“No Poupar Está o Ganho” aposta no digital;

“No Poupar Está o Ganho” aposta no digital
 Infelizmente, ainda há muitas escolas onde os alunos não têm aulas de educação financeira, indica Inês Cupertino de Miranda Abreu. 
O projeto de educação financeira “No Poupar Está o Ganho”, organizado pela Fundação Dr. António Cupertino de Miranda (FACM), está a ultimar a aposta no digital. Em breve, será lançada a nova modalidade do projeto (que completa em 2020 o seu 10º ano), denominado “No poupar está o Ganho 4.0” (NPEG 4.0), que será totalmente em formato digital e terá como base a plataforma de educação financeira www.nopouparestaoganho.pt. Com isto, todos os momentos que envolviam presença física dos alunos irão, pelo menos nesta fase, poder ser realizados à distância. 
 
É o caso das “Olimpíadas de Educação Financeira” e do “Concurso Final”, que acontece anualmente em junho e que, este ano, devido à situação de pandemia, vai ser realizado através das redes sociais. Já este ano, a 4ª edição das Olimpíadas de Educação Financeira (OEF), um quiz jogado online com a participação de todos os alunos da turma que visa testar os conhecimentos de educação financeira adquiridos pelos alunos, foi realizada através da nova plataforma e envolveu 3755 alunos, de 189 turmas de 37 municípios.
A aposta no digital visa também fazer com que o projeto “No Poupar Está o Ganho” se torne “viral”. Esta será uma modalidade alternativa concebida para ser implementada com “baixíssimos custos”, permitindo, desta forma, estender a educação financeira a toda a comunidade escolar ou, pelo menos, abranger transversalmente todos os alunos de um ano de cada ciclo de ensino”. Ainda assim, idealmente, esta deverá ser implementada ao nível do primeiro ciclo, em conformidade com o previsto na Estratégia de Educação Nacional para a Cidadania, que tornou a educação financeira obrigatória para os alunos em pelo menos dois dos três ciclos do ensino básico. 
“Mantemos a lógica do programa original, um programa implementado em regime de continuidade e que se desenvolve em paralelo com o ano letivo”, explica Inês Cupertino de Miranda Abreu, administradora executiva da FACM, à “Vida Económica”. A mesma fonte salienta que o projeto mantém a aposta nos mesmos pilares estruturais, que passam pela “capacitação dos professores, através da disponibilização de recursos pedagógicos sobre todos os temas previstos no referencial de educação financeira, diferenciados para todos os níveis de ensino; pela articulação do ensino formal e não formal, mediante o desenvolvimento das chamadas “soft skills”, a promoção do pensamento crítico, da capacidade de realização de trabalho em equipa, de comunicação e apresentação pública desse trabalho, através da realização de atividades de extensão curricular (como é o caso das Olimpíadas e do Concurso Final); e, por último, pela monitorização e acompanhamento dado pela equipa do Serviço de Educação do Museu, que dispõe inclusivamente de uma linha telefónica de apoio permanente”.
 
Educação financeira nas escolas é essencial
 
A educação financeira foi reconhecida pelo Governo português como uma prioridade no ano letivo 2018/2019, passando esta a ser obrigatória em termos curriculares em dois dos três ciclos do ensino básico. Questionada sobre como avalia esta medida, a administradora executiva da FACM assume que esta “é essencial” e lembra que, “quando o projeto começou a ser implementado em 2010, uma das dificuldades que sentimos foi a falta de espaço no currículo das escolas para que a Educação Financeira (EF) fosse lecionada”.
Apesar de ser considerada desde 2013 como prioridade nacional, só recentemente é que a Educação Financeira passou a ser obrigatória, sendo que, “infelizmente, ainda há muitas escolas onde os alunos não têm aulas de educação financeira”. “Acredito que estamos num processo de consciencialização e que essa mudança vai acontecer. Este ano já tivemos muitos professores que nos contactaram precisamente porque passaram a ter de ensinar educação financeira e precisavam de ajuda. O facto de o projeto ser um projeto que está consolidado e é chave na mão (pois dá-lhes acesso a tudo o que precisam: conteúdos temáticos, cronograma, planos de aulas, fichas de exercícios, entre outros) é, sem dúvida, uma enorme mais-valia”, assegura Inês Cupertino de Miranda Abreu. 
Por outro lado, acrescenta a responsável, “se este tema sempre foi importante, hoje é crucial. Vivemos uma autêntica tempestade que veio mudar a nossa vida e a nossa bolsa. Se queremos salvar ambas, temos de cuidar da saúde e da economia. É, pois, indispensável a elaboração de respostas eficazes que se articulem com os currículos”.
Neste contexto, a FACM tem trabalhado com a Universidade do Porto que realizou um estudo em larga escala para a Medição do Impacto Social (MIS) do programa “No Poupar Está o Ganho”. Realizado pelo SINCLab da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto e envolvendo a participação de 2309 crianças, cerca de dois mil pais, 136 professores e mais de 40 técnicos dos municípios, o estudo mostrou que o programa “No Poupar Está o Ganho” tem um “impacto social positivo tanto na aquisição de competências de literacia financeira como nas atitudes, expectativas ou emoções associadas à ‘gestão do dinheiro’ nas situações e relações do quotidiano”. 
Para além disso, o estudo procurou igualmente medir o impacto ao nível da melhoria das notas dos alunos à disciplina de matemática. Os resultados demonstram que dos cerca de 12 mil alunos que participaram nos últimos dois anos, 20% melhoraram as notas a matemática em um nível, ou um valor, dependendo do ciclo de estudos, face ao ano letivo anterior.
Ao longo destes 10 anos, já participaram mais de 30 mil crianças e jovens de todos os ciclos de ensino. Só nos últimos 3 anos participaram mais de 17 mil alunos.
 
FERNANDA SILVA TEIXEIRA fernandateixeira@vidaeconomica.pt, 21/05/2020
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