Portugal desce na competitividade mundial;

Ranking do IMD evidencia aumento da vulnerabilidade
Portugal desce na competitividade mundial
Portugal perdeu seis posições no ranking mundial da Competitividade do IMD. De acordo com a edição de 2019 do ranking do IMD, que acaba de ser divulgada, o nosso país baixa do 33.º para o 39.º lugar, registando a maior queda entre o total de 63 países avaliados.
Ao descer seis posições face ao ano anterior, Portugal é ultrapassado por Espanha, Eslovénia e Polónia.
“A situação de incerteza que resulta do Brexit, das eleições europeias e da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China está a ter um efeito negativo sobre a competitividade dos países europeus” – afirma José Caballero. Em declarações à “Vida Económica”, o economista chefe do IMD refere que entre os países da União Europeia apenas a Suíça, Islândia e Irlanda melhoraram a sua posição no ranking. A Espanha, Suécia e Chipre mantiveram as suas posições face aos outros países. A Noruega perdeu três posições ficando fora do top ten mundial. A primeira posição do ranking é ocupada por Singapura. Hong Kong e os Estados Unidos posicionam-se na segunda e terceira posição.
No último lugar do ranking continua a estar a Venezuela, com a Argentina por perto.  A Grécia, em 58.º lugar, e o Brasil em 59.º lugar, estão também entre os países com a avaliação mais negativa em termos de competitividade.
Em relação a Portugal, o economista chefe do IMD refere que a queda da competitividade se explica em parte pelo fator Eficiência do Governo, com as Finanças Públicas na 53.ª posição e a Política Fiscal a cair quatro lugares, para a 51-ª posição. Assim, a política fiscal seguida nos últimos 12 meses é considerada como um dos fatores desfavoráveis à competitividade.
O ranking revela, em relação a Portugal, uma tributação de IRS muito acima da média mundial, colocando o nosso país em 58.º lugar. A tributação do consumo coloca também o nosso país em posição desfavorável.  A Taxa Social Única que incide sobre as empresas corresponde ao 49.º lugar, significando que os empregadores têm encargos sociais acima da média mundial.
Entre os fatores de vulnerabilidade da economia portuguesa, o ranking do IMD refere a pouca resiliência da economia, o investimento, e o preço dos combustíveis.
Na avaliação do IMD, a atuação do Banco de Portugal é também um dos fatores mais negativos para a competitividade, com uma queda de 14 posições para o 42.º lugar. A política do banco central é considerada como tendo um impacto negativo para a economia.
O fator Eficiência das Empresas revela uma quebra da produtividade e eficiência. A evolução do mercado de trabalho é sentida como particularmente negativa, com uma queda de 18 posições no ranking do IMD. Nas práticas de gestão, Portugal cai do 41º para o 54º lugar. Nos valores e atitudes a descida é também acentuada, passando o país da 18º para a 31ª posição do ranking.
 
Falta de formação profissional



O reduzido investimento em formação profissional surge no ranking do IMD como o aspeto mais negativo em termos de Eficiência das Empresas. Neste critério Portugal ocupa a 58.ª posição no total de 63 países. O baixo nível de formação profissional deve-se à concentração do investimento público na formação de jovens e desempregados, em detrimento da formação de ativos, e à falta de instrumentos de financiamento da formação ao dispor das empresas, apesar de a formação profissional ser obrigatória em todas as empresas.
Apesar do défice de formação, o ranking avalia de forma positiva a qualificação da força de trabalho, assim como os níveis de remuneração. Também entre os fatores positivos está o total de horas trabalhadas, onde Portugal se posiciona em 27.º lugar mundial.
Pelo contrário, em vários critérios Portugal posiciona-se abaixo da 50.ª posição, traduzindo uma tendência desfavorável. “É o caso da agilidade das empresas, onde Portugal cai 24 posições, a credibilidade dos gestores, com uma quebra de 20 posições, e a flexibilidade e adaptabilidade, com uma perda de 5 posições.
Entre o leque de fatores abaixo da 50.ª posição está também a dívida das empresas, as práticas de auditoria e contabilidade e a responsabilidade social.

Portugal continua a reduzir apoios 
às empresas públicas e privadas

O ranking do IMD de 2019 revela uma nova redução dos subsídios do Governo às empresas públicas e privadas, reforçando a última posição entre os países da União Europeia.
Com base nos dados do IMD e da OCDE, o nosso país aplica apenas 0,40% do PIB em apoios governamentais às empresas, o que é negativo para a recuperação do investimento.
O valor médio de subsídios do Governo às empresas públicas e privadas é 1,18% no conjunto de 63 países avaliados pelo ranking do IMD. Ou seja, em Portugal o valor dos apoios corresponde a cerca de um terço da média mundial. Apenas sete países no mundo têm um valor de apoios ás empresas inferior a Portugal, sendo um deles a Venezuela.
Todos os países da União Europeia têm níveis de níveis de apoio às empresas acima de Portugal e a maioria dos Estados membros está com valor superior à média mundial.
A redução dos apoios governamentais às empresas públicas e privadas deve-se à falta de incentivos com financiamento nacional e também aos baixos montantes de fundos europeus que são convertidos em apoios efetivos às empresas.

 


João Luis de Sousa, jlsousa@vidaeconomica.pt, 30/05/2019
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