Porto Seco da Guarda “encalhado” no Governo;

Carlos Alberto Monteiro, presidente da Câmara da Guarda, critica lentidão administrativa central
Porto Seco da Guarda “encalhado” no Governo
“Quando o Governo desbloquear o Porto Seco, toda a fileira logística da região dará um enorme salto ao redor da Guarda”, afirma Carlos Alberto Monteiro.
O Porto Seco da Guarda é o “projeto-estrela” da câmara municipal para dinamizar a economia da região. Mas tarda em ser aprovado pelo Governo. Carlos Alberto Chaves Monteiro, presidente da autarquia, afirma que se trata do “mais estruturante projeto para o desenvolvimento da Guarda e de todo o Interior norte do país”.
“Na Câmara sentimos que todo o tecido da região está comprimido, tenso como uma mola, para se expandir quando o Porto Seco for uma realidade”, acrescenta.
Sobre a execução do Portugal 2020, considera que poderá ser o maior falhanço do Governo de António Costa.

Vida Económica - O que pensa sobre as prioridades de desenvolvimento do concelho da Guarda?
Carlos Alberto Monteiro - Na Câmara Municipal da Guarda estamos a trabalhar em várias frentes em simultâneo.
Temos tido sucesso nas negociações para atrair para a Guarda fábricas de meios de transporte ligados à mobilidade elétrica para laborarem ao lado das empresas de componentes automóveis. Só este ano, em projetos apoiados pela Câmara, vão ser criados 300 novos empregos da multinacional Sodecia, que está a ampliar a sua produção industrial na Guarda: há a garantia de que mais postos de trabalho se seguirão.
Abrirá também uma nova unidade de cablagem automóvel, responsável por mais 50 empregos qualificados. Duas unidades de mobilidade elétrica – uma de bicicletas híbridas, outra de componentes automóveis – serão igualmente responsáveis por mais 150 empregos qualificados cada uma – ou seja, 300 no total. Outra fábrica de indústria elétrica automóvel contratará, até dezembro, entre 80 e 100 profissionais.
Ao mesmo tempo, estamos empenhados na criação de agricultura empresarial na parte alta do concelho. É uma aposta nas gerações mais jovens com vocação empresarial agrícola, para produzirem produtos endógenos com valor de mercado, como os mirtilos, a cereja, a maçã, a castanha ou a batata.
 A economia da Cultura, que tem uma relação estreita com o Turismo, é outra das prioridades para os próximos quatro anos. Temos em marcha a instalação de uma coleção muito relevante de arte contemporânea num edifício emblemático do centro da Guarda, a Coleção António Piné. E estamos também apostados na ligação rodoviária direta da cidade da Guarda ao maciço central,  bem como na expansão dos Passadiços do Mondego, um conjunto de rotas pedonais que estão a ser desenvolvidas e que são fundamentais para a inserção da Guarda nos roteiros turísticos da Serra da Estrela. Dito isto – que é o que está na esfera de competências diretas da Câmara e que está a produzir efeitos –, falta falar no que será o mais estruturante projeto para o desenvolvimento da Guarda e de todo o Interior norte do país: o futuro Porto Seco da Guarda!
Ou seja: a possibilidade de na Guarda passarem a ser despachadas ou levantadas mercadorias com as mesmas facilidades logísticas, alfandegárias e fiscais oferecidas pelos portos do litoral.
O problema é que o Porto Seco está dependente do Governo e de entidades por ele tuteladas. Ao contrário da Câmara, o Governo tem sido de uma enorme lentidão nos seus processos. A Câmara tem feito tudo para sacudir o torpor do Governo e fazer o projeto andar!
 
VE - O Porto Seco vai dinamizar o setor logístico e acelerar o crescimento da região?
CAM - Quando o Governo desbloquear o Porto Seco, toda a fileira logística da região dará um enorme salto ao redor da Guarda.
Na Câmara sentimos que todo o tecido da região está comprimido, tenso como uma mola, para se expandir quando o Porto Seco for uma realidade. A única coisa que é necessário é que o Governo tenha a vontade de passar das palavras aos atos, o que não demonstrou nos últimos seis anos.
 
