África do Sul continua a abrir portas ao investimento português;

Maia acolheu conferência “África do Sul, Um Mercado para A Internacionalização”
África do Sul continua a abrir portas ao investimento português
António Tiago, Alvin Botes e Paulo Ramalho.
A África do Sul é um mercado atraente e lucrativo para as empresas portuguesas. O baixo risco de investimento e o sólido sistema bancário abre portas ao investimento estrangeiro. Sonae Arauco, CR Moulds, Rangel e Sodecia, entre outras empresas portuguesas, têm conquistado e expandido os seu negócios neste país. A Câmara Municipal da Maia demonstrou que também as autarquias e as embaixadas podem contribuir para o crescimento das empresas.
O Salão D. Manuel I, Salão Nobre dos Paços do Concelho, acolheu um seminário sobre Negócios e Investimento, intitulado “África do Sul, Um Mercado para a Internacionalização”.
A iniciativa, organizada pela Câmara Municipal da Maia em parceria com a Embaixada e o Consulado da África do Sul, foi dedicada aos empresários e empresas nacionais, que tiveram assim a oportunidade de estar em contacto direto com a realidade sul-africana.
O seminário contou com a presença de António Silva Tiago, presidente da autarquia, Paulo Ramalho, vereador com o pelouro da competitividade económica, relações internacionais e turismo, Alvin Botes, vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da África do Sul, Rui Fragoso, diretor- geral da Câmara de Comércio Luso-Sul Africano, e Mmamokwena Gaoretelelwe, embaixadora da África do Sul em Portugal, que deram a conhecer as oportunidades que este mercado pode oferecer e estão disponíveis para partilhar os seus conhecimentos com os empresários presentes.

Sonae Arauco e CR Moulds entre os principais investidores
“A África do Sul continua a ser um destino de investimento atraente e lucrativo, onde o retorno dos investimentos é alto e as oportunidades são abundantes para investidores estrangeiros e nacionais”, afirmou Alvin Botes durante o seminário.
Dirigindo-se aos delegados, o vice-ministro de Relações Internacionais e Cooperação aplaudiu os investimentos significativos que Portugal tem feito na África do Sul ao longo dos anos.
“Gostaríamos de referir, em particular, o investimento de 200 milhões de euros da Sonae Arauco no setor florestal, na província de Mpumalanga, e a parceria entre a CR Moulds Portugal e a MCR Plastics no Eastern Cape (Gqeberha) e Gauteng (Silverton), uma empresa de propriedade de negros na África do Sul [que] atende o setor automotivo.”
“O último projeto é significativo porque se alinha com a prioridade do nosso governo de transformar a indústria automotiva e torná-la mais inclusiva”, acrescentou.
Atualmente, o comércio da África do Sul com Portugal é regido pelo Acordo de Parceria Económica UE-SADC (EPA). O EPA torna mais fácil para as pessoas e empresas investirem e negociarem entre si, e encorajar, o desenvolvimento em toda a África Austral.
O vice-ministro disse que o fluxo de bens e serviços entre a África do Sul e Portugal tem crescido de forma constante nos últimos anos, mesmo em meio à pandemia de Covid-19.
De 2012 a 2021, o comércio total entre a África do Sul e Portugal aumentou de aproximadamente R2 biliões em 2012 para aproximadamente R7,5 biliões em 2021. A balança comercial está atualmente distorcida a favor de Portugal. O vice-ministro espera que tais eventos ajudem a resolver este desequilíbrio.

Confiança na economia sul-africana
Botes disse que o crescimento do empresariado português na África do Sul é uma grande demonstração de confiança na economia sul-africana, e no país como destino atrativo para investimentos significativos.
“A África do Sul é uma democracia próspera com uma economia avançada e diversificada, um setor financeiro sofisticado e bem regulamentado e uma extensa infraestrutura de transporte, telecomunicações e energia. Como governo, estamos trabalhando duro para criar um ambiente de negócios dinâmico e propício que promova um maior investimento produtivo em nossa economia”, finalizou.

Comunidade portuguesa com empresários de grande sucesso
“A África do Sul é um país muito especial para Portugal, é um país que tem uma comunidade portuguesa ainda muito elevada, uma comunidade de luso-descendentes que estão perfeitamente integrados na sociedade civil sul-africana. Empresários de grande sucesso e por isso também temos de aproximar, digamos assim, a parte empresarial da Maia e da região com a comunidade empresarial de África do Sul e preferencialmente utilizando a comunidade empresarial portuguesa que lá está muito bem instalada”, afirmou à “Vida Económica” Paulo Ramalho.
Além disso, “não podemos esquecer o facto de a África do Sul ser o grande motor da economia da África Austral, há ali uma comunidade de desenvolvimento económica que é a CADC, com 16 ou 17 estados membros, com uma zona especial de comércio e, portanto, quem  estiver a fazer análises de querer investir na África do Sul, de querer fazer comércio, tem ali uma oportunidade não só de trabalhar o mercado do país que, para além de ter 60 milhões de habitantes, conta com cerca de 300 milhões de habitantes que compõem a África Austral, onde estão incluídos, por exemplo, Moçambique e Angola”, acrescentou.

