Responsabilidade social: uma obrigação do século XXI;

Responsabilidade social: uma obrigação do século XXI
Como todos os alunos que passaram pelo 3.º ano da licenciatura em Economia, eu fui confrontada com Avaliação de Projetos. Na primeira aula somos avisados de imediato que esta disciplina poderá entrar em conflito com as nossas noções de certo e errado, do que é ou não ético. Isto acontece porque o que pretendemos é analisar números, números esses que vão determinar se um investimento é ou não rentável. Porém, um investimento comporta consequências em termos sociais, ambientais e em muitos outros domínios, daí o aviso supracitado.
Em pleno século XXI, não é possível ignorar estas questões, porque consideramos que elas descrevem uma sociedade que evoluiu. Mesmo nós, futuros economistas e gestores, deixamos de acreditar que uma empresa é apenas uma máquina construída para gerar lucros e começamos a colocar a questão: “Lucrar sim, mas a que preço?”. Estas questões são levantadas em casos como o recente encerramento da Petrogal em Matosinhos.
Assim, entra em cena o conceito de Responsabilidade Social Empresarial (RSE). Ainda hoje não existe uma definição harmonizada de RSE; contudo, na minha opinião, a definição da Comissão Europeia é bastante completa, incluindo nela uma diversidade de domínios: o combate à corrupção, a inclusão social, os interesses dos consumidores, o desenvolvimento das comunidades onde estão inseridas, entre outros.
As empresas são incentivadas pela Comissão Europeia a aderir às várias diretrizes e princípios internacionais no âmbito deste tema. Neste artigo, está em discussão se essa adesão deveria ser um mero incentivo ou de facto uma obrigação. Na minha opinião, existem domínios indispensáveis em que deveriam ser uma obrigação. Porquê?
Em primeiro lugar, porque para as próprias empresas existem vantagens em incorporar nas suas estruturas práticas de RSE, desde a atração e manutenção de capital humano qualificado, clientes, fornecedores, parceiros e investidores que queiram contribuir para a causa social até à conquista de um lugar de destaque na sociedade.
Em segundo lugar, o atual tecido empresarial português não é propício à aplicação destas práticas. O perfil do empresário português é um homem na faixa etária dos 35-44 anos com o ensino secundário. Um perfil tipicamente avesso a estas questões que são tão importantes nas gerações recentes, quer seja por hoje termos acesso a mais recursos que nos permitem pesquisar e formar opiniões, quer pelo maior grau de escolaridade.
Para além disso, é preciso admitir que a maioria das pessoas só faz o que é necessário se a isso for obrigada. Para comprovar esta afirmação penso que não é preciso ir muito longe, bastando para tal analisar os comportamentos durante a pandemia e a necessidade do segundo confinamento que vivemos.
Por último, a RSE deveria ser um requisito obrigatório das empresas para ser possível responder a situações tão complicadas como a pandemia do Covid-19, nomeadamente no que às vacinas diz respeito. Com o inferno que uns vivem há sempre alguém que beneficia.
Esta é a minha opinião ao nível da Responsabilidade Social Empresarial e penso que já é altura de cada um formar a sua, pois já não falta muito para termos de escolher que tipo de economistas e gestores queremos ser.
Rute Costa, 10/06/2021
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