2019: o ano do otimismo;

2019: o ano do otimismo
 ‘Transformar’, ‘cocriar’, ‘consolidar’, ‘crescer’. Estas foram algumas das palavras que os gestores das empresas de tecnologias de informação com presença em Portugal utilizaram para classificar as suas expectativas para 2019. Independentemente do ramo de atuação, é transversal um sentimento de otimismo no discurso dos vários responsáveis. 
As empresas de tecnologias de informação (TI) a operarem em Portugal estão confiantes no ano que agora entrou. Falam em transformação, em consolidação das estratégias e em fazer crescer o negócio.
As consultoras são mais moderadas no otimismo demonstrado pelos players. A Gartner diz que os departamentos de TI deverão globalmente gastar 3,8 biliões de dólares em 2019. O número representa um crescimento de 3,2% em comparação ao gasto estimado para 2018, mas apresenta um ritmo menor que de anos anteriores. Ou seja, apesar de os investimentos continuarem a crescer, há diminuição no ritmo. O crescimento de 2017 foi de 3,9% e o crescimento do ano passado fechou nos 4,5%. A previsão de 3,2% para 2019 fica, portanto, abaixo dos últimos dois anos.
Em Portugal, a IDC estima que o mercado de tecnologias de informação terá atingido quase 3,5 mil milhões de euros em 2018, um crescimento de 2,2% face a 2017. Para 2019, as previsões da consultora apontam para 3,65 mil milhões de euros, um crescimento de 4,6%, influenciado pela forte evolução em aplicações de software, infraestrutura tecnológica, assim como pela recuperação dos dispositivos.  
 
Consolidação sustentável
 
Para a DellEMC, 2019 vai ser o ano da consolidação da sustentabilidade do crescimento. Mas não só. Vai ser ainda o ano da continuação do processo de digitalização do universo empresarial. De acordo com o estudo realizado pela Dell e pela Intel, o “Digital Transformation Index”, Portugal tem cerca de 15% de empresas que, de acordo com determinados critérios, já aplicam a transformação digital ao seu negócio. “Este ano será o ano de consolidação desse processo. Este é o ano em que uma percentagem exponencial das empresas portuguesas poderá chegar ao final do ano com o dobro da percentagem das empresas que já transformaram o seu negócio”, revelaram Gonçalo Ferreira e Isabel Reis, gestores da DellEMC. Para ambos, o processo de digitalização da economia já começou e é inevitável: “A nossa estratégia está totalmente integrada e adaptada. É uma questão de sobrevivência e competitividade. Logo, sendo inevitável, não é uma opção”.
A empresa norte-americana pretende continuar a crescer ao mesmo ritmo dos últimos anos, um crescimento que deverá ser local e internacionalmente, em todas as vertentes do negócio. “Será assim consolidada a posição da DellEMC no mercado, depois da reentrada na Bolsa como a maior empresa de soluções de TI”.
 
IA marca tendência
 
O tema ‘inteligência artificial’ também foi destacado como tendência para 2019 pelas empresas contactadas. Miguel Coelho, country sales manager da Lenovo Portugal, justificou esta escolha com o facto de a IA ser uma tecnologia cada vez mais valorizada pelo consumidor, considerada fundamental para enfrentar as exigências da transformação digital na sociedade atual. “Acredito que no próximo ano esta tendência vai manter-se, senão mesmo aumentar. Por este motivo, a Lenovo vai continuar a acelerar a implementação de iniciativas de Inteligência Artificial e, deste modo, responder de forma integrada aos vários desafios da digitalização”.
Miguel Coelho acredita que as empresas vão investir maioritariamente em tecnologias como a inteligência artificial, a IoT e a cloud: “Seja qual for a área de atividade, é inevitável que, durante este ano, uma parte significativa do investimento seja alocado para estas tecnologias. Por isso, estou bastante otimista em relação ao próximo ano”.
Na Lenovo, a “promessa” é continuar a desenvolver tecnologias e produtos que respondam às diversas necessidades dos clientes e que impactem cada vez mais a experiência do utilizador. “Neste âmbito, destaco a segurança, a mobilidade, o carregamento rápido, a redução de moldura de ecrãs ou o acesso rápido como algumas das características inovadoras nas quais a marca vai continuar a apostar ao longo do ano 2019, tanto no âmbito profissional como pessoal”.
 
