Portugal tem de crescer acima da média europeia;

Jorge Vasconcellos e Sá estima que a convergência possa demorar 100 anos ao ritmo atual
Portugal tem de crescer acima da média europeia
“A instituição da liberdade económica é a grande revolução a fazer 50 anos depois da liberdade política”, afirma Jorge Vasconcellos e Sá.
“Como o nosso rendimento per capita é ± 3/4 da média da UE-14, para em termos reais (em euros) os portugueses se aproximarem dos europeus não basta crescerem em percentagem mais que eles, têm que crescer mais 33%, que é quanto dá um a dividir por ¾”, afirma Jorge Vasconcellos e Sá, fundador do Instituto de Liberdade Económica e professor no ISG Business School e AESE.
Para que tal aconteça, Vasconcellos e Sá considera que Portugal tem de ter mais liberdade económica e consequentemente uma cultura de mérito, da qual “uma parte dos portugueses e políticos foge como diabo da cruz”.
Prevendo uma nova convulsão política a breve prazo, “há que aproveitá-la para impor a votação da diáspora pela net”, conclui Vasconcellos e Sá.


Vida Económica- Como surgiu a oportunidade de lecionar na Drucker University em Los Angeles?
Jorge Vasconcellos e Sá - Não se tratou bem de uma oportunidade nova mas de reforçar uma actividade internacional que sempre procurei manter.
Com a reforma da universidade pública portuguesa, foi-me possível acentuar o estrangeiro, muito especialmente universidades americanas, com as quais sempre me identifiquei mais em termos de hábitos de trabalho.
E muito especialmente com a escola de gestão Peter F. Drucker and Masatoshi-Ito Graduate School of Management. Aqui o legado do fundador da gestão é muito forte e procuro contribuir para o seu desenvolvimento.
 
VE – Quais as diferenças que notou para universidades portuguesas?
JVS - Para além do apoio financeiro à investigação, há duas diferenças essenciais. A primeira é as expectativas dos alunos: lêem previamente às aulas para se preparar, etc.
Quando cheguei a Portugal havia alunos que repetidamente tentavam interromper as aulas chegando tarde; falar durante estas; etc. Lembro-me de colegas americanos que vinham a Portugal leccionar ficarem incrédulos.
Os meus alunos americanos, comem e bebem nas aulas, o que é absolutamente admissível porque não perturbam os outros.
 
VE – Disse que havia duas…
JVS - A segunda é a cultura de mérito. Comecei por leccionar numa universidade que tinha criado o primeiro MBA em Portugal. Como éramos poucos professores portugueses convidávamos americanos.
Ao fim de seis meses perguntei a um colega americano qual a grande diferença que encontrava entre Portugal e os EUA.
A resposta foi sucinta: nos EUA o poder está com quem faz; em Portugal com quem pára.
Passados alguns anos fui informar o director que tendo já cumprido as regras para o concurso de agregação e professor associado (grau anterior ao catedrático e que envolvia a publicação de determinado número de artigos em revistas académicas, etc. etc.), ia solicitar as respectivas provas.
A reacção dele foi: já falou com os seus colegas?...!
Achei engraçado e note-se que na altura havia mais lugares vagos que candidatos.
Assim fui mudando de universidade em Portugal de modo a poder manter sempre a minha colaboração internacional. Quer de lecionação, quer do que me dá mais prazer que é escrever artigos académicos e muito especialmente livros, traduzidos em doze línguas.
 
VE – Quais os mais recentes?
JVS - Três sobre economia aplicada.
Um sobre o Brexit como oportunidade. Entre 140 400 alternativas (fruto da multiplicação de 5400 nichos em cada economia nacional por 26 países, isto é EU menos UK e o próprio país), qual o melhor nicho e em que país para substituir as actuais exportações para o UK ou exportações de empresas do UK para a EU?
Outro é sobre o Covid como oportunidade. Quais os segmentos que não só continuam a crescer como aceleram o seu crescimento nas crises: subprime ou Covid. Independentemente da causa e não relacionados com a saúde.
Numa economia em recessão, entre 615 segmentos da economia há 53 que aceleram o seu crescimento e 52 que têm crescimento positivo. Trata-se de segmentos dentro do sector alimentar, tempos livres, vestuário, etc., ilustrando que por detrás de cada risco está uma oportunidade, como dizia Peter Drucker.
O que uma empresa deve fazer é ponderar alargar a sua oferta ao segmento resiliente mais semelhante e consequentemente mais sinergético.
O terceiro livro é sobre os mitos económicos e as causas do crescimento.
Empiricamente não há evidência para a importância do Keynesianismo, industrialização, etc. E as causas do desenvolvimento económico são seis (e vendo um país na sua globalidade como uma empresa, incluindo o sector privado, o estado e o social): estratégia, management, marketing, recursos humanos (ética de trabalho, treino e carácter), R&D e sistemas de informação.
Novamente como dizia Drucker, não há países subdesenvolvidos, há países subgeridos.
 
