Maior eficiência na reutilização dos materiais de construção poderá reduzir emissões de gases com efeito de estufa até 80%
Segundo a Comissão Europeia, estima-se que 5 a 12% das emissões nacionais de gases com efeito de estufa sejam provenientes da extração de materiais, do fabrico de produtos de construção, da construção e da renovação de edifícios, sendo que uma maior eficiência dos materiais poderia reduzir estas emissões até 80%.
É possível quantificar atualmente a quantidade de desperdício produzido pelo setor da construção?
O setor da construção é destacado pelo uso intensivo de recursos primários, baixa produtividade material e baixo nível de circularidade. Por este motivo, a Comissão Europeia considera o setor como setor chave na transição para uma Economia Circular, bem como para a redução das emissões de CO2, associadas a toda a cadeia de produção. Também a nível nacional, Portugal elegeu o setor da construção a privilegiar no seu plano de ação para a Economia Circular (PAEC).
Os resíduos de construção e demolição (RCD) constituem o maior fluxo de resíduos na UE, representando cerca de um terço do total dos resíduos produzidos. Estes resíduos incluem uma grande variedade de materiais, como tijolos, betão, madeira, vidro, metais e plásticos.
Segundo a Agência Portuguesa do Ambiente, em 2018, foram recolhidas 2 529 899 ton. de RCD em Portugal.
É possível ter uma estimativa sobre a poupança conseguida, caso esse desperdício fosse reutilizado e houvesse informação sobre o processo?
Segundo a Comissão Europeia, estima-se que 5 a 12% das emissões nacionais de gases com efeito de estufa sejam provenientes da extração de materiais, do fabrico de produtos de construção, da construção e da renovação de edifícios, sendo que uma maior eficiência dos materiais poderia reduzir estas emissões até 80%.
O peso dos edifícios e infraestruturas do ponto de vista material e energético implica que o setor da construção deve assumir um papel ativo e, consequentemente, não só na mitigação dos seus impactes ambientais, mas na construção de um sistema regenerador por intenção e design, como é princípio da economia circular.
Uma parte importante deste papel está associado aos resíduos de construção e demolição (RCD), que refletem a intensidade material dos edifícios e infraestruturas, mas também as práticas do próprio setor e as opções de gestão no fim de vida.
Uma parte significativa dos RCD tem um elevado potencial de valorização, no entanto, a taxa de reciclagem e valorização destes resíduos varia significativamente nos países da União Europeia.
Segundo a APA, em 2018, cerca de 86% dos RCD produzidos eram valorizáveis (2 167 522 ton. de RCD), dos quais 1 695 918 ton. foram efetivamente encaminhadas para valorização.
Portugal reporta assim uma taxa de valorização de 78,24%, cumprindo a meta estabelecida de encaminhamento de 70%, no mínimo, de RCD não perigosos para reutilização, reciclagem e valorização, incluindo operações de enchimento.
No entanto, existe potencial significativo para o aumento da reciclagem destes resíduos.
De que forma e através de que meios a informação pode circular junto dos intervenientes que permita que se atinja uma economia circular no setor da construção e dos materiais?
Para se atingir uma economia circular no setor da construção e materiais é importante que todos os elos da cadeia de valor, incluindo os municípios, as associações setoriais e as universidades trabalhem em conjunto e partilhem informação.
O projeto será realizado por um consórcio constituído por entidades líderes nas suas áreas e que reúnem as competências técnicas necessárias e um largo envolvimento com toda a cadeia de valor da construção.
Mais concretamente, a participação da Associação Smart Waste Portugal (ASWP), enquanto entidade promotora, e da Plataforma Tecnológica Portuguesa de Construção (PTPC), enquanto entidade parceira, potenciará a escalabilidade e a multiplicação dos resultados, seja a nível nacional ou a nível internacional.
A ASWP, como associação que atua em toda a cadeia de valor do setor dos resíduos, tem o papel de contribuir para a divulgação do projeto neste setor e no domínio da economia circular. A PTPC reúne todo o tipo de entidades públicas ou privadas do sector AEC, permitindo assim a promoção do projeto ao longo de toda a cadeia do setor da construção.
Toda a cadeia de valor, desde os fornecedores e construtores até aos utilizadores, pode obter informação através das ferramentas do projeto, a serem disponibilizadas no website do projeto, para tomar as decisões que garantam a sustentabilidade dos edifícios, permitindo a escolha de produtos e materiais mais sustentáveis e aumentar o seu período de utilização e maximizar o seu valor de fim de vida.
Qual o impacto que o projeto Edifícios Circulares vai ter no setor e na economia nacional?
O projeto Edifícios Circulares surgiu no âmbito de uma ‘call’ do EEA Grants para financiamento de projetos de desenvolvimento de standards no setor da Construção que promovam a Economia Circular. Este projeto tem, assim, como objetivo aumentar a aplicação dos princípios da Economia Circular através do desenvolvimento de standards, guias e declarações ambientais para o sector da construção.
Atualmente, não existem guias ou metodologias estabelecidas a nível setorial na ótica da Economia Circular e na abordagem centrada no ciclo de vida no setor da construção, incluindo os RCD, pelo que não se trata de uma prática corrente no setor da construção. O projeto Edifícios Circulares pretende assim desenvolver um conjunto de ferramentas de apoio à decisão para promover o aumento da reutilização dos materiais e a redução na produção de resíduos no setor da Construção, nomeadamente: guia para criação de passaportes de materiais para edifícios; guia de boas práticas para promoção da circularidade nas DAP (Declarações Ambientais de Produto); guia de boas práticas para o cálculo de indicadores de eficiência de edifícios; ferramenta de cálculo dos benefícios associados à circularidade dos edifícios.
As ferramentas em desenvolvimento irão permitir a promoção de práticas sustentáveis e dos princípios da economia circular no setor da construção, o planeamento eficaz da requalificação e demolição de edifícios e a redução dos impactes ambientais associados.
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