“Faltam ‘pontes’ entre os agentes turísticos, os artistas e as cidades”;

Empreendedora cultural Ana Ventura Miranda afirma
“Faltam ‘pontes’ entre os agentes turísticos, os artistas e as cidades”
A empreendedora cultural Ana Ventura Miranda, que há oito anos fundou em Nova Iorque o Art Institut, tem em marcha uma iniciativa em Portugal. De 14 a 21 de setembro, 11 cidades juntam artistas, empresários e programadores. A iniciativa chama-se “RHI - Revolution_Hope_Imagination” e é descrita como um “movimento de aproximação” entre pessoas que pensam, fazem e investem em arte. 
A iniciativa RHI - Revolution_Hope_Imagination realizar-se-á em 11 cidades de Portugal, de norte a sul do país. Assim, de 14 a 21 de setembro de 2019, as cidades de Lisboa, Torres Vedras, Caldas da Rainha, Óbidos, Guimarães, Leiria, Alcobaça, Évora, Vidigueira, Loulé e Funchal acolherão esta iniciativa. Portugal será palco de palestras, workshops e shows para profissionais de arte, público em geral ou simplesmente amantes da arte.
Rhi_Think é uma iniciativa organizada pelo Art Institute que pretende reinventar a cultura contemporânea e mobilizar artistas, agentes culturais e o público para uma nova atitude. Motivado pela necessidade de reinventar o diálogo entre arte, cultura e negócios, Rhi_Think continua e amplia a missão do Art Institute de valorizar a produção artística e criar pontes entre artistas portugueses e projetos mundiais.
“Promover Portugal como destino cultural turístico, renovar e aproximar o diálogo entre arte e o negócio (empresas) e estabelecer um novo diálogo entre cultura e o turismo” é um dos principais objetivos que se propõe alcançar com este projeto, assegura Ana Ventura Miranda. 
 Para além disso, “continuar a missão do Art Institute de internacionalização da cultura contemporânea portuguesa, e, a nível nacional, criar uma rede sustentável de artistas, produtores e cidades, que possam maximizar a produção cultural portuguesa internamente”, acrescenta a mentora do Art Institute. 
Para Ana Ventura Miranda, o objetivo do RHI é o mesmo que esteve na génese do Art Institute, “promover a cultura portuguesa”, mas agora a partir de Portugal para o mundo. “Estamos a dizer a programadores e agentes culturais para virem a Portugal. Com tantos turistas a entrar, acho que há muitas hipóteses para as artes de se expandirem e arranjarem outros mercados”.
A mentora disse também que, “em Portugal, as pessoas já ouviram falar dos eventos promovidos pelo Art Institute, mas muitas vezes não conseguem associar aquilo que está a acontecer e que somos nós que estamos a fazer, porque apesar de estarmos sediados em Nova Iorque, neste momento já o fazemos em 36 países no mundo e em 85 cidades e fazemos uma média de 125 eventos por ano”.
Este projeto, o RHI, além da vertente presencial, contará ainda com uma plataforma online que vai garantir a sustentabilidade dos objetivos da iniciativa, criando redes nacionais e, ao mesmo tempo, abrindo portas para a internacionalização dos artistas portugueses.
Na iniciativa que agora traz a Portugal, os curadores do RHI são já conhecidos: José Luís Peixoto, Afonso Cruz, John Gonçalves, Ivo Canelas, Marta de Menezes, Paula Abreu, Pedro Varela e Nuno Bernardo, entre outros.
 
Turismo precisa que o país tenha uma oferta cultural maior 
 
Questionada pela ‘Vida Económica’ que tipo de relações podem ser estabelecidas entre a arte e os negócios, a cultura e o turismo, Ana Ventura Miranda assegura que entre “a arte e o negócio, em vez de ser sempre a colocação do logótipo por contrapartida a um apoio financeiro, podemos usar outras valências e outro tipo de trocas mais win-win”. Por exemplo, os atores podem fazer ações de “team building” para as empresas ou dar aulas de preparação para apresentações públicas ou de técnicas de relaxamento. Isto vai também, por outro lado, “aproximar os artistas da cultura dessa empresa e provavelmente será mais fácil apresentar propostas que tenham outras contrapartidas para a empresa. Por outro lado, as empresas também poderão ajudar os artistas a construir planos de negócios mais estruturados e numa linguagem mais facilmente percetível pelos seus pares empresariais”.
Na parte da cultura e do turismo, “sentimos que faltam pontes entre os agentes turísticos, os artistas e as cidades, que podem ter mais visibilidade turística mas que muitas vezes tem as estruturas hoteleiras, mas faltam atividades culturais que fixem os turistas mais do que um ‘day trip’. Na plataforma RHI os agentes turísticos podem registar-se e nós faremos a ponte para apresentações artísticas e também a ligação com essas cidades”.
Para a mentora do Art Institute, todas estas áreas estão ligadas entre elas. “As artes precisam das empresas para financiar os projetos e as empresas precisam destas ligações artísticas para chegarem aos seus clientes e terem impacto nos mesmos. Por seu lado, o turismo precisa que o país tenha uma oferta cultural maior, para que os números de turistas sejam sustentáveis. Se assim não for, vai ser difícil que os turistas continuem a regressar ao país para verem sempre os mesmos monumentos. Por exemplo, regressamos sempre a Paris ou a Londres, para vermos espetáculos. Tudo isto em conjunto vai contribuir e muito para a economia nacional, porque incentiva a produção artística e todas as atividades relacionadas com as artes. Isto contribuirá para a sustentabilidade e o aumento do turismo e também para a marca Portugal, uma vez que os investidores internacionais investirão num país que conhecem e que tem uma marca forte. Se conseguirmos, com esta iniciativa, ligarmos todos estes pontos, podemos tornar Portugal também um “case study” nestas áreas e isso também nos posicionará como marca. Além disso podemos, também liderar na Europa este diálogo de modelo de negócio mais próximo do modelo americano, que acreditamos que começará, cada vez mais, a ser olhado pelos países europeus”.
Para a responsável deste projeto, “é essencial criar redes internas no país entre artistas, produtores e agentes culturais, através de uma descentralização pelo país e trazer mais programadores a Portugal, para que conheçam os artistas e a cultura contemporânea portuguesa”. 
De 12 de abril a 12 de maio decorre o “call for artists”, período em que os artistas podem enviar as candidaturas de propostas de espetáculos que depois serão selecionadas e integradas nos eventos RHI. 
 
FERNANDA SILVA TEIXEIRA fernandateixeira@vidaeconomica.pt, 02/05/2019
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