VE – Regressando à Drucker University, considera que existe alguma influência da Escola Austríaca no pensamento de Peter Drucker?
JVS - Schumpeter, um dos maiores economistas do século 20, era visita e amigo de Drucker (desde Viena de Áustria). Ambos adeptos da liberdade económica.
Um concorrente é um ajudante. Excepto para quem não quer trabalhar.
E o problema com estes não é eles não quererem trabalhar, é – como refere o Apóstolo S. Paulo numa epístola – não quererem trabalhar mas quererem comer. Aí é que começam as dificuldades.
 
VE  - Com base nos ideais de Peter Drucker quais seriam as mudanças mais urgentes para o nosso país?
JVS - Mais liberdade económica. E consequentemente uma cultura de mérito. Mas uma parte dos portugueses e dos políticos foge disso como o diabo da cruz…
Há três tipos de portugueses.
Os dos direitos (e os outros que tenham os deveres porque uma coisa implica a outra). Não é que sejam egoístas, é que nasceram para ser privilegiados. Estes não precisam de ajuda, precisam de juízo.
Parte dos portugueses pura e simplesmente não quer trabalhar.
Trabalhar não é aparecer no emprego para se juntar à brigada do café no fundo do corredor ou à tertúlia do tabaco à porta da empresa.
Trabalho é pontualidade, é concentração, é foco com esforço na tarefa. É organização (o que requer pensar, esforço, mental). Tudo isto custa.
A isto junta-se a falta de sentido de responsabilidade, desleixo, etc. etc. e a falta de humildade para corrigir os erros em vez de os tentar encobrir.
Tudo isto cria em parte da sociedade portuguesa uma cultura de aceitação da incompetência e da irresponsabilidade.
Depois há uma segunda parte dos portugueses que sofrem diariamente uma lavagem ao cérebro e que estão convencidos que não têm que trabalhar. Que o bem estar cai das árvores. Recordam Alexandre O’Neill: nasci em Portugal; fui enganado.
E quer estes, quer os que não querem trabalhar, são financiados pelos restantes que ficam e não emigram. Além dos fundos europeus é claro.
 
 VE -  Quer exemplificar o que quer dizer com lavagem ao cérebro?
 JVS - Certamente: há três aspectos. Primeiro, o que não se diz. Segundo, o que se diz e não é verdade. E terceiro, o manto de silêncio que se tenta impor à sociedade.
Exemplo do que não se diz é que se o ritmo de crescimento desde Abril 74 se mantiver no futuro, Portugal demorará perto de um século a convergir com a média da EU-14. Média. Não com os melhores. Não com a Holanda, Irlanda, Áustria... Mas com a média que inclui a Grécia, a Espanha, a Itália, etc.
Se o passado for prólogo só daqui a cerca de cem anos é que Portugal chega à média europeia e se livra da miséria absoluta e relativa exemplificado p.e. pelo salário mínimo: menos de metade do holandês, ± 40% do irlandês e pouco mais de 1/3 do luxemburguês, curiosamente o país europeu mais produtivo e onde os portugueses representam a maior percentagem da população activa fora de Portugal.
 
VE - Significa isso que os portugueses fazem do pior e do melhor em termos de produtividade na UE?
JVS - Exacto. Do pior porque a produtividade portuguesa é a pior da ex-UE15, mesmo abaixo da grega, que contudo tem um PIB per capita mais baixo por ter mais não activos e desemprego.
Do melhor porque o Luxemburgo é simultaneamente o país mais produtivo da UE e onde há maior percentagem de portugueses na população activa, cerca de 20%.
Como a diferença de produtividade dos portugueses no Luxemburgo e em Portugal é 2,2 vezes, se os nossos compatriotas viessem a Portugal, fariam o nosso trabalho e entrariam em fim-de-semana às 11h30 de quarta-feira.
 
