Exportações da fileira casa atingirão 2,2 mil milhões de euros este ano;

Gualter Morgado, diretor executivo da APIMA, está otimista
Exportações da fileira casa atingirão 2,2 mil milhões de euros este ano
As empresas do setor da fileira casa têm concretizado um percurso de inovação e resiliência, de acordo com Gualter Morgado.
A fileira casa portuguesa está num processo de crescimento muito positivo no plano internacional.  Mas há desafios que se colocam no atual contexto de incerteza. As empresas são obrigadas a diversificarem mercados e defrontam-se com dificuldades para encontrarem mão de obra qualificada. Ainda assim, “o setor tem uma posição superior em termos de qualidade e design” – adiantou à Vida Económica Gualter Morgado, diretor executivo da Associação das Indústrias de Mobiliário e Afins (APIMA). As exportações deverão atingir 2,2 mil milhões de euros no final do ano.

Vida Económica – Como carateriza a atual situação do mercado da fileira casa?
Gualter Morgado -
O cluster da fileira casa portuguesa, um dos mais exportadores da economia nacional, encontra-se atualmente num percurso muito positivo de crescimento no plano internacional, mesmo em contraciclo em mercados europeus, como Espanha e França. Em 2022, o setor cresceu 12% relativamente ao melhor ano de sempre. Este ano, as exportações estão a crescer 15%, e a expectativa é que superem os 2,2 mil milhões de euros no final de 2023. As empresas portuguesas têm concretizado um percurso de inovação e resiliência que tem vindo a posicioná-las, cada vez mais, como referências de qualidade, design e sustentabilidade no plano internacional, cimentando a sua notoriedade nos mercados tradicionais e abrindo caminho à sua penetração em novas geografias. Nesse domínio, a participação em certames internacionais de referência e o Portugal Home Week têm assumido um papel fundamental.

VE – Quais são os principais problemas que se colocam ao setor?
GM -
Vivemos um período de grande instabilidade política e financeira, com alguma volatilidade nos mercados, na sequência de uma pandemia e face a um ano de conflito em plena Europa. Inicialmente, a inflação assumiu-se como um dos maiores desafios, sobretudo nos segmentos médio e médio baixo, provocando retrações na procura e obrigando as empresas a diversificarem mercados para minimizarem esse impacto em toda a cadeia de valor. No entanto, o impacto da inflação sentiu-se sobretudo no início do ano passado, com o crescimento total em 2022 a absorver o seu efeito e, atualmente, assistimos a uma aceleração em mercados de grande relevo. Embora a incerteza seja a nota dominante neste momento, prevemos que a fileira mantenha uma performance similar à de 2022 e alguns sinais positivos levam-nos a acreditar que existe algum potencial de crescimento no segundo semestre, em alguns mercados. Outro desafio que continua a colocar-se às empresas da Fileira Casa é a necessidade de mão-de- obra, que soma, à atual falta de trabalhadores qualificados, a necessidade de reposição dos artesãos que se vão reformando.

VE – As empresas estão a recuperar bem depois do difícil período da pandemia?
GM -
Sim, as empresas revelaram uma grande resiliência e capacidade de inovação que, aliada à estratégia de internacionalização que tem consistentemente vindo a ser implementada nos últimos anos, permitiu que recuperassem do período pandémico, alcançando agora, enquanto fileira, resultados que superam os de 2019, registando em 2022 o melhor ano de sempre no que se refere a exportações. Os produtos portugueses começam a ser reconhecidos no plano internacional pelo seu design, pela excelência dos materiais, pela qualidade de exceção dos nossos artesãos e pela boa relação qualidade preço que apresentam, nos seus segmentos de mercado. O nosso posicionamento encontra-se num patamar superior de qualidade e serviço, com soluções chave na mão que dão resposta às necessidades mais exigentes.

