Empresas só terão acesso a 16,6% dos apoios à transformação digital;

Plano de recuperação concentra recursos europeus na despesa pública
Empresas só terão acesso a 16,6% dos apoios à transformação digital
Luís Miguel Ribeiro, presidente da AEP, entende que mais despesa pública corrente significa aumento dos impostos. Luís Mira Amaral, ex-ministro da Indústria e Energia, considera excessivo o volume de apoios concentrados no Estado.
A proposta de repartição dos apoios da União Europeia para a recuperação da atual crise concentra a maior parte dos recursos a fundo perdido na despesa e investimento público, em detrimento do setor produtivo. Para os dirigentes associativos e consultores que manifestaram a sua opinião à “Vida Económica”, o plano está a seguir as opções erradas.
É possível que a Comissão Europeia não aceite a proposta do Governo e imponha uma repartição menos desequilibrada dos apoios entre o Estado e a as empresas.
O volume excessivo de apoios concentrados no Estado, em detrimento do setor privado, não é uma surpresa – considera Luis Mira Amaral. O antigo ministro da Indústria e Energia disse à Vida “Económica” que o plano “está em linha com a visão socialista do Governo e do consultor Costa Silva – influenciador deste Plano – que aproveitam uma situação transitória e excecional de gestão da pandemia para tentar reforçar de forma definitiva um aumento do peso do Estado na sociedade e na economia”. O consultor Costa Silva fez um diagnóstico errado da estagnação da nossa economia, atribuindo-a a políticas neoliberais que nunca houve em Portugal. Houve, sim, uma intervenção excessiva do Estado com más políticas públicas que levaram a uma péssima afetação de recursos e à consequente estagnação económica.Com efeito nos últimos 25 anos, o PS governou 17 anos.”Culpar o neoliberalismo pelos nossos problemas é a mesma coisa que culpar a economia de mercado pelo colapso da União Soviética!” – ironiza Luís Mira Amaral “Para os não socialistas, como eu, só uma aposta nas empresas e no setor privado permitirá tirar o pais do impasse em que se encontra” – acrescenta.
Segundo refere, precisamos de uma Administração Pública mais qualificada e motivada, o que justifica algum investimento. A digitalização, sem dúvida necessária, é apenas um instrumento para a modernização da Administração Pública, não é um fim em si, sendo necessário enquadrá-la num plano coerente de reforma e modernização da Administração Pública, com os consequentes incentivos ao mérito dos seus recursos humanos, plano esse que o Governo não apresenta.
“Julgo que as confederações e associações empresariais e os partidos do centro-direita deviam aproveitar a disponibilidade revelada pelo Ministro Siza Vieira, um homem sensato, equilibrado e realista, para proporem uma reafetação de recursos no Plano apresentado, dando a prioridade aos agentes criadores de riqueza que são as empresas privadas” – refere.
“O documento Costa Silva, que influenciou este Plano, mais parecia uma lista ou catálogo exaustivo de investimentos públicos a fazer” – lamenta Luis Mira Amaral.
 
Subs Presidente AEP
 
Luís Miguel Ribeiro, presidente da AEP, acha que a distribuição das verbas não será consensual. Objetivamente, há um maior volume de recursos financeiros direcionado ao setor público, em detrimento do setor empresarial privado. É possível estimar que o setor público beneficiará, de forma direta, de cerca de 60% do total das verbas. E este valor está subavaliado, há ainda que juntar outras áreas que também beneficiam as administrações públicas”.
“Inversamente, não é compreensível que, dentro do bloco da ‘Resiliência’, seja alocado ao ‘Potencial Produtivo’ menos de um quinto (19%) dos 12,9 mil M J, sobretudo tendo em conta que é aqui que está o que entendo que devem ser as grandes apostas para a recuperação da economia portuguesa, quer no imediato, quer em termos de estratégia de médio e longo prazo: a qualificação das pessoas; o interface entre o sistema científico e tecnológico e as empresas; a inovação; a capitalização das empresas (Banco Fomento); e a reindustrialização”, acrescenta. 
No bloco da “Transição Digital”, na parte relativa ao capítulo “Empresas 4.0”, “a leitura que  se pode fazer é semelhante, face ao enorme desafio da transição digital para o tecido produtivo (que se acentuou com a pandemia, nomeadamente as novas formas de organização do trabalho – teletrabalho). O desenvolvimento da economia digital, a melhoria da capacitação das PME e das competências digitais justificam seguramente uma maior alocação em torno deste domínio.”
“Se queremos ‘Privilegiar iniciativas com um duplo efeito, conjuntural e estrutural’, como refere o documento do Governo, tal exige uma maior alocação de verbas direcionadas às empresas”, defende o presidente da AEP.

“Resiliência” vai absorver a maior fatia 
de subvenções
 
Resiliência: 7,2 mil milhões de euros
  • Vulnerabilidades Sociais: 3200 milhões de euros.
  • Potencial produtivo: 2500 milhões de euros.
  • Competitividade e Coesão Territorial: 1500 milhões de euros.
  • Transição Climática: 2,7 mil milhões de euros
Mobilidade sustentável: 975 milhões de euros.
  • Descarbonização e Economia Circular: 925 milhões de euros.
  • Eficiência Energética e Renováveis: 800 milhões de euros.
Transição Digital: 3 mil milhões de euros
  • Escola Digital: 700 milhões de euros.
  • Empresas 4.0: 500 milhões de euros.
  • Administração Pública: 1800 milhões de euros.

Susana Almeida, 24/09/2020
Partilhar
Comentários 0