Empresas aderem cada vez mais à economia circular;

Pedro Fernandes, da APCER, afirma
Empresas aderem cada vez mais à economia circular
“As necessidades de investimento para a transição e a mudança dos hábitos de consumo dificultam a adoção dos princípios da economia circular”, adianta Pedro Fernandes.
Existe uma crescente sensibilidade das empresas para a importância de adotar estratégias e modelos de economia circular. Ainda assim, as necessidades de investimento e a mudança dos hábitos de consumo são ainda os principais entraves à plena adoção pelas empresas. Esta é a opinião de Pedro Fernandes, “technical manager - Climate Change” da APCER, que participou no debate “Sustentabilidade e economia circular no combate às alterações climáticas”, organizado no âmbito das feiras Maquishoes, Expocouro e FIMAP, realizadas na Exponor. 
Vida Económica - O que é a economia circular?
Pedro Fernandes - A economia circular (EC) é um conceito económico cujo princípio fundamental é manter os recursos retirados/provenientes do ambiente no circuito económico, prolongando o seu ciclo de vida e evitando a devolução dos mesmos em forma de desperdício.
 
VE - Em termos concretos, quais são as principais vantagens para as PME?
PF - A produção e a promoção de produtos e serviços “amigos do ambiente” proporciona oportunidades de desenvolvimento de atividades económicas existentes e novas, como, por exemplo, na conversão de resíduos e subprodutos em matérias-primas para outros processos produtivos ou a retoma e dinamização de atividades de reparação e readaptação de equipamentos e produtos, aumentando o seu tempo de vida.
 
VE - A economia circular pode ser atrativa para os modelos de negócio tradicionais?
PF - Sim, os nossos avós já incluíam muitos dos princípios da EC na sua vida e com pouca produção de desperdícios. Penso que será uma boa prática retomarmos certos hábitos que já existiam nos negócios mais tradicionais e até aproveitar essas metodologias para promover este tipo de atividades por exemplo na produção agrícola, artesanato, através da utilização e reutilização de materiais recicláveis.
 
VE - Por que razão é tão urgente caminhar para uma economia mais circular?
PF - Anualmente, a humanidade usa os recursos equivalentes de 1,75 planetas Terra. 
Mantendo este modelo atual (economia linear) e os mesmos hábitos de consumo, estes recursos poderão escassear para futuras gerações e os efeitos secundários vão contribuir para o aumento da poluição e seus impactes e consequentemente o efeito de estufa, com impacto nas alterações climáticas.
 
Regulamentação nacional e europeia
 
VE - As empresas nacionais estão sensibilizadas para a economia circular?
PF - Existe uma crescente sensibilidade das empresas para este modelo e tipo de preocupação, uma vez que a perceção de que a mitigação dos impactes para o ambiente é um custo que já vai sendo percebida como errada.
Em Portugal, existe uma crescente procura por normas que promovem estas oportunidades, por exemplo, o FER – Fim do Estatuto de Resíduo, ISO14006 (Eco-Design), ISO14001 (Sistemas de Gestão Ambiental), ISO20400 (Compras Sustentáveis), ISO14067 (Pegada Carbónica do Produto), Rótulos e Declarações Ambientais, ISO14044 (Avaliação do Ciclo de Vida), ISO14046 (Pegada Hídrica), ISO20121 (Sustentabilidade de Eventos), entre outras. Estas são ferramentas importantes para uma gestão estratégica das organizações e das mudanças na sua cadeia de valor.
A regulamentação nacional e europeia, bem como os compromissos assumidos por Portugal internacionalmente (17 Objetivos para Transformar o Mundo, 2015 - “Fechar o ciclo – Plano de Ação da UE para a Economia Circular, 2016 – Acordo de Paris sobre as Alterações Climáticas, Roteiro para a Descarbonização) tem igualmente promovido e catalisado esta transição para a EC, definindo em alguns casos regras e limites (ex: taxação, CELE, SEVESO) e facilitando noutros, por exemplo, através de financiamentos.
 
Apoio financeiro e regulamentar 
 
VE - Quais as principais barreiras a esta transição e como ultrapassá-las?
PF - As necessidades de investimento para a transição e a mudança dos hábitos de consumo são alguns dos principais entraves. A promoção destes princípios de sustentabilidade e circularidade e o apoio financeiro e regulamentar podem catalisar e despoletar este tipo de mudanças. 
 
VE - Até que ponto os financiamentos europeus podem ajudar?
PF - É uma ferramenta muito importante para impulsionar a EC. Permite um estímulo para as organizações desenvolverem e aplicarem tecnologias mais inovadoras e potenciadoras de soluções para a circularidade dos seus produtos e serviços. 
Muitas organizações que já têm preocupações a nível da sustentabilidade e circularidade dos seus negócios aproveitam estes financiamentos para antecipar planos de ação definidos para a transição. Estes financiamentos europeus promovem inclusivamente a alteração de políticas nacionais, que, por sua vez, apoiam a transição para a EC.

FERNANDA SILVA TEIXEIRA fernandateixeira@vidaeconomica.pt, 22/11/2019
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