Falta de conhecimento gera prejuízos
Após a sessão de abertura, decorreu uma mesa-redonda, na qual participaram o diretor executivo da Fundação AEP, Paulo Dinis, o diretor executivo da Sodecia, Filipe Moutinho, e o administrador do Grupo Rangel, Luís Marques. Para terminar, realizou-se um debate, onde os participantes puderam tirar dúvidas sobre a atividade empresarial. No final, Silva Tiago fez a sua intervenção e destacou as qualidades do município em termos empresariais, incentivando os empresários da Maia a investir na África do Sul, apontando as enormes oportunidades neste país, que é o mais potente, importante e rico de África.
Luís Marques considerou a África do Sul uma zona geográfica muito interessante para a logística de transportes. “O próprio mercado interno na África do Sul, por si, já tem um potencial enorme neste tipo de serviços, mas também com as relações que tem com os países limite. Para nós, que já estávamos em Angola e Moçambique, foi um passo natural abrirmos uma operação na África do Sul, quer para os clientes que temos tido nessa geografia, quer para depois aproveitar os fluxos com Angola e Moçambique. A África do Sul tem também outras características para além do tema do transporte em si, tem uma operação logística de maturidade semelhante aquela que nós temos na Europa, sobretudo na área automóvel e de aviação. Nós somos, também, operadores logísticos e queremos levar para lá essa operação”.
Sobre os riscos que o país apresenta, Luís Marques refere que “é um país que apresenta menores riscos numa perspectiva estrutural, isto é, é um pais tradicional em língua saxónica, e portanto nessa tradição apresenta um contexto legal a implementar maior fidelidade, maior transparência daquilo que é a aplicação das leis e para nós torna-se mais fácil e mais transparente operar num pais com essas características. Dando um exemplo, nós constituímos  uma das nossas empresas na África do Sul em três dias, nós hoje quando precisamos de assinar um contrato como a entidade bancária, recebemos em digitalizado, com uma assinatura para colocarmos, com a segurança toda, e assinamos um contrato em minutos , portanto esta sofisticação, esta maturidade  que existe em alguns fatores na África do Sul dá-nos uma perspetiva mais robusta de uma permanência por muitos anos que é o nosso timbre nestes países”.
Os principais clientes da Rangel na África do Sul são empresas locais.

Sistema bancário mundialmente avançado
Rui Fragoso, diretor-geral da Câmara de Comércio Luso-Africana, considera ser “absolutamente importante” divulgar a África do Sul como um potencial mercado que existe, “porque sem isso não vai acontecer nada. A falta de conhecimento entre nós está a causar mais prejuízo, não está a trazer vantagem nenhuma, porque há falta de conhecimento. Portugal tem uma perceção muito má da África do Sul porque falam de certos eventos e certas coisas sem compreender o porque é que essas coisas acontecem, então há uma falta de conhecimento muito grande sobre a realidade, aquilo que se vê e que se ouve nas notícias, infelizmente, não é o que está sério num negócio, tem que haver oportunidades para os negócios crescerem de lá para aqui e daqui para lá”, afirmou à VE.
Na perspetiva de Rui Fragoso, “a África do Sul talvez seja, em termos bancários, um dos países mais avançados mundialmente e de certeza que, em termos de crédito, não tem nada mais seguro do que em África do Sul. Por exemplo, como particular, para comprar um carro lá, tenho de provar ao Governo que posso pagar, caso contrário, não me dão o crédito. O país tem mecanismos que aqui e noutros países não existem. Noutros países, você consegue créditos, consegue vender e depois vê o carro ou a casa executados se não pagou. Lá é muito difícil acontecerem essas situações. E porquê? Porque começou a acontecer tanto que eles criaram mecanismos para isso não acontecer. Muita gente reclama porque dizem que não é bom, mas, para mim, é ótimo porque dá segurança ao meu negócio e com quem eu estou a fazer negócio”.
Segundo o mesmo responsável, a comunidade portuguesa na África do Sul deverá rondar as 700 mil pessoas, mas apenas 300 mil estarão registados no consulado. Nos anos sessenta, essa comunidade chegou a atingir um milhão de portugueses.