VE - Dá muita importância à produtividade…
JVS - É o problema central da economia portuguesa.
Sendo a produtividade per capita pior mesmo que a grega e a produtividade por hora 60% da UE-15, o PIB per capita é cerca de 70% da média europeia apesar de os portugueses serem dos que mais horas trabalham, terem a maior percentagem de mulheres na força de trabalho e o rendimento advém em parte significativa não da venda de bens e serviços, mas de activos.
Há poucos dias fui à Nazaré. As melhores casas, etc. estão a ficar nas mãos dos estrangeiros. Quanto aos portugueses, esses, são empregados de mesa dos electricistas de Birmingham.
Mas a realidade é pior que (a falta de) produtividade indica. Isto é, a baixa produtividade são as boas notícias.
 
VE-  Em que sentido?
JVS - As más notícias é que a produtividade e o PIB per capita são valores médios.
Ora Portugal de acordo com a ONU (e comparando os 20% mais ricos com os mais pobres) é o 13º país mais desigual no mundo.
E desde 2000 que a produtividade não cresce anualmente significativamente. A taxa anual é zero ou pouco acima dela.
 
VE - Referiu atrás que além do que não se diz, também há o que se diz e não é verdade. Quer exemplificar?
JVS - Um exemplo é a afirmação de quando a taxa de crescimento percentual do PIB português é maior que a europeia, Portugal está a convergir. Não é verdade.
Como o nosso rendimento per capita é ± 3/4 da média da EU-14, para em termos reais (em euros) os portugueses se aproximarem dos europeus não basta crescerem em percentagem mais que eles, têm que crescer mais 33%, que é quanto dá um a dividir por 3/4.
Isto é, se a Europa crescer 2%, Portugal tem que no mínimo crescer 2,66%, caso contrário, em termos reais, de euros, cresce menos. O que conta para o nível de vida são os euros não as percentagens.
Imaginemos que Portugal cresce 2,3% e a Europa 2%. 2,3por cento de 3/4 é 1,7. Mas 2% de 100 é 2. Logo a divergência real em dinheiro aumenta, apesar da taxa de crescimento percentual de Portugal ser maior. Há uma convergência/divergência em termos nominais/percentuais. E uma em termos reais de euros. Esta é que conta.
E não venham dizer que não sabem porque então ainda é pior.
 
VE - E como tem sido no passado?
JVS - Desde 1995, data em que houve uma mudança de paradigma político e incluindo as previsões da UE até 2024, neste período de 29 anos, Portugal convergiu em termos reais em menos de 1/4 dos anos e divergiu mais de 2/3 dos anos (e houve dois anos em que nem convergiu, nem divergiu). Ou seja, três décadas esmagadoramente de divergência.
E as previsões da AMECO para 2023 e 2024 é que Portugal crescerá mais percentualmente mas divergirá em termos reais. Em ambos os anos.
 Não esquecendo naturalmente que Portugal recebe todos os anos fundos europeus, por vezes superiores ao que cresce anualmente em termos constantes.
 
VE -  E o terceiro aspecto da lavagem ao cérebro…?
JVS - Na área política há muitos censores de lápis vermelho a auto atribuírem-se o direito de limitar a liberdade de expressão.
O que num sistema igualitário e livre, é obviamente uma contradição de termos.
Se eu posso censurar-te tu também podes, excepto se eu me considerar mais que tudo. Morre a igualdade.
Se ambos podemos, tu podes, eu posso, tu podes, eu posso, e assim sucessivamente e no fim não há liberdade de expressão.
E se for a maioria a decidir o que pode ser dito, que acontece à protecção das minorias que é um aspecto fulcral da democracia permitindo que a minoria de hoje possa ser a maioria de amanhã?
O que me surpreende é a arrogância de uns se considerarem mãezinhas e paizinhos dos outros. A única solução é obviamente deixar falar. Como disse a comunista Rosa Luxemburgo, a liberdade é sobretudo a liberdade dos outros.
 
