Mercado português da joalharia vale 1,5 mil milhões de euros

O mercado português da joalharia representa um volume de negócios anual de cerca de 1,5 mil milhões de euros. As exportações têm um valor superior a 313 milhões de euros. “As empresas do setor têm revelado capacidade de resiliência e de se reinventar, mantendo um equilíbrio entre tradição e inovação. Há novos desafios, mas também se abrem oportunidades” – revelou em entrevista à “Vida Económica” João Faria. O presidente da Associação de Ourivesaria e Relojoaria de Portugal (AORP) assume que a internacionalização da ourivesaria nacional é uma das maiores conquistas desta indústria nos últimos anos
Vida Económica - Como é que a AORP apoia a internacionalização das marcas portuguesas de joalharia?
João Faria - A internacionalização da joalharia portuguesa é, sem dúvida, uma das maiores conquistas desta indústria nos últimos anos. Conscientes da necessidade de expandir horizontes para além das fronteiras nacionais, a joalharia portuguesa tem investido em estratégias de marketing internacional, participação em feiras nacionais como a Portojóia, organizada pela Exponor, e eventos internacionais e parcerias em diversos países. Este esforço resultou não apenas na presença em mercados globais exigentes, mas também na valorização da herança cultural nacional, agregando valor à marca Portugal e contribuindo para a economia do país.
Nesse sentido, no âmbito dos projetos de internacionalização co-financiados pelo COMPETE 2020, Portugal 2020 e União Europeia, a AORP criou a marca internacional “Portuguese Jewellery - Shaped with Love”, sob a qual desenvolveu campanhas e iniciativas de promoção coletiva, com o objetivo de reforçar a notoriedade e o posicionamento da joalharia portuguesa no mundo. A marca foi desenvolvida com o propósito de agregar marcas de joalharia portuguesas sob uma única identidade e linguagem gráfica, de forma a unir o setor e contribuir para a promoção nacional e internacional da joalharia portuguesa através do desenvolvimento de ações conjuntas em mercados considerados estratégicos para a internacionalização do setor.
VE - Qual o valor das exportações e do mercado, no seu total?
JF - O setor (no seu total), em 2022, gerou um volume de negócios anual superior a 1,5 mil milhões de euros. Este setor é essencial não só pelo valor económico, mas também pela preservação e promoção de uma herança cultural que é reconhecida e valorizada no panorama internacional. O mercado de joalharia português caracteriza-se pela combinação única de tradição e inovação. As empresas nacionais têm sabido preservar as técnicas ancestrais, que conferem uma autenticidade e um valor cultural inestimável às suas peças, enquanto incorporam novas tecnologias e tendências. Esta dualidade e equilíbrio permite que o setor se destaque pela sua qualidade e originalidade e tenha aumentado significativamente a sua presença nos mercados externos. Entre 2021 e 2022, o volume das exportações subiu mais de 20%, para 313 milhões de euros, o valor mais elevado desde 2017.
VE - Quais são as tendências atuais no mercado da ourivesaria e relojoaria em Portugal?
JF - Segundo o estudo “The State of Fashion – Watches and Jewellery”, publicado pela BOF (Business of Fashion) em parceria com a McKinsey & Company, em junho de 2021, foram previstas três grandes tendências até 2025: a transformação digital irá redefinir fundamentalmente as expectativas dos consumidores e das empresas, os consumidores vão preferir marcas próprias de joalharia em detrimento das marcas brancas e as preocupações com aspetos relacionados com a sustentabilidade irão ter um peso considerável na decisão de compra dos consumidores. Nesse sentido, a AORP, enquanto entidade agregadora, promove ações de dinamização que pretendem dar resposta às perspetivas futuras do setor. A estruturação dos investimentos num plano estratégico onde estejam contemplados aspetos como a criação de marcas de joalharia com uma forte componente de storytelling e o investimento em pesquisa de mercado que visa entender as preferências e tendências dos consumidores dos diferentes mercados-alvo, permite o desenvolvimento de estratégias capazes de elevar a reputação do setor, bem como a garantia da sustentabilidade da cadeia de fornecedores, através da certificação do RJC (Responsible Jewellery Council).
Apoios para a formação
VE - Existem programas ou iniciativas específicas de formação para profissionais de ourivesaria e relojoaria?
