Hotéis portugueses estão com preços a cima da média europeia;

Análise comparativa entre Lisboa, Porto, Faro e principais cidades europeias revela
Hotéis portugueses estão com preços a cima da média europeia
Os hotéis portugueses estão a praticar preços acima da média das  principais capitais europeias. De acordo com uma análise efetuada pelo jornal “Vida Económica”, tendo por base o portal Booking,com, os preços de quarto duplo nos hotéis de quatro estrelas em cidades como Lisboa, Porto e Faro já são superiores aos preços na maioria das cidades europeias.
Na análise efetuada pela Vida Económica no portal Booking.com – que agrega a oferta de mais de seis milhões de hotéis e unidades de alojamento em todo o mundo, incluindo mais de 900 hotéis em Portugal –  na data selecionada de 12 de agosto de 2022 existe disponibilidade para quartos em hotéis de quatro estrelas a partir de J101 no Porto, J79 em Lisboa e J193 em Faro, respetivamente.
Na mesma data, os preços mais baixos por quarto num hotel de quatro estrelas e nas mesmas condições de reserva são de J52 em Madrid, J69 em Roma, J79 em Berlim, J92, em Bruxelas, J105 em Paris, J123 em Barcelona e J139 em Londres (ver quadro).
 Além de os primeiros preços dos hotéis portugueses já estarem acima dos preços de várias capitais e cidades europeias, os preços médios dos bilhetes de avião para as cidades portugueses também são habitualmente mais elevados em comparação com outros destinos europeus.
Tendo em conta que o preço das passagens aéreas e do alojamento tem um peso significativo nas viagens parece haver uma tendência clara de subida. Nesta perspetiva, os visitantes estrangeiros que viajam para Portugal parecem dispostos a aceitar alojamento e passagens mais caras face a outros destinos europeus.

Oferta e procura determinam evolução dos preços
 Para Luís Mira Amaral, a oferta e a procura são decisivas na evolução dos preços dos hotéis.
Segundo referiu à “Vida Económica”,  considerando o pais como homogéneo para a atratividade turística, hipótese talvez simplificadora da diferença entre Lisboa e Faro (cidade versus região turística) mas não da diferença entre Lisboa e Porto (ambas cidades), preços mais baixos em Lisboa do que no Porto e em Faro parecem-se justificar-se pela lei da oferta e da procura, em que a oferta  face à procura será superior em Lisboa do que no Porto ou em Faro.
Para o antigo ministro da Indústria e Energia, a subida de preços é um fator positivo.
“Tem-se  muitas vezes afirmado que Portugal compete no turismo de baixa qualidade e baixo preço. Ao contrário, estes preços  parecem felizmente indiciar que  Portugal  já é competitivo num segmento de maior qualidade e de maiores rendimentos, estando os turistas dispostos a pagar  no preço um prémio de qualidade em Portugal em relação aos preços praticados nesses mercados com os quais competimos na oferta turística. Se não forem fatores conjunturais mas sim esse prémio de qualidade a justificar isso, os resultados serão sustentáveis” - conclui.

LuÍs Araújo, presidente do Turismo de Portugal, afirma
 Preços médios de Lisboa e Porto estão a convergir com os principais destinos europeus

Lisboa e Porto têm vindo a convergir nos últimos anos com os principais destinos europeus em termos de preço médio, já superando em 2019 cidades como Berlim ou Praga, mas abaixo de Genebra, Paris, Zurique, Londres ou Amesterdão – disse Luis Araújo à “Vida Económica”.
O presidente do Turismo de Portugal salienta que, de acordo com dados do Observatório do Turismo de Lisboa, o preço médio de um hotel de 4* na cidade de Lisboa foi, no primeiro trimestre de 2022, de 74,39J (-1,4% quanto comparado com 2019), recuperando quase totalmente da quebra registada durante a pandemia.
“O caso de Faro será um caso claramente distinto das cidades indicadas, na medida em que é um destino balnear, muito procurado nesta altura do ano e com tipologias de alojamento muito distintas de cidades do centro da Europa” – afirmou.
Segundo referiu, com base nos dados da STR Global, os preços da hotelaria na Europa em termos gerais têm vindo a subir nos últimos meses, sobretudo nos países do Sul da Europa, onde a retoma tem sido mais acentuada e onde o mercado reage de acordo com as leis da oferta e da procura, para além de os preços repercutirem os efeitos da inflação e, em especial, o aumento dos custos da energia.
 
Procura turística ultrapassa valores anteriores à pandemia
 “A procura turística para Portugal já está acima dos valores de 2019 e estimamos terminar o ano 2022 com um valor de receitas turísticas 4,2% acima das registadas em 2019” – salientou Luis Araújo.
Para o presidente do ITP, a tendência é positiva: “A sustentabilidade do modelo de desenvolvimento turístico em Portugal é um dos objetivos da política de turismo e está consensualizada com todo o setor, apontando para um crescimento em valor, alicerçado numa oferta turística de qualidade, respeitadora do ambiente e dos recursos e que crie valor e qualidade de vida para os residentes” - acrescentou.
Em sua opinião, Portugal tem vindo a consolidar--se como um dos destinos mais competitivos internacionalmente e onde reconhecidamente têm sido realizados investimentos significativos na qualidade da oferta turística (incluindo a hotelaria), atraindo novos mercados, segmentos mais elevados e marcas internacionais e grupos hoteleiros globais.
“Este facto tem permitido um aumento do gasto médio por turista, o que está alinhado com a estratégia que o setor defende no sentido de progredir cada vez mais em valor” - explicou.
Sobre a tendência atual de subida de preços, Luis Araújo é prudente: “Não temos dados que confirmem que os preços médios em Lisboa ou Porto sejam ou não superiores aos de outras cidades europeias, até porque se trata de um exercício que requereria uma análise fina ao tipo de destino, tipo de alojamento (hotel ou outro tipo de alojamento), à sua localização, o que varia muito de cidade para cidade, em função da sua oferta e da própria configuração urbana” – considera.  “Na verdade, nesta altura do ano, as cidades portuguesas têm um perfil mais turístico do que muitas cidades do Norte da Europa” – acrescenta.




João Luís de Sousa (joaoluisdesousa@grupovidaeconomica.pt), 28/07/2022
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