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Banco público perde quota no crédito concedido

Santander ultrapassa CGD como maior banco em Portugal

A CGD teve uma redução de 1,9% no total de crédito concedido às famílias e empresas, diminuindo a sua carteira para 41,34 mil milhões de euros no final do terceiro trimestre de 2020. Com esta quebra, a CGD foi ultrapassada pela primeira vez pelo Banco Santander, que aumentou o crédito concedido para 42,5 mil milhões de euros, representando mais 6,4% face ao final de 2019. Para este crescimento contribuiu o crédito a particulares, que subiu 4%, e o crédito às empresas, que teve um aumento de 6,4%.
 
A perda da quota de mercado da CGD foi maior no crédito aos particulares, onde o total de crédito concedido baixou 1,5%, com quebras no segmento da habitação e no crédito ao consumo.
No crédito às empresas a CGD teve um aumento de 3,4% face ao ano anterior, mas não evitou a perda de quota no segmento porque ou outros bancos conseguiram maiores crescimentos no financiamento da atividade produtiva.
Para a perda da quota de mercado da CGD contribuiu o corte no financiamento concedido ao setor público que diminuiu 23,9%. Assim, a Administração Central e a Administração Local estão a ter menos financiamento da CGD e a fazer mais operações de crédito com os bancos privados.
 
Depósitos não são convertidos em financiamento
 
Apesar da redução do crédito concedido, a CGD foi o banco do sistema bancário que conseguiu o maior crescimento em volume de depósitos, com um aumento de 9%, reforçando a primeira posição na captação de recursos. Este acréscimo significativo de depósitos não parece estar a ser aproveitado para acompanhar a procura de crédito das empresas e das famílias.
Por outro lado, o volume de crédito da CGD em moratória é muito inferior à medida dos outros bancos, o que também tem reflexos negativos sobre a quota de mercado.
 
Millenniumbcp aproxima-se 
da segunda posição
 
Se a CGD não inverter a tendência de diminuição no crédito concedido, poderá ser ultrapassada pelo Millenniumbcp. Este banco ocupa a terceira posição do sistema, com 38,5 mil milhões de crédito concedido, estando cada vez mais próximo da CGD. O Millenniumbcp teve um aumento de 3,6% no crédito concedido e uma progressão de 4,5% no segmento das empresas. 
Em termos de depósitos de clientes, a taxa de crescimento do Millenniumbcp foi 3,9%, o que representa menos de metade do crescimento do banco público.
 
BPI cresce 5,4%
 
Entre os quatro maiores bancos do mercado português, o BPI foi o que mais cresceu, ganhando quota de mercado não só à CGD mas também às outras instituições de crédito.
O total de crédito concedido atingiu um novo máximo de 25,2 mil milhões de euros, que representa um aumento de 5,4%. No crédito às empresas, a subida também foi muito acima da média dos outros bancos, com um aumento de 6,6%.
Além de registar os maiores aumentos no crédito concedido, o BPI teve também a maior taxa de crescimento nos depósitos de clientes, com uma progressão de 9,9%.
Apesar de ter uma quota de mercado bastante inferior ao três concorrentes diretos, o ritmo de crescimento do BPI pode significar que o objetivo é encurtar a distância em relação aos maiores bancos do sistema.
Perda de quota de mercado da CGD era inevitável
 
Para Luís Ceia, presidente da CEVAL – Confederação Empresarial do Alto Minho, “a perda de quota de mercado da CGD, que já vem de anos anteriores, pode ser explicada pela cobrança de custos de manutenção das contas e aumento das comissões praticadas. Uma menor agressividade na oferta de soluções de crédito, também poderá constituir motivo para a não captação de novos clientes e migração dos seus para outras instituições financeiras”. Para Luís Mira Amaral, ex-ministro da Indústria e Energia, esta situação antevia-se: “Desde a minha passagem pela CGD percebi que a CGD teria condições para competir com os grandes bancos nacionais que na altura eram o BCP, o BES e o BPI mas o Santander estaria claramente noutro patamar. Era uma questão de tempo até que o Santander ultrapassasse a CGD, o que aconteceu agora sem surpresas para mim”. Rafael Campos Pereira, vice-presidente da AIMMAP, também não se mostra surpreendido: “Não me surpreende. A CGD há muito que deixou de procurar diferenciar-se da concorrência pelo facto de ser um banco público. É verdade que a CGD é um banco de capitais públicos. Mas desde há alguns anos que já não é um banco de serviço público”.
“Tendo em conta que o setor bancário é fortemente regulado, estes especialistas consideram que a perda de quota da CGD pode significar que há uma tendência inevitável para a redução do papel do setor público e para o crescimento do setor privado nas diversas áreas de atividade”, afirma Luís Ceia.
“A CGD é no setor bancário europeu um caso quase singular de termos um grande banco público a concorrer com bancos privados num mercado concorrencial. Assim sendo, temos o mercado a funcionar e a CGD sujeita a uma concorrência crescente dos bancos privados e é nesse contexto que aceito com toda a naturalidade que a CGD perca quota de mercado para a concorrência”, refere Mira Amaral.
“A perda de quota, importância e influência da CGD, mais do que uma tendência, é um facto relativamente consumado. No setor bancário, não há dúvidas de que se consumou já um esvaziamento da importância do segmento público. Pode ser que o eventual desenvolvimento do designado Banco do Fomento possa vir a alterar esse panorama. Mas sinceramente, considerando a dificuldade que o mesmo tem revelado em arrancar, confesso que nem por essa via existem grandes razões para acreditarmos numa revitalização da banca pública”, conclui Rafael Campos Pereira.

João Luís Peixoto de Sousa, 13/11/2020
 
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