VE - Que vantagens apresenta o concelho na captação de investimento?
CAM - Para captar investimento para a fileira da logística, como o que o Porto Seco exige, as vantagens da Guarda são imensas – e únicas!
Falo da confluência de três autoestradas:  o IP2 Bragança-Guarda; a A25 Aveiro-Espanha; e a A23 Lisboa-Guarda.
Falo da confluência ferroviária da Linha da Beira Alta e da Linha da Beira Baixa – aliás, é essa confluência que irá permitir continuar a trocar mercadorias com a Espanha e o centro da Europa através da Linha da Beira Baixa enquanto a Linha da Beira Alta estiver em obras.
Falo do interesse do Porto de Leixões em expandir a sua influência para a zona da fronteira de Portugal e Espanha, criando um eixo mercantil rodo-ferro-portuário entre a Guarda e a Área Metropolitana do Porto.
Falo das empresas de logística muito competitivas que estão instaladas no concelho e na região da Guarda, nomeadamente na atual Plataforma Logística.
Falo das competências científicas nesta área da Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico da Guarda.
Todos estes são fatores com enormes vantagens competitivas que a Guarda possui!
 
Turismo no interior não tem falta
de procura
 
VE - Considera que o turismo na região vai recuperar e crescer?
CAM - Vai crescer seguramente, porque não desceu nem com a pandemia!
O setor do turismo no Interior – e em particular na região da Guarda – mostrou-se muito resiliente às paragens e às quebras de atividade de muitos setores da economia por causa da pandemia da Covid-19. Muitas famílias se deslocaram para a nossa região, acentuando a sua competitividade turística. No verão de 2020 bateram-se todos os recordes de procura turística, hoteleira e de restaurantes!
Ou seja, não existe no nosso território, e em particular no nosso concelho, qualquer problema de procura turística. O que temos é de alargar e de qualificar a nossa oferta!

VE - Que balanço faz do Portugal 2020 em termos de apoio ao investimento da Administração Local?
CAM - O balanço, infelizmente, não é famoso em termos gerais. O Portugal 2020 está em risco de se transformar num dos maiores fracassos do Governo de António Costa. Segundo os números que o Primeiro-Ministro levou ao plenário do Conselho Económico e Social em 23 de fevereiro – números esses que ficaram plasmados na versão final do Plano de Recuperação e Resiliência entregue em Bruxelas (PRR) –, estão por executar 11,2 mil milhões de euros do Portugal 2020, quase metade dos 23 mil milhões originais disponíveis desde 2015!
Isto é muito negativo. Num país com tantas necessidades, em seis anos só se conseguiu executar cerca de metade do dinheiro que estava – e está – à disposição em Bruxelas. É preciso fazer muito melhor.
 
VE - De que forma a autarquia pode contribuir para a criação de emprego e estimular a iniciativa privada?
CAM - Da forma como a Guarda tem feito, passe a imodéstia: atraindo investimento direto para o concelho, boa parte estrangeiro, e criando empregos muito qualificados e bem pagos. E também fazendo em relação às verbas europeias o contrário do que o Governo está a fazer: a Guarda está preparada – com visão estratégica, com estudos, com projetos e com parcerias – para aplicar rapidamente de forma produtiva, inclusiva e sustentável, os fundos europeus do que falta executar do Portugal 2020, do que vai chegar em breve do Plano de Recuperação e Resiliência – PRR – e, também, do futuro Portugal 2030.
 
Reabilitação urbana em várias frentes
 
VE - Quais são as prioridades na vertente da reabilitação urbana?
CAM - Também na reabilitação urbana a Câmara da Guarda atua em várias frentes ao mesmo tempo.
Estamos a qualificar a cidade da Guarda em termos urbanísticos, tornando o seu centro mais atrativo e mais confortável para quem cá vive.
A Câmara adquiriu casas na Praça Velha, ao lado do edifício dos antigos Paços do Concelho, onde funciona hoje a Comunidade Intermunicipal. Aí iremos instalar o “Solar dos Sabores”, um espaço inspirado em ambientes que animam os centros históricos das principais capitais europeias.
Ao mesmo tempo estamos a investir na reabilitação da Judiaria da Guarda, uma das mais antigas de Portugal. Vamos habilitá-la para ser o centro do eixo de turismo religioso Trancoso-Guarda-Belmonte.
Estamos também a reabilitar o eixo Torre dos Ferreiros (onde instalámos um elevador panorâmico) – Rua Tenente Valadim – Rua do Encontro, assim como o eixo Av. Afonso Costa – Av. Alexandre Herculano – Rua Soeiro Viegas.
Por outro lado, vamos fazer um investimento estratégico nos próximos quatro anos para reabilitar habitação social, construir mais 60 casas novas com o mesmo fim e lançar a construção de 100 novas unidades de habitação jovem, a preços controlados.

Susana Almeida, 22/07/2021
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