Setor imobiliário aguentou melhor o impacto da pandemia mas com resultados diferentes nos vários segmentos;

Vendas com quebras também na habitação
Setor imobiliário aguentou melhor o impacto da pandemia mas com resultados diferentes nos vários segmentos
O ano 2020 foi claramente um ano atípico para a economia em geral e, como tal, tornou-se um período extremamente exigente para as empresas. O setor imobiliário apresentou alguma resiliência, sobretudo porque alguns segmentos, sobretudo o da habitação, continuaram a crescer. Contudo, há outros segmentos, como a hotelaria, alojamento local e mesmo residencial mais vocacionado para o investimento estrangeiro, que foram fortemente penalizados.
Esta é a opinião partilhada por um conjunto de profissionais do mercado imobiliário, que vão desde a engenharia e construção, arquitetura,  turismo e imobiliário, mas também à componente de financiamento.
“O mercado imobiliário foi aquele que mostrou uma resiliência ímpar”, considera José Araújo, diretor de Crédito Especializado e Imobiliário do Millennium bcp.  Frisa que “é verdade que há segmentos deste mercado que vivem e vão continuar a viver períodos de maiores dificuldades (hotelaria, alojamento local e centros comerciais de maior dimensão), mas existem outros que reagiram melhor e aproveitaram o que lhes foi proporcionado (terrenos para construção de moradias e de prédios nos subúrbios das grandes cidades, logística e escritórios com certa dimensão, localização e condições de arquitetura futura de segurança)”.
Detalhando um pouco mais a componente residencial, José Araújo destaca as “famílias, que deram continuidade aos seus interesses e concretizaram as aquisições já programadas: habitações com mais espaço, mais afastadas dos centros das cidades, mais próximas da natureza e da qualidade que o campo proporciona”.
Para o responsável do Mbcp, temos de ver também as empresas que “aproveitaram para se reestruturar devido à nova realidade do teletrabalho, deslocalizando-se para outros espaços menos dispendiosos ou com melhores condições”.
Também, o comércio de rua “aproveitou a dinâmica decorrente da limitação de circulação e confinamento para disponibilizar mais ativamente os seus produtos e serviços numa ótica local”.
Por fim, destaca que “estes constrangimentos criam oportunidades e em 2020 aprendemos que é importante estarmos atentos, e soluções para um futuro mais longo foram claramente antecipadas”.
Para Aniceto Viegas, diretor-geral da Avenue, o ano 2020 foi completamente atípico para o mundo inteiro, para Portugal e para todos os setores de atividade. O imobiliário não foi exceção. “É, no entanto, um setor que não vive de vendas diárias, mas que avalia a sua atividade numa base trimestral ou anual”, frisa.
Para o responsável do grupo promotor que está a desenvolver um conjunto de empreendimentos de habitação de luxo, sobretudo em Lisboa e Porto, “a atividade comercial esteve praticamente parada durante os meses de abril e maio, mas começou a recuperar a partir de junho 2020 e temos registado uma recuperação bastante positiva desde essa data. Não constatámos uma degradação dos preços de venda; regista-se, no entanto, um ritmo de concretização de vendas mais lento”.

Manter a atividade com vitalidade

Para José Carvalho, CEO do grupo Omega, “enquanto a economia regrediu de forma drástica, o setor imobiliário demonstrou resiliência e capacidade de encaixe”. Destaca que, “pese embora não se ter verificado o ritmo de crescimento dos anos transatos, foi, no entanto, possível manter a atividade com vitalidade e confiança para o futuro”.
Na opinião de José Rui Meneses, CEO da MAP Engenharia, “2020, como ano atípico que foi, podemos caracterizá-lo com um ano extremamente exigente para as empresas. Foi um ano em que foi necessário ter muita coragem para manter o ‘pé no acelerador’, com a incerteza que se viveu”.
Na MAP, acrescenta o responsável, “mantivemos o investimento e com as dificuldades inerentes de sub-rendimento conseguimos cumprir as obrigações que tínhamos junto dos nossos clientes e assumir novos contratos, transmitindo confiança aos investidores”.
José Rui Meneses destaca, também, que “foi ainda um grande desafio a gestão de todos os recursos humanos e manter as equipas focadas e motivadas, com todas as alterações repentinas a este novo mundo e nova forma de trabalhar”.
Martinho Vidal, CEO da Ergicon, considera que, “contrariamente a outros setores da economia (que foram obrigados a encerrar a sua atividade) e que por isso entraram em recessão acelerada, com consequências sociais e económicas sem precedentes, o sector da construção, pelo facto de se ter mantido, ajudou a que a crise não fosse ainda maior e é minha convicção de que também por esse facto a recuperação será mais rápida”.
 Em jeito de balanço, posso dizer que, apesar de todas as restrições e contratempos – nota-se alguma apreensão do mercado e dos seus diversos players –, mas em termos globais, “o ano acaba por ser positivo e as quebras não são acentuadas. No caso da Ergicon em particular (e julgo não ser caso único), até crescemos relativamente ao ano anterior”, destaca.

