Arrendamento habitacional em tempo de pandemia;

Arrendamento habitacional em tempo de pandemia
São vários os fatores que têm contribuído para que o mercado de arrendamento esteja atualmente a descrever uma trajetória de redução dos valores médios. Destaco dois que considero como principais: a oferta de casas para arredamento ter crescido significativamente, sobretudo nos grandes centros urbanos, bem como a manutenção da disponibilidade dos bancos para o financiamento de compra de casa pelas famílias.
A maior oferta de imóveis habitacionais para arrendamento fez com os valores médios descessem, devendo esta ser uma tendência que se irá manter ao longo do presente ano. Isto porque muitas das habitações que anteriormente estavam dedicadas/focadas no AL ou no segmento turístico voltaram-se para o arrendamento tradicional, como oportunidade temporária para ocupação e obtenção de alguma rentabilidade. Na realidade, a oferta de imóveis para arrendamento é efetivamente maior e os valores médios praticados são inferiores aos de 2019/2020, verificando-se as maiores quedas sobretudo em Lisboa e no Porto, em contraponto com o valor de venda, que, no mesmo período, tem visto aumentar os valores médios, comparativamente aos mesmos períodos.
Porém, a oferta de imóveis não corresponde ao aumento de operações de arrendamento efetivamente realizadas, embora a procura possa até ter aumentado devido à legislação existente, acrescida dos despachos que o Governo aprovou em período de pandemia, com vista a evitar os despejos, fez com que os proprietários fossem mais rigorosos e seletivos nos processos de seleção dos inquilinos, exigindo, parte das vezes, garantias acrescidas ou montantes de adiantamento de rendas mais elevados.
A legislação tem também um efeito negativo no desenvolvimento do mercado de arrendamento tradicional – este foi sempre um setor visto com algum ceticismo pelos investidores institucionais, não conferindo assim a atratividade necessária a esses investidores –, embora os pequenos investidores e particulares continuem a ver aí uma oportunidade de investimento e de aplicação das suas poupanças, contando, por um lado, com o rendimento proporcionado pelo imóvel e, por outro lado, a eventual mais-valia duma futura valorização do imóvel.
Em meados do presente ano é previsível que os valores médios estabilizem, uma vez que o setor do turismo deverá voltar a absorver algumas das casas e, por sua vez, haja a redução do “stock” de oferta para arrendamento tradicional; porém esta perspetiva só se verificará se, depois da crise pandémica, se criarem as condições necessárias para que o turismo retome alguma dinâmica e funcionamento.
Assim, o mercado imobiliário tem demonstrado, por várias formas, esforços para impactar os efeitos da pandemia, o que de certo modo justifica estas e outras oscilações que são verificadas, cujo objetivo é claramente vencer este período pandémico minimizando os efeitos e impactos. A resiliência do imobiliário é um sinal positivo para a economia nacional e contributo do setor para o país.
Vítor Osório Costa, Diretor, 22/01/2021
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