Montepio deve ser o farol da economia social;

Pedro Alves defende alargamento de serviços de proteção, previdência e poupança
Montepio deve ser o farol da economia social
 “O Montepio é viável e tem características únicas uma vez que se diferencia pelo facto de ser um banco mutualista” – salienta Pedro Alves.
“O Montepio tem no seu ADN o facto de ser uma instituição fundada em 1840 com mais de 180 anos e a componente de proteção e Previdência para além da componente poupança” – afirma Pedro Alves. O gestor e candidato da Lista D às eleições para o Montepio pretende inverter a trajetória de resultados desfavoráveis dos últimos dois anos e proporcionar o retorno adequado ao capital dos associados. Em entrevista à “Vida Económica”, considera que o mutualismo dá a resposta adequada às necessidades atuais em termos de serviços financeiros.
Através da profissionalização da gestão Pedro Alves pretende que o Montepio seja o exemplo para as instituições da economia social.
Vida Económica:  Quais são os principais objetivos da sua candidatura à liderança do Montepio?
Pedro Alves: A Associação Mutualista Montepio é a maior associação da sociedade civil em Portugal. Tem 600 mil associados e como tal representa uma enorme massa crítica e um potencial gigante de geração de valor que não tem não tem sido aproveitado nos últimos anos.
Nós assistimos a uma queda significativa dos capitais próprios da Associação Mutualista em base consolidada nos últimos anos a isto tem a ver com a evolução das perdas nas subsidiárias da Associação Mutualista e na própria Associação. Tudo isto é um ciclo que se combinou com dois anos seguidos de reservas às contas por parte do auditor externo. É um tema que nós pretendemos inverter e tendemos inverter desde logo impondo rigor gestão das subsidiárias, nomeadamente, na área de banca e seguros, revendo os planos de negócio dessas mesmas subsidiárias  com o objetivo de remunerar adequadamente os capitais próprios dos associados..  Esta é a vertente principal da ação que nós propomos para o mandato dos próximos quatro anos.  Queremos que a Associação Mutualista seja o farol da economia social e a maior entidade da economia social em Portugal.
Tem estado a arredada desse papel deixou de participar nos principais fóruns de
mutualismo quer nacionais quer e internacionais e de relação com as entidades da economia social.
Não posso deixar de referir que é com muita mágoa que vi a minha Associação de 600 mil pessoas a maior Associação da economia social completamente arredada no período de
confinamento da ajuda  aos profissionais de saúde e às pessoas.
Nesse mesmo período foi reduzido em 50%  o orçamento da sua Fundação que é habitualmente utilizado para acorrer às necessidades de outras instituições da economia social no que respeita à solidariedade.

VE: Os resultados desfavoráveis que referiu devem-se mais às condições do mercado que se tornaram adversas ou a erros de gestão?
P.A.:
Os resultados desfavoráveis devem-se aos dois fatores.
Há que ver na perspetiva não apenas do mercado mas também na perspetiva endógena que diz respeito diretamente ao que tem sido a condução da gestão das participadas.
Em termos exógenos a área da banca e a área dos seguros foram afetados pela última crise financeira.
Mas eu critico o facto de o Montepio  no caso do seu negócio bancário não ter recorrido a linha às linhas de capitalização pública de que foram disponibilizadas para a banca e de ter atrasado a limpeza do seu balanço.
De acordo com a informação que está publicada tem um nível de ativos improdutivos superior à média do setor bancário.
O banco é viável e tem características únicas uma vez que se diferencia pelo facto de ser um banco mutualista  e um banco de relação com pessoas e ter centenas de milhares de clientes.
Tem negócio e tem capacidade para poder gerar valor mas só o poderá fazer de uma forma
adequada libertando-se desses ativos improdutivos.
Na atividade seguradora passamos por um período de indefinição estratégica relativamente à seguradora de ramos reais que agora está a recuperar ligeiramente.
Mas a marca Lusitânia é uma marca forte  tem os seus públicos e tem capacidade de se tornar uma seguradora viável com capacidade de geração de valor.
 