JF - Sim, em Portugal existem vários apoios disponíveis para a formação de profissionais em joalharia. Estes incluem programas financiados pelo Estado e pela União Europeia, como o Programa de Apoio à Formação Profissional, que oferece cursos especializados em joalharia. O CINDOR promove formação dirigida a públicos diversificados, desde jovens, adultos desempregados ou ativos empregados, para além das ações à medida das necessidades das empresas. Inclusive, fruto de uma candidatura desenhada em conjunto pela AORP e CINDOR, as empresas do setor terão à sua disposição, a título totalmente gratuito, ações de reforço de competências no domínio do digital, no âmbito da Formação Emprego + Digital. “Gestão da presença nas redes sociais”, “E-marketing”, “Comércio eletrónico” ou “Business intelligence”, são vários os cursos preparados especificamente para empresas do setor e que, não temos quaisquer dúvidas, muito as valorizarão!
VE - Que estratégias estão a ser implementadas para promover a sustentabilidade no setor da ourivesaria?
JF - A transição para modelos de negócio com foco na sustentabilidade é um processo inevitável e as empresas que se conseguirem preparar mais cedo vão ter vantagens na afirmação da sua marca e reputação no mercado, por isso a AORP tem promovido junto dos seus associados a divulgação de iniciativas no âmbito do ESG e Finanças Sustentáveis, via informação disponibilizada pelo o IAPMEI que criou um espaço de conhecimento sobre o tema, um projeto que contou com o apoio do POAT 2020 e que pretende ser um centro de recursos para as PME, com o objetivo de as ajudar a incorporar os fatores ESG nas suas estratégias de negócio e a projetar as suas necessidades de investimento nesta área, com recurso aos fundos disponíveis.
VE - Que papel a AORP tem na certificação e regulação dos metais preciosos e pedras preciosas em Portugal?
JF - A AORP, como associação mais representativa do setor e membro do CCO - Conselho Consultivo de Ourivesaria, tem um papel preponderante nas decisões regulamentares e técnicas que impactam os seus operadores económicos. O CCO é um órgão consultivo do conselho de administração da INCM, constituído por representantes de entidades da Administração Pública e das estruturas da sociedade civil mais representativas dos consumidores, industriais, avaliadores e comerciantes do Setor da Ourivesaria.
VE - Quais são os maiores desafios que o setor de ourivesaria e relojoaria enfrenta atualmente?
JF - O setor da joalharia em Portugal enfrenta um período de desafios e oportunidades. A contínua escalada do preço do ouro, embora complexa, pode ser capitalizada pelas empresas que souberem adaptar-se e inovar. As empresas têm mostrado resiliência e capacidade de se reinventar, mantendo a tradição e a qualidade que são a sua marca distintiva, enquanto navegam pelas complexidades de um mercado em transformação. O futuro, embora incerto, promete ser de grande dinamismo e evolução para este setor tão emblemático da economia portuguesa.
João Faria - A internacionalização da joalharia portuguesa é, sem dúvida, uma das maiores conquistas desta indústria nos últimos anos. Conscientes da necessidade de expandir horizontes para além das fronteiras nacionais, a joalharia portuguesa tem investido em estratégias de marketing internacional, participação em feiras nacionais como a Portojóia, organizada pela Exponor, e eventos internacionais e parcerias em diversos países. Este esforço resultou não apenas na presença em mercados globais exigentes, mas também na valorização da herança cultural nacional, agregando valor à marca Portugal e contribuindo para a economia do país.
Nesse sentido, no âmbito dos projetos de internacionalização co-financiados pelo COMPETE 2020, Portugal 2020 e União Europeia, a AORP criou a marca internacional “Portuguese Jewellery - Shaped with Love”, sob a qual desenvolveu campanhas e iniciativas de promoção coletiva, com o objetivo de reforçar a notoriedade e o posicionamento da joalharia portuguesa no mundo. A marca foi desenvolvida com o propósito de agregar marcas de joalharia portuguesas sob uma única identidade e linguagem gráfica, de forma a unir o setor e contribuir para a promoção nacional e internacional da joalharia portuguesa através do desenvolvimento de ações conjuntas em mercados considerados estratégicos para a internacionalização do setor.
VE - Qual o valor das exportações e do mercado, no seu total?
JF - O setor (no seu total), em 2022, gerou um volume de negócios anual superior a 1,5 mil milhões de euros. Este setor é essencial não só pelo valor económico, mas também pela preservação e promoção de uma herança cultural que é reconhecida e valorizada no panorama internacional. O mercado de joalharia português caracteriza-se pela combinação única de tradição e inovação. As empresas nacionais têm sabido preservar as técnicas ancestrais, que conferem uma autenticidade e um valor cultural inestimável às suas peças, enquanto incorporam novas tecnologias e tendências. Esta dualidade e equilíbrio permite que o setor se destaque pela sua qualidade e originalidade e tenha aumentado significativamente a sua presença nos mercados externos. Entre 2021 e 2022, o volume das exportações subiu mais de 20%, para 313 milhões de euros, o valor mais elevado desde 2017.