A vitória da cocriação
 
‘Cocriação’ é a palavra-chave destacada pela Fujitsu para os próximos doze meses. Susana Soares, diretora de marketing, esclareceu que a transformação digital que o setor empresarial atravessa coloca inúmeros desafios aos gestores, que têm de tirar, rapidamente, o melhor partido das novas potencialidades da inteligência artificial, “machine learning” ou “blockchain”, disponibilizando aos seus colaboradores as melhores ferramentas para estes tomarem decisões mais céleres e acertadas junto dos seus clientes: “Com um modelo de cocriação, as empresas podem acelerar todo este processo, ao integrarem modelos e tecnologias previamente testadas com sucesso, adaptando-as às suas necessidades específicas”.
Para 2019, a expectativa de Susana Soares prende-se precisamente com a capacidade de as organizações aprenderem as vantagens de uma economia de partilha de conhecimento que a Fujitsu defende há já algum tempo. “A cocriação assume uma grande relevância com novas tecnologias que geram, necessariamente, novas oportunidades de negócio e grandes mudanças nos processos de trabalho das organizações”.
Quanto aos receios para os próximos doze meses, um dos grandes desafios destacados pela diretora de marketing é a escassez de recursos competentes para lidar com as novas valências que a inteligência artificial ou o blockchain podem proporcionar às empresas: “Mais que administradores de sistemas, especialistas de dados ou peritos da datacenters, as empresas têm de encontrar parceiros tecnológicos que lhes permitam acelerar os processos de negócio e, nesse domínio, a cocriação pode representar uma enorme vantagem competitiva”.
 
Ano de aniversário
 
Para o SAS Portugal, 2019 tem um atrativo-extra, já que a empresa norte-americana comemora 25 anos de presença no país. Ricardo Pires Silva, diretor executivo, diz que este é o ano “de fazer boas perguntas e de ser ainda mais curioso”. Isto porque, justifica o gestor, a tecnologia hoje ao nosso dispor – desde a analítica avançada à inteligência artificial ou ao IoT – terá as nossas respostas. “É na procura das perguntas certas, e formuladas da maneira certa, evitando vieses, que está muito do potencial sucesso para os desafios que temos pela frente”. 
Ricardo Pires Silva defende que, se, historicamente, a analítica avançada resolveu conhecidos desconhecidos (“known unknows”), a abundância de dados e a computação acessível permitem treinar modelos complexos que servem de base para que a inteligência artificial encontre novos padrões, novas possibilidades, novas vantagens competitivas e possamos então responder a desconhecidos desconhecidos (“unknown unknowns”).
 
Sol entre as nuvens
 
David Afonso, vice-presidente senior da Primavera BSS, assumiu o seu otimismo quanto ao ano que agora começa, apesar de vislumbrar algumas nuvens no horizonte: “Por um lado, temos uma oferta muito alinhada com as tendências de crescimento, em particular, no domínio da cloud. Por outro, as soluções que lançámos recentemente estão a ser bem-recebidas pelo mercado e temos planos para disponibilizar novas ofertas cloud, altamente inovadoras e diferenciadoras”.
O vice-presidente – que espera que a conjuntura internacional não se degrade – realçou a expectativa que tem face ao grande lançamento que a empresa irá fazer este ano: a nova geração do ERP Primavera: “Uma oferta cloud, completamente desenhada de raiz, e que permitirá às empresas tirar o máximo partido da nuvem e dos novos paradigmas, como a inteligência artificial”.
 
Regresso à “normalidade”
 
O ano 2019 vai ser marcado pelo regresso a alguma “normalidade” por parte da HP Portugal. José Correia, managing diretor, explicou-nos que os dois últimos anos trouxeram um crescimento “pouco normal”, motivado por um “forte crescimento do mercado de consumo em 2017 e do mercado de PC empresariais em 2018”. Portanto, para José Correia, é expectável que se verifique “alguma correção” desta tendência durante o ano de 2019.
Quanto a expectativas, José Correia diz ter alguma curiosidade em perceber se o ligeiro crescimento económico e o aumento do rendimento disponível das famílias, motivados pela diminuição do desemprego e perspectivas de aumentos salariais, se irão traduzir em duas realidades. José Correia aponta “um aumento do consumo privado” e um “aumento do consumo público em ano de eleições”, que irá dar “prioridade à necessária continuidade da renovação tecnológica dos últimos anos”.
Para 2019, e do ponto de vista interno, José Correia receia que o abrandamento económico que se começa a sentir seja superior às previsões que conhecemos. Do ponto de vista internacional, o receio é que a escassez ou falta de disponibilidade de alguns componentes tecnológicos possa fazer abrandar o mercado de computação.

SUSANA MARVÃO s.marvao@vidaeconomica.pt, 01/03/2019
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