O meu modelo de gestão florestal
No dia 27 maio fiz uma intervenção no Fórum Florestal de Mortágua sobre o tema “O mercado da madeira para pasta e papel: do produtor à indústria transformadora”.
Cheguei às seguintes conclusões:
Na minha intervenção, afirmei “que na produção lenhosa florestal, mesmo o produtor de eucalipto obtém uma débil sustentabilidade económica, para a produtividade média no concelho de Mortágua - 13,6 m3 material lenhoso descascado, por hectare e por ano, para o preço ao produtor de 35J/m3 de material lenhoso descascado, 3 cortes com 12 anos de intervalo.
No modelo apresentado, considerei dois cenários diferentes, um sem terraços e outro com terraços, neste caso para inclinações superiores a 20% - há um incremento de 900J/ha quando há construção de terraço.
Em ambos os casos, faz-se uma boa preparação de terreno com ripagem, com limpeza de cepos com enxó, fertilização de plantações, recurso a boas plantas resultantes de seleção clonal.
Nestes casos, faz-se uma boa gestão florestal para garantir madeira de qualidade através do controlo de matos na linha e na entrelinha, adubação de cobertura e seleção de varas, 4 anos após o 1.º ou 2.º cortes.
Com taxa de atualização de 5%, valores de inflação para os custos de manutenção de acordo com os valores fixados pelo BCE, obtive os seguintes rácios de rentabilidade económica:
Produtividade (m3/ha/ano) | VAL | TIR | Tempo de Retorno | |
13,6 | Com Terraço | 30,57 J | 5,04% | 36 anos |
Sem Terraço | 926,80 J | 6,50% | 23 anos e 9 meses |
Cheguei às seguintes conclusões:
Para manter a mesma rentabilidade do indicado em 1., a diminuição percentual de preços ao produtor tem ser compensada por igual valor percentual de incremento da produtividade;
Para obter o mesmo valor de rentabilidade entre investimento sem terraço e com terraço, deveria haver um adicional de valor ao produtor de +/-6J/m3.
Na minha opinião, as autoridades públicas de regulação de mercado deveriam, a cada 3 meses, controlar o valor acrescentado gerado por cada elo da fileira e fazerem intervenções cirúrgicas para haver equilíbrio de valor acrescentado entre o produtor florestal e a respectiva indústria.
Defendo que deveriam ser elaborados os modelos de sustentabilidade para outras produções florestais lenhosas, bem como, para as produções de floresta de conservação, devendo o Estado repor anualmente a diferença de rentabilidade que existisse entre estas e o produtor de eucaliptos, remuneração de serviços de ecossistema.
Neste caso que proponho, o produtor irá optar por espécies mais sustentáveis ambientalmente porque económica e financeiramente teria o mesmo resultado.
Enquanto esta minha proposta de modelo de remuneração de serviços do ecossistema não for implementada, se o produtor não receber anualmente um valor igual ao que obteria com a espécie mais rentável, não haverá lugar a gestão florestal, nem ordenamento florestal, nem serão controladas as monoculturas florestais.
No Portugal profundo deprimido economicamente, o produtor florestal é inteligente, tem bom senso e racionalidade económica.
Pelo contrário, os decisores políticos dos vários governos, assim como os técnicos que acompanham e aplicam as políticas públicas, não conseguem perceber que sem sustentabilidade económica não há lugar a gestão florestal. Acreditam que podem resolver este problema, através das seguintes falácias: I) se obrigarem por lei os produtores; II) se conseguirem fazer explorações florestais de grande dimensão.
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