VE - Quais são as tendências atuais no mercado da ourivesaria e relojoaria em Portugal?
JF - Segundo o estudo “The State of Fashion – Watches and Jewellery”, publicado pela BOF (Business of Fashion) em parceria com a McKinsey & Company, em junho de 2021, foram previstas três grandes tendências até 2025: a transformação digital irá redefinir fundamentalmente as expectativas dos consumidores e das empresas, os consumidores vão preferir marcas próprias de joalharia em detrimento das marcas brancas e as preocupações com aspetos relacionados com a sustentabilidade irão ter um peso considerável na decisão de compra dos consumidores. Nesse sentido, a AORP, enquanto entidade agregadora, promove ações de dinamização que pretendem dar resposta às perspetivas futuras do setor. A estruturação dos investimentos num plano estratégico onde estejam contemplados aspetos como a criação de marcas de joalharia com uma forte componente de storytelling e o investimento em pesquisa de mercado que visa entender as preferências e tendências dos consumidores dos diferentes mercados-alvo, permite o desenvolvimento de estratégias capazes de elevar a reputação do setor, bem como a garantia da sustentabilidade da cadeia de fornecedores, através da certificação do RJC (Responsible Jewellery Council).
Apoios para a formação
VE - Existem programas ou iniciativas específicas de formação para profissionais de ourivesaria e relojoaria?
JF - Sim, em Portugal existem vários apoios disponíveis para a formação de profissionais em joalharia. Estes incluem programas financiados pelo Estado e pela União Europeia, como o Programa de Apoio à Formação Profissional, que oferece cursos especializados em joalharia. O CINDOR promove formação dirigida a públicos diversificados, desde jovens, adultos desempregados ou ativos empregados, para além das ações à medida das necessidades das empresas. Inclusive, fruto de uma candidatura desenhada em conjunto pela AORP e CINDOR, as empresas do setor terão à sua disposição, a título totalmente gratuito, ações de reforço de competências no domínio do digital, no âmbito da Formação Emprego + Digital. “Gestão da presença nas redes sociais”, “E-marketing”, “Comércio eletrónico” ou “Business intelligence”, são vários os cursos preparados especificamente para empresas do setor e que, não temos quaisquer dúvidas, muito as valorizarão!
VE - Que estratégias estão a ser implementadas para promover a sustentabilidade no setor da ourivesaria?
JF - A transição para modelos de negócio com foco na sustentabilidade é um processo inevitável e as empresas que se conseguirem preparar mais cedo vão ter vantagens na afirmação da sua marca e reputação no mercado, por isso a AORP tem promovido junto dos seus associados a divulgação de iniciativas no âmbito do ESG e Finanças Sustentáveis, via informação disponibilizada pelo o IAPMEI que criou um espaço de conhecimento sobre o tema, um projeto que contou com o apoio do POAT 2020 e que pretende ser um centro de recursos para as PME, com o objetivo de as ajudar a incorporar os fatores ESG nas suas estratégias de negócio e a projetar as suas necessidades de investimento nesta área, com recurso aos fundos disponíveis.
VE - Que papel a AORP tem na certificação e regulação dos metais preciosos e pedras preciosas em Portugal?
JF - A AORP, como associação mais representativa do setor e membro do CCO - Conselho Consultivo de Ourivesaria, tem um papel preponderante nas decisões regulamentares e técnicas que impactam os seus operadores económicos. O CCO é um órgão consultivo do conselho de administração da INCM, constituído por representantes de entidades da Administração Pública e das estruturas da sociedade civil mais representativas dos consumidores, industriais, avaliadores e comerciantes do Setor da Ourivesaria.
VE - Quais são os maiores desafios que o setor de ourivesaria e relojoaria enfrenta atualmente?
JF - O setor da joalharia em Portugal enfrenta um período de desafios e oportunidades. A contínua escalada do preço do ouro, embora complexa, pode ser capitalizada pelas empresas que souberem adaptar-se e inovar. As empresas têm mostrado resiliência e capacidade de se reinventar, mantendo a tradição e a qualidade que são a sua marca distintiva, enquanto navegam pelas complexidades de um mercado em transformação. O futuro, embora incerto, promete ser de grande dinamismo e evolução para este setor tão emblemático da economia portuguesa.
