Portugal 2020 precisa de ajustar execução;

Pedro Matias, presidente do Grupo ISQ, considera
Portugal 2020 precisa de ajustar execução
“Temos de evoluir na forma como são desenhados os sistemas de incentivo para ‘sistemas de incentivo de quarta geração’”, afirma Pedro Matias.
O Portugal 2020 “precisa de adaptar conceitos, práticas e requisitos”, afirma Pedro Matias, presidente do Grupo ISQ. “Quando são desenhados, o ‘enquadramento’ é um e depois, na ‘época’ da sua aplicação, o “enquadramento” já é outro. Temos por isso de evoluir na forma como são desenhados os sistemas de incentivo para ‘sistemas de incentivo de quarta geração’. Mais abertos, adaptativos e com capacidade de evolução. Definindo objetivos globais, mas deixando mais abertura a quem os aplica e responsabilizando mais quem se propõe executar”, acrescenta.
 
Vida Económica - Comemora-se de 14 a 18 de outubro a VET (Vocational and Educational Training) Skills Week, uma semana europeia dedicada à Qualificação e Formação Profissional. Que expetativas estão reservadas para a realização deste evento?
Pedro Matias - Aguardam-se novos desenvolvimentos a nível europeu e nacional para investimentos na digitalização e em Inteligência Artificial no que respeita à educação e capacitação. Existem também expectativas relativas ao reforço da importância das parcerias de inovação entre centros de formação e empresas, os designados: “digital innovation Hubs” e as “innovation partnerships”. 
A digitalização e a inovação não podem estar separadas e este acontecimento vem na altura certa, já que a nova equipa da Comissão vai tomar posse no final de outubro. A Europa está atrasada neste ponto relativamente a outras zonas do Mundo e tem de evoluir rapidamente.
 
VE - De que forma o ISQ irá participar neste evento?
PM - Somos “speakers” convidados nas Conferências sobre a “importância das comunidades de prática para a inovação – community of practices” e sobre “a Inteligência Artificial na educação e capacitação”. 
De sublinhar ainda a nossa presença permanente como representante europeu dos Centros de Formação. Mas, mais importante do que isso, foi termos refundado a nossa área da Formação e criado um conceito inovador que é a ISQ-Academy, mais centrada nas competências do futuro e menos na tradicional “formação profissional” com pouco valor acrescentado. Criamos, por exemplo, programas específicos em conceitos como o Digital, soft-skills ou inovação aberta. Estamos a aplicar, por exemplo, a todos os nossos colaboradores um programa de capacitação muito interessante designado de “Afinal o que é isto da Indústria 4.0” (Induce 4.0), em que em modo e-learning e através de 4 módulos se transmitem e se internalizam os conceitos-chave da nova revolução industrial. 
 
Desafios e oportunidades da Indústria 4.0
 
VE - É sabido que a Indústria 4.0 traz desafios e oportunidades. Quer identificar alguns?
PM - Sim. Traz muito desafios e, claro, oportunidades. A principal questão começa por percebermos que o “Digital” não é mais uma moda passageira. Veio para ficar e vai alterar a nossa vida e a vida das empresas. Por isso, devemos encarar o Digital como uma oportunidade para fazer mais num mercado que agora, verdadeiramente, se tornou global. Nesse sentido, o grande desafio é preparar pessoas que nas organizações consigam lidar com isto de uma forma natural. Por isso as organizações apostam hoje mais em soft-skills e pessoas que “têm Mundo” e que estão abertas a novas realidades.
VE - Prevê-se que a I4.0 provoque uma onda assinalável de perda de empregos na Europa. É verdade?
PM - Vários estudos feitos apontam para isso e claro que vão acontecer alguns. Assim foi em todas as revoluções industriais. Se o modo de produção das “economias” e das “organizações” está a mudar, as competências também evoluirão. Sinceramente não vejo daí um problema grave desde que tenhamos com a devida antecedência políticas ativas de re-conversão e de capacitação. Sabe que uma das profissões atuais que mais se adapta à programação em software são os advogados? Quem diria, mas é verdade. Isto porque a estrutura de um diploma legal se assemelha em muito a código de software.
 
“Aprender a aprender”
 
VE - Que tipo de qualificações e competências é preciso desenvolver?
PM - “Soft skills”; multidisciplinaridade; flexibilidade; abertura. É uma frase feita, mas, mais do que nunca, precisamos de “aprender a aprender”, mais do que dominar em profundidade uma determinada profissão. Hoje os jovens já não têm um emprego para a vida. Aliás, trocam muitas vezes uma carreira potencialmente estável e duradoura numa grande companhia por desenvolverem com dois ou três colegas um negócio de raíz onde acreditam e se sentem mais realizados, mesmo que isso signifique, no início, optar por menos salário e conforto. Já poucos ficam 40 anos na mesma empresa…
 
VE - O Portugal 2020 tem permitido melhorar essas qualificações e competências? 
PM - No geral sim. Mas precisa de adaptar conceitos, práticas e requisitos. 
Repare que o problema é que os programas resultantes dos Fundos Estruturais são desenhados muito tempo antes da sua aplicação, e duram depois, vários anos... Ora, quando são desenhados, o “enquadramento” é um e depois na “época” da sua aplicação o “enquadramento” já é outro. Temos por isso de evoluir na forma como são desenhados os sistemas de incentivo para “sistemas de incentivo de quarta geração”. Mais abertos, adaptativos e com capacidade de evolução. Definindo objetivos globais, mas deixando mais abertura a quem os aplica e responsabilizando mais quem se propõe executar. Quando foi desenhado o atual Portugal2020, em 2012 ou 2013, quem falava nessa altura em Digital ? Internet of Things? Industria 4.0? Precisamos de Políticas 4.0 e de “políticos” 4.0. As “políticas” não estão a acompanhar a velocidade com que a tecnologia está a evoluir. Isto é gravíssimo. As políticas de regulação, por exemplo, estão muito atrasadas em relação ao desenvolvimento tecnológico.
 
VE - Que avaliação faz da execução deste programa?
PM - A execução é muito positiva e tanto a Agência para o Desenvolvimento e Coesão como as Autoridades de Gestão dos Programas Operacionais ou mesmo as CCDR têm feito um excelente trabalho. A questão não é essa. A questão é que os próprios programas operacionais têm de ser mais abertos e flexíveis e isso é algo com que a Comissão Europeia não lida bem. Também no futuro os Fundos Estruturais vão certamente evoluir para programas multirregiões e/ou multipaís, em que qualquer empresa ou organização pode concorrer, em vez de termos fundos próprios alocados e específicos para cada país. E aí a concorrência vai ser muito maior…
 
Aposta na indústria aeroespacial
 
VE- Recentemente, comemorou-se a Semana Mundial do Espaço. Esta é uma área onde o ISQ continuará a apostar?
PM - Absolutamente. Estimamos que a indústria aeroespacial vai ter um crescimento exponencial nos próximos anos e por isso queremos lá estar. Começámos este caminho há cerca de 15 anos. A indústria aeroespacial deixou de ser um espaço reservado das grandes agências públicas como a NASA ou a ESA e abriu-se aos privados. O Espaço é hoje e cada vez mais um local onde se faz negócio e por isso muitas empresas já lá estão. As telecomunicações, por exemplo, vão passar da “cloud” para o “Espaço” muito rapidamente.
VIRGÍLIO FERREIRA virgilio@vidaeconomica.pt, 17/10/2019
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