Vontade crescente de investir

Na opinião de Rui d’Ávila, administrador da Ferreira Construção, “felizmente, no segmento imobiliário em que estamos não houve impacte relevante”.
Acrescenta que “em outubro sentiu-se a preocupação por parte de investidores institucionais, mas, mais recentemente, notamos uma vontade crescente de investir e preparar o 2022 e o 2023”.
João Sousa, CEO do JPS Group, destaca que este foi “sem dúvida atípico em todas as áreas das nossas vidas e esperemos que não se repita, para bem de todos nós”. No entanto, destaca, “em termos de empresa JPS Group, muito por vendermos imóveis em planta e com preços muito competitivos face à elevada qualidade dos nossos projetos, felizmente não sentimos um impacto negativo nas vendas”.
De acordo com o responsável pelo grupo promotor de habitação de gama alta, o “facto de valorizarmos muito os espaços exteriores nos nossos projetos ajudou a que isso acontecesse, sendo que tivemos milhares de pedidos de informação ao longo do ano, com um elevado número de negócios concretizados”.
Para Ricardo Costa, CEO da Luximos Christie´s International Real Estate, quase nenhum setor de atividade económica passou intacto por esta pandemia. No entanto, frisa, “o fluxo global de transações imobiliárias na rede Christie´s International Real Estate manteve-se em níveis elevados, uma vez que contamos com cerca de 32.000 agentes em todo o mundo que continuaram a trabalhar remotamente”.
Por comparação com outras áreas económicas que tiveram de fazer ajustamentos rápidos para sobreviver e empresas que estão a viver situações muito preocupante, “podemos dizer que a Luximos Christie´s tem conseguido encontrar mecanismos para contornar a crise pandémica”, acrescenta.
Ricardo Costa adverte, assim, que “foi efetivamente um ano muito atípico, no qual alguns imóveis registaram um franco aumento na procura, acompanhada da respetiva valorização monetária, enquanto outros produtos, pela sua tipologia e localização, apresentaram alguma depreciação”. Diria que, no cômputo geral, “quem tinha investimentos imobiliários em 2020 não teve motivos para perder noites de sono, o que sinaliza a segurança e forte valor relativo dos bens imóveis”.
Em suma, destaca Ricardo Costa, “quem como nós já suportou crises em ciclos anteriores permanece otimista porque sabe que novas oportunidades surgirão das circunstâncias atuais e irão reforçar as carteiras a longo prazo”.

Investimentos adiados para 2021

A arquitetura, como é o caso do gabinete Ferreira de Almeida Arquitetos, com quase quatro décadas de atividade, tem um relacionamento predominantemente com o mundo empresarial. Logo, estão especialmente sujeitos aos ciclos económicos nos seus altos e baixos.
“A nossa atividade acontece 2 a 3 anos antes da materialização do investimento maior. Os empresários que tinham connosco obras e projetos em curso assim prosseguiram. Aqueles que estavam em fase de arranque ficaram na sua maioria em ‘banho-maria’. Alguns novos e grandes projetos estão no horizonte e em fase de estudo e análise pelos investidores de grande porte para eventual concretização em 2021”, destaca o arquiteto Nelson Almeida. Em resumo 2020 “foi um ano de ‘enxaguar’ as estruturas e aguentar”.
ELISABETE SOARES elisabetesoares@vidaeconomica.pt, 18/12/2020
Partilhar
Comentários 0