Setor do turismo precisa de 50 mil profissionais;

António Marto, presidente do Fórum Turismo, alerta
Setor do turismo precisa de 50 mil profissionais
Os profissionais do setor do turismo são qualificados e também reconhecidos no exterior, destaca António Marto.
Portugal tem uma enorme escassez de recursos humanos no setor do turismo. O país precisa entre 45 e 50 mil profissionais, sendo determinante captar e qualificar talento. Neste contexto, a Feira de Emprego, evento organizado pela Bolsa de Empregabilidade, que tem lugar no dia 29 de março, no Palácio da Bolsa, assume especial importância – referiu à Vida Económica António Marto, presidente do Fórum Turismo e fundados da Bolsa de Empregabilidade.
Vida Económica - O que é esperado deste evento?
António Marto -
As feiras de emprego que organizamos são uma resposta à necessidade de juntar as empresas que procuram colaboradores no turismo aos profissionais do setor que procuram uma oportunidade para trabalhar. Na próxima feira esperamos criar condições para aumentar as probabilidades de contratação dos candidatos ao colocá-los cara-a-cara com os recrutadores. Ao mesmo tempo, queremos facilitar a identificação de talento por parte das organizações. De evento para evento, o nosso objetivo passa em larga medida por “olear” todo este processo, de modo a torná-lo o mais eficiente possível para ambas as partes.

VE - Qual a atual situação no que concerne ao mercado dos recursos humanos no setor do turismo?
AM -
Verifica-se uma crescente falta de pessoas, situação que já não era nova em 2019. Mas, e perante uma circunstância anómala que a todos surpreendeu, como a pandemia, verificou-se o encerramento de inúmeras atividades ligadas ao turismo, com o consequente abandono do setor por parte de inúmeras pessoas. Estes acabaram por migrar para outras áreas de atividade, ou, inclusivamente, abandonaram o país. Agora, com o retorno da atividade e a previsão do aumento da procura turística nos próximos tempos, estima-se que Portugal precise entre 45 mil a 50 mil profissionais no setor. Mais do que nunca, torna-se fundamental reconquistar, captar, manter e qualificar talento.

VE - Os profissionais portugueses estão bem preparados?
AM -
O mercado português goza de boa reputação. Os portugueses são vistos como qualificados, com uma excelente preparação e aptidão para falar inglês. Além disso, temos a fama de povo hospitaleiro, num país com características endógenas únicas para receber pessoas dos quatro cantos do planeta. Um exemplo desse reconhecimento, e da nossa capacidade de adaptação às mais variadas áreas e regiões do globo, alguns responsáveis da Virgin Voyages, uma empresa de cruzeiros com sede em Miami, deslocar-se-ão a Portugal para recrutar, aliciados pela especialização e a competência dos profissionais nacionais. E estarão na Feira de Emprego no Palácio da Bolsa.

Recorrer a mão de obra estrangeira

VE - Vai-se continuar a recorrer, em grande medida, à força laboral estrangeira?
AM -
Essa é uma tendência de mercado que veio para ficar. Para quem recruta é benéfico, pois uma das dificuldades do setor passa exatamente pela escassez, pelo que é  imperativo ter capacidade de atração. Para os imigrantes, trabalhar em Portugal é igualmente uma situação bastante vantajosa, em especial, ao nível das condições laborais e dos salários auferidos. No entanto, para todas as organizações que tenham em mente recorrer a esta estratégia, é fundamental levar em consideração que a mesma vai implicar um investimento em formação.
VE - Este tipo de eventos tem um impacto efetivo no mercado das contratações?
AM - Sentimos que os eventos organizados pela Bolsa de Empregabilidade têm, efetivamente, um impacto muito positivo nas empresas e candidatos. Seja para contratações de efeito imediato, como resposta a necessidades de estágios ou no que respeita à angariação de CV para oportunidades futuras. Não temos forma de apurar o número certo de contratações efetivas daqui resultantes, uma vez que os processos de contratação pós-feiras de emprego são conduzidos diretamente com os candidatos. No entanto, sabemos que, até ao momento, e na sequência dos eventos realizados em Vilamoura e Lisboa, as empresas estão a analisar os currículos recolhidos, com inúmeros candidatos a serem chamados para segundas entrevistas. Por certo que não será coincidência, já temos mais de 1400 pessoas inscritas para a nossa feira no Porto, bem como cerca de 60 entidades parceiras, que marcarão presença no Palácio da Bolsa.

VE - As condições neste mercado de trabalho têm de ser melhoradas?
AM -
Se o objetivo é aumentar o número de profissionais no turismo, sem dúvida. É importante passar uma imagem diferente do setor e apostar no employer branding. Para isso, é preciso perceber quais as condições que os colaboradores atuais reivindicam. Muitos não falam apenas de melhores salários, mas também de melhores horários, do cumprimento dos períodos de descanso, de turnos mais flexíveis e de um ambiente de trabalho mais saudável. Cada vez mais, e isto observa-se sobretudo entre as camadas etárias mais jovens, valoriza-se o equilíbrio entre vida laboral e pessoal. Se as empresas forem capazes de dar resposta a estas necessidades e adaptarem-se, os efeitos vão ser positivos do ponto de vista humano, mas também para os níveis de produtividade.
24/03/2023
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