Plano de internacionalização

VE – Neste momento, qual a estratégia definida pela APIMA para o setor?
GM -
A APIMA tem em curso um plano de internacionalização que tem conseguido, com o apoio da AICEP e do COMPETE, que seja de contínuo apoio às empresas. O plano é de médio e longo prazo, mas que necessariamente é ajustado anualmente (curto prazo) para fazer face às alterações de mercado, sejam elas de foro político (BREXIT) ou devido a conflitos (Guerra na Ucrânia) ou pela realização de grandes eventos como Jogos Olímpicos, Mundial ou Europeu de Futebol, entre outras que impliquem investimentos extraordinários. Este plano tem como ações a participação nos principais certames internacionais, em Espanha, França, Itália, Alemanha, USA, China, Singapura, Índia e Dubai, o apoio à presença nas principais plataformas digitais especializadas do mundo, onde estão os principais concorrentes internacionais, campanhas de promoção do Made in Portugal Naturally em ações estratégicas a realizar em eventos específicos ou de nicho a nível internacional, e, finalmente, ações como o Portugal Home Week, que pretendemos que vá consolidando a sua dimensão estratégica e que continue a ganhar protagonismo no calendário internacional dos eventos ligados à Fileira Casa.

VE – A internacionalização está a decorrer a bom ritmo?
GM -
A estratégia de internacionalização das empresas nacionais está a refletir-se na afirmação e na projeção internacional dos produtos Made in Portugal, que são cada vez mais amplamente reconhecidos em mercados de todo o mundo. Este é um processo longo, que exige resiliência e um acompanhamento contínuo do mercado, de modo a superar a volatilidade dos clientes e a consolidar e manter o processo de exportação. Nos mercados tradicionais, como Espanha e França, as empresas portuguesas estão a crescer em contraciclo, à medida que substituem outros países exportadores, nomeadamente da Ásia, dando resposta à procura por soluções de proximidade e de produtos mais sustentáveis. Recordo que as empresas portuguesas possuem um dos índices de desperdício mais baixos do mundo e que produzem bens de elevada durabilidade, com grande potencial de reciclagem e reaproveitamento, contribuindo assim para a economia circular. Mercados muito relevantes como os EUA continuam também a crescer, tendo passado, no espaço de cinco anos, de 5º para 3º maior mercado de exportação das empresas da Fileira Casa, e assistimos ainda à crescente expressão de novos mercados muito promissores, como a Coreia do Sul.

VE – Qual a importância da Portugal Home Week?
GM -
O Portugal Home Week assume um papel de grande relevo na projeção internacional das empresas da Fileira Casa, sobretudo devido ao facto de, numa lógica inversa e complementar à participação em grandes eventos internacionais, trazer o mundo à esfera de influência das empresas nacionais, numa mostra de excelência onde elas se assumem como as protagonistas indisputáveis. O facto de os visitantes internacionais poderem conhecer as empresas, os seus produtos e até mesmo as suas instalações, devido à proximidade do evento com as sedes das empresas participantes, no seu ambiente e no coração da sua cultura, traz um valor acrescentado incalculável, que tem permitido consolidar e ampliar a sua visibilidade em todo o mundo, passando a sua mensagem de uma forma direcionada, mais próxima e altamente eficaz. Paralelamente ao Home Summit, que é a montra por excelência dos melhores produtos e tendências nacionais, o evento vai mais longe no seu contributo para a geração de conhecimento, contando também com o Home Summit, um think tank com a participação de oradores internacionais de relevo, onde se debatem temas estruturantes para o setor e se identificam soluções de futuro.

VE – Pode adianta alguns dados relevantes sobre o evento?
GM -
Em 2023, esperamos superar todas as edições anteriores do Portugal Home Week, que geraram mais de 10 milhões de euros em vendas diretas. Até ao momento contamos com a confirmação de convidados internacionais provenientes de mercados como os Estados Unidos, Índia, Qatar, Arábia Saudita, Coreia do Sul, África do Sul e de quase todos os países da Europa. Este ano, o evento terá como tema geral do Home Summit “Construir a casa do futuro”, com a participação de oradores de renome internacional, como Clara del Portillo, do Yonoh Studio, Wendy Saunders, cofundadora da AIM ou Paula Santos, vice-presidente da Ordem dos Arquitetos, entre outros.
08/06/2023
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