VE: Quais são as vantagens que os clientes podem encontrar no Montepio face as outras alternativas que existem no mercado?
P.A.:
O Montepio tem no seu ADN o facto de ser uma instituição fundada em 1840 com mais de 180 anos e a componente de proteção e Previdência para além da componente poupança.
Nós sentimos que existe uma enorme capacidade por parte da Associação Mutualista de recentrar a vocação e benefícios nos dias de hoje e enfrentar um conjunto de desafios que
não existia no século 20 nem mesmo no século 19.
Tem a ver com a imprevisibilidade das alterações de circunstâncias que identificámos na pandemia e com as ambições dos mais jovens.
Hoje têm mais mobilidade, são nómadas digitais e por exemplo podem trabalhar em Portugal para uma multinacional no estrangeiro. Um dos aspetos que faz parte do nosso programa é reforçar o mutualismo no que diz respeito a cobertura de riscos de saúde.
Nós temos uma resposta muito completa no nosso programa de desenvolvimento do que é a oferta do Cartão Saúde. Queremos ir além de uma rede convencionada de prestação de serviços de saúde, diferenciando a Associação Mutualista das seguradoras que habitualmente apresentam as soluções deste tipo. alargando a idade limite para a subscrição e também reforçando a cobertura às diversas patologias que habitualmente não são cobertas pelas seguradoras.
Enquanto Associação Mutualista podemos ir mais longe noutros campos.  onsideramos que é fundamental melhorar a resposta das Residências Montepio que são o maior operador de residências seniores em Portugal.
As Residências Montepio não estão a beneficiar os associados no acesso ao sistema  porque uma parte muito significativa a da ocupação das residências  está comprometida coma  rede pública de cuidados continuados. É um contrassenso na medida em que o dinheiro dos
associados é aplicado nas residências mas depois esses associados têm dificuldade em aceder às mesmas.

VE: Em relação aos ativos improdutivos dos bancos existe uma pressão forte da entidades reguladoras para a sua venda no mercado.  Daí pode resultar o risco de aumento das execuções?
P.A.:
Estamos a falar de operações que estão registradas nos balanços dos bancos há algum tempo e portanto têm tido evolução termos constituição de imparidades.
A venda dos créditos obedece a um conjunto de regras de estão são muito direcionadas para este tipo de situações.
O que vai ter que acontecer é que muito rapidamente os bancos que estão operar no mercado devem apresentar rácios de ativos improdutivos sobre o total da carteira de crédito inferiores a 5%, por determinação da Autoridade Bancária Europeia.
O  Banco Montepio tem um rácio de 9,3%  e por isso deve reduzir significativamente esse valor. Está a  acontecer não só com o Montepio mas também com outros bancos no mercado.
Nós defendemos que a forma de redução dos ativos e improdutivos deve passar pela criação de um veículo que adquire esses créditos.
O veículo procura fontes de financiamento no mercado para poder suportar os custos e o tempo necessário para os recuperar. Não nos parece que possa haver alguma situação que possa pôr em causa a própria estabilidade do mercado uma vez que hoje já existem mecanismos de financiamento deste tipo de atividade de recuperação de ativos improdutivos assim como existem investidores e várias empresas especializadas nesta área de trabalho.
 
VE: Ao contrário do que acontece com outros países do centro e Norte da Europa porque é que em Portugal o mutualismo tem um peso reduzido?
P.A.:
No centro e norte da Europa em que o associativismo está mais presente e as entidades da economia social acabam por ter um protagonismo maior que em Portugal.  Está estimado pelo próprio Instituto Nacional de Estatística que a economia social representará cerca de 6,5% do valor acrescentado bruto na economia nacional.
Existem outros países onde esse valor é mais do dobro chegando até aos 15%.
Existe aqui um espaço grande no sentido de desenvolver e profissionalizar a economia social que é o que aconteceu os países da Europa central e nos países do norte da Europa.
Há um caminho muito importante a percorrer em termos de profissionalizar a gestão das entidades da economia social.
O que nós vamos fazer é profissionalizar a gestão da Associação Mutualista Montepio no sentido de ela poder constituir também o exemplo para as outras instituições da economia social.
É por isso que a lista D  se apresenta às eleições sendo composta por profissionais de gestão com provas dadas que já geriram e gerem outras empresas e outras instituições, tendo a experiência de  geração de valor e resultados positivos.
Susana Almeida, 15/12/2021
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