Usados e particulares “aceleram” financiamento automóvel;

Usados e particulares “aceleram” financiamento automóvel
Os veículos usados e o segmento dos clientes particulares estão na linha da frente da recuperação da operação do período de confinamento na operação das instituições crédito especializado em Portugal. 
Os especialistas veem, ainda assim, um dinamismo crescente na procura de financiamento de veículos novos. O menor dinamismo do mercado de rent-a-car, dos mais impactados pela quebra do turismo em Portugal, também ajuda a perceber o cenário.

PME mais lentas

“O mercado de carros usados e de carros seminovos está a recuperar mais depressa do que o mercado de novos”, disse à “Vida Económica” o head of automotive financial services do BNP Paribas Personal Finance, Pedro Nuno Ferreira. Por tipo de clientes, a mesma fonte indica que “a procura de crédito e o financiamento de clientes particulares e empresários em nome individual estão a recuperar melhor do que a das PME”.

Pedro Nuno Ferreira (BNP Paribas Personal Finance).


Também no caso do Montepio Crédito, os indicadores apontam no mesmo sentido. “O volume de stocks de viaturas usadas tem vindo a diminuir, com especial incidência num aumento da procura nos segmentos de luxo, SUV e desportivos”, refere o presidente do Montepio Crédito, Pedro Gouveia Alves.
O especialista ressalva, porém, que se verifica “um dinamismo crescente” dos operadores de retalho de viaturas novas. “Depois de uma queda abrupta no mês de abril, em que os operadores de retalho estiveram encerrados, assistiu-se a uma progressiva recuperação. Os números de agosto revelam uma queda dos ligeiros de passageiros de apenas 0,1% face ao período homólogo, apesar de uma queda acumulada no ano de 42%”, destaca.


Pedro Gouveia Alves (Montepio Crédito).

“Nesta fase temos sentido uma maior procura dos clientes particulares. Assistimos, no entanto, a uma quebra dos negócios sazonais (nomeadamente relacionados com substituições de frotas de rent-a-car), muito associada à queda registada nas atividades de turismo”, informa Pedro Gouveia Alves, a propósito da tipologia de cliente.
Miguel Couto, diretor comercial do Banco Credibom, elencou, em declarações prestadas à “Vida Económica” em agosto, várias razões para a melhor recuperação do mercado de automóveis usados, com destaque para a agilidade das estruturas das empresas que se dedicam a esse negócio, a paragem do mercado de rent-a-car e as dificuldades de entrega dos operadores de novos. Quanto ao crescimento dos usados, Miguel Couto indica que isso é “parcialmente explicado pelo risco de contágio desta pandemia e que promoveu a procura de transporte privado em detrimento da partilha na mobilidade”.

Empresas retomarão dianteira

O presidente do Montepio Crédito também afirma que “estamos num momento de alguma transformação no comportamento do consumidor, seja pelo impacto da pandemia, em que os consumidores valorizam mais a posse de viatura própria, seja pela progressiva maior sensibilização e incentivos às chamadas viaturas verdes, que certamente induzirá a uma recuperação do mercado dos novos”.
Pedro Nuno Ferreira também vê o “embalo” das empresas no médio prazo. “É natural que a procura das empresas, na saída efetiva do ‘tempo Covid-19’, acelere e tenha um crescimento mais acelerado”, indica.

Mais risco a prazo

O head of automotive financial services do BNP Paribas Personal Finance admite que o cliente médio possa ter mais risco de agora em diante. “Em tese, situações de desaceleração económica, aumento do desemprego e dificuldades nas empresas geram normalmente, ceteris paribus [todo o mais constante], um aumento de risco de crédito no setor bancário, é natural que isso possa acontecer, mas uma retoma económica mais rápida poderá amortecer, ou até anular, este efeito”, considera.


Miguel Couto (Banco Credibom).

Miguel Couto recorda que, em períodos de crise, “o sistema financeiro é sempre afetado por uma subida extraordinária” do incumprimento. “É comum verificarmos a retração e a cautela do setor durante esses momentos, bem como o inverso em ciclos económicos favoráveis. Os comportamentos são cíclicos. O risco adicional na concessão de crédito resulta da incerteza em ciclo económico desfavorável como o que vivemos hoje, e em que medida esse cliente poderá ser afetado. Esta crise é mais desafiadora na antecipação dos seus efeitos, pois é transversal, supranacional e com características de interdependência únicas”, refere o diretor comercial do Banco Credibom.
O presidente do Montepio Crédito realça o papel das instituições financeiras no processo. “O risco do cliente está associado à capacidade de recuperação económica nacional, sendo que os programas de recuperação conhecidos nos fazem ter confiança no futuro e na contenção dos níveis de risco das carteiras. As instituições financeiras têm aqui um papel fundamental na promoção de instrumentos financeiros que permitam dentro dos critérios de solvabilidade dos seus clientes, viabilizar soluções financeiras que permitam aos seus clientes satisfazer as suas necessidades”, defende Pedro Gouveia Alves.

Aquiles Pinto, 02/10/2020
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