enorme vazio. De repente perdemos a sua visão inspiradora, a sua energia, as ideias únicas e excelentes e a capacidade para as executar.
Mas, continuamos a ter o seu vasto e valioso legado imaterial. O contributo do dr. António Almeida Henriques para o desenvolvimento da região e do país não terminou no domingo passado. O seu exemplo vai continuar a marcar e a influenciar. O seu empenho e dedicação terão que ser agora merecidos.
Apesar do desalento, e assim que as condições o permitirem, vamos tentar manter a realização da conferência com a agenda inspiradora que o dr. António Almeida Henriques nos transmitiu.
Sabemos que sem ele, o evento nunca será o mesmo. Mas, temos a esperança que o dr. António Almeida Henriques possa continuar perto de nós, estando apenas do outro lado do caminho.



JOÃO LUÍS DE SOUSA jlsousa@vidaeconomica.pt, 07/04/2021
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