“Pandemia ainda sem impacto na política de atribuição automóvel”;

Marta Dias, survey leader na Mercer Portugal, indica
“Pandemia ainda sem impacto na política de atribuição automóvel”
“A expectativa geral é de que o futuro seja mais flexível” ao nível deste benefício, segundo Marta Dias.
Em Portugal, mais de 80% das empresas disponibilizam benefício automóvel, sendo que 87% destas empresas recorre a um sistema de leasing para a frota e o critério mais frequente para a elegibilidade para benefício automóvel é o nível da função (apontado por 95%). Estas são as conclusões do estudo “Car Benefit Policies 2020” da Mercer, que revela que 88% dos colaboradores que têm acesso a este benefício são diretores; 84% são executivos, 86% gestores/ chefias intermédias e 60% pertencem à equipa comercial. Sobre a pandemia de Covid-19, Marta Dias, survey leader na Mercer Portugal, indica, em entrevista à “Vida Económica”, que o estudo “não permite ainda observar quaisquer impactos da pandemia ao nível da política automóvel, ou seja, atualmente, mesmo estando em teletrabalho, os colaboradores continuam a usufruir deste benefício”.
Vida Económica – Como compara a realidade portuguesa com a de outros países estudados?
Marta Dias – Relativamente à política automóvel, comparando Portugal com outros países a nível europeu, não se observam diferenças muito significativas ao nível, por exemplo, da elegibilidade para este benefício. Por exemplo, funções de topo têm, em todos os países, um nível de elegibilidade entre 80% e 90%. Apenas ao nível das funções de chefias intermédias se observam algumas diferenças, nomeadamente com Portugal ligeiramente acima dos restantes países, mas, ainda assim, com uma diferença pouco significativa. As diferenças a apontar surgem, por exemplo, ao nível da implementação de políticas mais sustentáveis. A título de exemplo, quando falamos sobre a limitação da escolha de viaturas de acordo com o nível de emissões de CO2, em Portugal apenas 23% das organizações confirmam já ter implementado esta prática, ficando abaixo de Espanha (35%), França (38%), Itália (44%), Reino Unido (36%) ou Alemanha (35%). Relativamente à inclusão de modelos híbridos ou elétricos entre as opções de escolha de viaturas, Portugal encontra-se ao nível de Espanha e de Itália (em que 33% das empresas indicam já ter esta prática), mas abaixo de França e Reino Unido (ambos com 39%) e da Alemanha (42%).
 
VE – A pandemia, com efeitos na mobilidade e no teletrabalho, pode ter algum impacto a atribuição de benefício automóvel?
MD – O estudo de 2020 não permite ainda observar quaisquer impactos da pandemia ao nível da política automóvel, ou seja, atualmente, mesmo estando em teletrabalho, os colaboradores continuam a usufruir deste benefício. A expectativa geral é de que o futuro seja mais flexível, e que o benefício automóvel possa tornar-se menos uma “business need”, no entanto, neste momento, ainda é difícil prever qual o impacto real que a situação de pandemia terá ao nível deste benefício. Há também que considerar nesta equação o facto de o benefício automóvel ser altamente valorizado pelos colaboradores no nosso país enquanto benefício de estatuto.
 
VE – A eletrificação automóvel levanta desafios para empresas e trabalhadores com automóvel da empresa, na medida em que nem todos têm como carregar o automóvel em casa e os que têm terão de ter como contabilizar a energia usada para carregar o veículo?
MD – Atualmente, a possibilidade de optar por uma viatura híbrida ou elétrica no âmbito da política automóvel já é uma realidade para os colaboradores (sobretudo com nível de manager ou acima) de muitas das empresas que fizeram parte deste estudo. Em geral, as empresas que disponibilizam aos colaboradores a possibilidade de optar por um veículo elétrico dispõem nas suas instalações de estações de carregamento. Em Portugal, no total, 37% das empresas dispõem já deste tipo de equipamento nas suas instalações (31% em todas as suas instalações). Relativamente à instalação de estações de carregamento em casa dos colaboradores, esta é ainda uma prática pouco comum, sendo que apenas 9% das empresas indicam ter esta prática.
 
VE – Por tudo isto, além do benefício automóvel, as empresas devem começar, também, a pensar no benefício (eventualmente cumulativo) de mobilidade (horas de uso de car-sharing, ride hailing, soluções partilhadas de mobilidade suave)?
MD – Relativamente ao futuro, a expectativa é de que, à medida que as empresas renovem a sua política, possam ser introduzidas práticas mais sustentáveis, com a introdução de soluções mais verdes quer relativamente ao próprio automóvel, por exemplo, limitando o leque de escolha de viatura de acordo com o nível de emissões de CO2, introduzindo cada vez mais modelos híbridos entre as opções disponíveis, oferecendo alternativas como o “car allowance” (já utilizado por 22% das empresas neste estudo), reforçando o incentivo à utilização de transportes públicos (incluindo o pagamento do passe mensal) ou à utilização de transportes alternativos como “car-pools” (algumas empresas inclusivamente disponibilizam um serviço de transportes partilhado regular para os seus colaboradores), quer ao uso de bicicletas.

Função é critério mais importante para atribuição de carro

O nível da função é o fator mais apontado pelas empresas (95%), logo seguido pela necessidade da função (72%), em particular se se trata de uma função que requer deslocações frequentes (por exemplo, de carácter comercial). Segundo os resultados deste estudo da Mercer sobre Políticas de Benefícios Automóvel, foi ainda possível concluir que as principais marcas/modelos de automóveis atribuídas aos diretores de empresa são a BMW (série 5 e X5) e Mercedes (Class CLA); Já aos executivos são atribuídas viaturas Audi (A4), BMW (série 3 e 5) e Volkswagen Passat; para os gestores/chefias intermédias as marcas mais frequentemente atribuídas são BMW (Série 3), ou Volkswagen Golf; Aos restantes profissionais não comerciais poderá ser atribuído um Renault (Clio ou Mégane); e aos comerciais as marcas/modelos mais frequentemente atribuídos incluem o Ford Focus, Opel Astra, Renault Clio ou Volkswagen (Golf). 
A política automóvel é, para a maioria das empresas, definida a nível local (43%), no entanto, para 29% das empresas, este benefício é definido a nível global. A política automóvel é, na grande maioria das vezes (37%), revista “quando necessário”, sendo que no questionário realizado, apenas 18% das organizações afirmam rever esta política anualmente e 33% entre dois e três anos.

 


Aquiles Pinto aquilespinto@vidaeconomica.pt, 30/07/2020
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