Sodecia singra no mercado sul-africano
Filipe Moutinho, diretor executivo da Sodecia, referiu que “a África do Sul, dentro do continente africano, é o país que tem mais construtores automóveis. Tem lá varias marcas, desde a BMW, a Ford, a Nissan, neste momento não tenho a noção de quantos veículos produzem por ano, mas acaba por ser relevante para nós, pois temos que estar próximos dos construtores automóveis e portanto eu acho que África do Sul produz mais sozinha do que todos os outros países no continente africano”.
Relativamente ao risco de investimento no país, afirma: “Nós estamos lá há 10 anos, e para já, estamos contentes, há sempre aqueles momentos de mais tensão com as crises políticas, com algumas greves, algumas coisas, mas isso temos em todos os países. Para já, em 10 anos não temos razão de queixa, tem corrido muito bem”.
Filipe Moutinho sabe que existe uma forte comunidade portuguesa na África do Sul, “mas nós estamos interessados em pessoas qualificadas para aquele tipo de atividade e portanto, temos mais locais sul-africanos a trabalhar connosco do que propriamente a comunidade portuguesa a trabalhar connosco, não é relevante no nosso caso”. “Nós não vendemos direto à comunidade portuguesa, nós fazemos carros mundialmente, não há um grande foco na presença da comunidade portuguesa quando decidimos um local de uma fábrica”.
A Sodecia exporta para a Alemanha, país “onde somos competitios”. Em relação ao setor automóvel, “apesar das dificuldades que o setor tem passado, com a dificuldade de assumir condutores, acredito que o setor vai ultrapassar, vamos fazer carros, vai ser resolvido. A guerra da Ucrânia esperemos que seja resolvida com tempo, mantemos a esperança logicamente”, remata Filipe Moutinho.
 
Câmara da Maia liga empresários ao exterior

Para a câmara da Maia, é importante aumentar o conhecimento dos mercados para também incentivar as empresas a aumentar as suas exportações e os investimentos. “Nós vivemos num mundo fortemente globalizado e os negócios não se fazem na plataforma regional e nacional, fazem-se na sua maioria à escala internacional, à plataforma global. Hoje em dia, essa vocação da internacionalização não é apenas um desígnio para as grandes, médias, pequenas e mesmo algumas microempresas ligadas diretamente às novas tecnologias. É também uma oportunidade de negócio muito forte na área internacional, para isso, não digo que é preciso serem ajudados mas pelo menos serem auxiliados no seu processo. O município da Maia não tem naturalmente de dizer aos empresários da Maia o que devem fazer, mas deve pelo menos, sempre que tem relações privilegiadas com algumas embaixadas, como é o caso da embaixada de África do Sul, fazer chegar as oportunidades de contacto às empresas”, afirma Paulo Ramalho.

 

Portugal é plataforma giratória entre África e Europa

“O fenómeno da globalização veio para ficar. A plataforma de negócios hoje é o grande mercado global. As empresas portuguesas devem estar atentas aos mercados internacionais, particularmente, às flutuações internacionais, e devem diversificar os seus investimentos e as suas direções para esses mercados. Há momentos em que o mercado europeu é o mercado preferencial, outros em que o mercado americano e asiático vão ter a sua ponderância e o mercado africano também pode ser uma oportunidade”, considera Paulo Ramalho
“O continente africano, obviamente, é aquele que tem mais potencial de crescimento. É aquele que tem a população mais jovem. Portugal sempre teve uma presença histórica em África relativamente bem sucedida e é hoje em dia também uma porta de entrada para os países africanos e para a África do Sul se desenvolver, nomeadamente junto da União Europeia. Há aqui boas oportunidades para as empresas portuguesas trabalharem bem o mercado sul-africano e também para algumas empresas africanas encontrarem em Portugal uma porta para a Europa mas também investir no nosso mercado nacional”, conclui.

 

Risco político é reduzido

Sem querer misturar política com negócios, Rui Fragoso afirma que “precisamos de política para fazer negócio, mas negócio é negócio e política é política. A parte política é muito importante e necessária para eles terem conhecimento, para poderem fazer as leis de acordo com aquilo que vai beneficiar o negócio, mas eu não posso fazer negócio político, porque hoje está e amanhã não está e eu não estou dependente disso para fazer negócio, tenho que ter os pés no chão. Nós, por exemplo, temos associados que dedicam tempo a determinar o risco político em diversos países, então, antes de entrarem nesses mercados, recorrem a este tipo de organização para avaliar o risco do negócio”.
Mariana Andrade (agenda@grupovidaeconomica.pt), 30/06/2022
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