Má planificação da sucessão;

Reflexões sobre Empresas Familiares
Má planificação da sucessão

A existência de qualquer organização está muito dependente da pessoa ou equipa que a lidera. É esta que, em termos genéricos e aqui muito simplistas, é responsável por definir a estratégia ou área de negócio e o tipo de mercado e clientes a que a empresa se deve dedicar, reunir os recursos (humanos, financeiros e informação) adequados à implementação destas orientações e assegurar o devido controlo, no sentido de garantir que os objetivos são alcançados ou, caso contrário, detetar os desvios e atuar de forma a permitir a sua correção.

Sendo esta a principal incumbência e que ocupa a maioria do tempo dos líderes de uma empresa, existe uma outra que tem de estar sempre subjacente a qualquer gestor responsável: assegurar soluções para a sua substituição.
Acreditamos que esta não é naturalmente a tarefa mais agradável, pois estamos a assumir que não somos eternos, e, na maioria dos casos, prioritária. No entanto, pela nossa experiência prática, estamos em condições de afirmar que será uma das que mais impacto ter na empresa e na família: se for bem concretizada, todos considerarão que era óbvia; se for atribulada ou ocorrer de uma forma imediatista por um qualquer acontecimento inesperado,  todos recordarão que a situação acontece porque não foi devidamente prevista (“eu bem avisei, mas ...”).
Neste contexto, só nos resta reforçar uma mensagem para os atuais gestores e acionistas da empresa: a liderança da empresa é crucial à sua sobrevivência e, como tal, é vossa obrigação prepará-la devidamente, formando potenciais candidatos que, a seu devido tempo, ou em casos imprevistos, possam assumir consciente e profissionalmente essa função.

Em 1990, Vera Coelho assume a presidência da Edifer. Fundada na década de 40, o falecimento súbito do pai e sócio implicou que, apesar ter apenas 33 anos, tivesse de enfrentar um grande desafio: liderar um grupo na área da construção. Apesar da juventude, do imperativo da necessidade e de se tratar de um negócio tradicionalmente liderado por homens, esta líder conseguiu agarrar as rédeas e dar um grande impulso à empresa: alargou a área de negócios, foi a primeira empresa a obter a certificação de qualidade, etc.
Em 2012, admite que “o erro foi a empresa financiar-se com a atividade corrente, dado não conseguir financiamento. Este erro foi provocado pela crise da economia, que limitou o acesso ao financiamento por parte das empresas…”. Neste contexto, em carta aos colaboradores informa: “Assim e no dia 12 de março de 2012, apresentei aos respetivos órgãos competentes, a renúncia a todos os cargos que ocupei durante tantos e tantos anos. A minha sucessão está garantida e, apesar de ainda não formalizado, o Dr. Pedro Gonçalves do Fundo Vallis, assegurará, a partir de hoje,  a liderança necessária à gestão do Grupo… No último ano lutei arduamente para arranjar uma solução que permitisse regularizar os compromissos que estavam em falta para com todos e nunca desisti de atingir esse objetivo. Finalmente é com profunda satisfação que vos informo que na próxima segunda-feira serão pagos todos os salários em atraso no Grupo Edifer”.
Apesar das enormes dificuldades, demonstrou que era uma grande líder: conseguiu assegurar a continuidade da empresa e a sua sucessão, demonstrando, com um enorme carácter e grande profissionalismo, que uma empresa familiar é muito mais do que o património da família e que tudo o que puder ser feito para a sua sobrevivência deve ser devidamente assegurado.

Temas para reflexão:

• Pretendemos que o nosso negócio se mantenha ao longo do tempo na família?  
• As gerações seguintes partilham e podem assumir essa vontade?
• Que outras alternativas de continuidade poderão ser implementadas?

António Nogueira da Costa
Especialista em Empresas Familiares
antonio.costa@efconsulting.es

Especialistas na consultoria a Empresas Familiares
e elaboração de Protocolos Familiares
Santiago – Porto   www.efconsulting.pt
 
 

 

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