VE -  Faz recordar a polémica à volta do Twitter…
JVS - Precisamente. Há umas semanas um jornalista de um semanário vulgo de referência veio defender a limitação da liberdade de expressão com o argumento da responsabilidade pela verdade. E que portanto tem que haver limites à liberdade.
Este é precisamente o argumento que se fazia no Estado Novo, antes do 25 de Abril: proteger os coitadinhos, isto é nós todos, das mentiras.
Mas relativamente à definição de verdade há dois factos cruciais.
Primeiro, quem define o que é verdade? Quem os elegeu? Porque são mais que, os papás e mamãs dos outros?
Segundo, aceitar restrições é impor censura. É incomparavelmente melhor impor responsabilidade pelos tribunais à posteriori.
Donde previamente só se pode restringir a liberdade de expressão em duas situações: 1) apelo imediato à violência; e 2) assuntos cruciais de segurança.
O resto é matéria de tribunais. À posteriori. Os censores não se devem substituir aos juízes. É a primeira emenda à constituição dos EUA. Deixar falar.
E se se quiser, pode-se fazer como no Twitter, quando houver uma outra versão dos factos, dos acontecimentos, juntá-la após o tweet. Assim se tem duas versões e se deixa as pessoas adultas escolher. Em vez de nos tratarem como atrasados mentais. Que arrogância é esta? 
 
VE - Nos artigos que escreve, refere que a qualidade dos portugueses que saem é superior à dos cidadãos que ficam. Com a vaga atual de novos residentes estrangeiros espera uma melhoria dos cidadãos nacionais em termos de atitudes e abertura à mudança?
JVS - Há três razões para o superior desempenho dos portugueses no estrangeiro: primeiro, e deixando de lado as excepções que confirmam a regra, os portugueses que emigram são dos melhores em iniciativa, assunção do risco e capacidade de trabalho.
Segundo, a atitude é diferente já que jogam fora de casa. E terceiro, o sistema no estrangeiro também, isto é, os incentivos da sociedade.
A vinda de estrangeiros sobretudo de países onde impera a ética de trabalho é um factor positivo, até porque as pessoas aprendem mais pelo exemplo do que pelas palavras, mais pelos olhos que pelos ouvidos.
Contudo muitos dos estrangeiros vêm para se reformar, não para trabalhar; e outros isolam-se e optam por não fazer ondas.
De qualquer modo não devemos esperar que os outros, neste caso os estrangeiros, façam o que é nossa responsabilidade fazer.
 
VE - Tendo em conta as políticas públicas, as práticas de gestão, e os fatores culturais onde estão os maiores obstáculos ao aumento da competitividade?
JVS - O modelo de negócio de Portugal é um círculo vicioso que começa (primeiro) com Bruxelas a dar dinheiro aos políticos para haver tranquilidade não indo os países à falência (o que é a grande diferença face à primeira república e daí não ser necessário um Professor Oliveira Salazar).
Depois o dinheiro é usado para em parte engordar o estado e suas clientelas amigas – aliás recentemente o dr. João Luís de Sousa escreveu um artigo sobre isso – e outra parte para alimentar o eleitorado tradicional. O qual acomodado vota em conformidade.
Dinheiro de Bruxelas. Pão e circo. Votos.
 
VE – Significa que na sua opinião há grandes semelhanças entre a república do início do século vinte e a actual…
JVS - Creio ser óbvio. Primeiro, em ambos os casos Portugal atrasou-se face à Europa. Segundo, houve emigração maciça. E terceiro, a população diminuiu na primeira república e a tendência agora é a mesma.
A diferença é que antes não havia fundos europeus e agora há.
Quanto às causas, há a já referida causa comum que é uma parte dos portugueses serem avessos ao esforço. Físico ou mental, de organização. Isso mantém-se.
E duas causas conjunturais que foram desastrosas. A morte de Sá Carneiro. E a derrota de Freitas do Amaral em 1985 quando tinha tudo para ganhar na segunda volta.
Na altura Freitas do Amaral era um liberal e não tinha antagonismo com Cavaco Silva, não indo consequentemente estabelecer – como o veio fazer o presidente eleito - um clima de guerrilha institucional que levou ao desgaste, saída voluntária de funções e a instauração de políticas anti-liberdade económica praticamente ininterruptas nos últimos quase 30 anos.
Período durante o qual, logo quando puderam e no meio dos mandatos dois primeiros-ministros foram para o estrangeiro: António Guterres e Durão Barroso. Porque será? Um dizia que era um pântano. O outro…
É contudo óbvio que Portugal tem tudo para ser um dos países mais ricos do mundo. Localização entre os dois blocos mais ricos, Europa e EUA. Clima ameno avesso a extremos de temperaturas e catástrofes. Uma zona marítima enorme. Facilidade para as línguas. Beleza natural. Inserido no bloco mais rico.
Mas a tendência, essa é perversa. Nos últimos 25 anos até ao Covid os países da coesão, Portugal incluído, receberam cerca de 50 biliões de euros, sem contar com fundos específicos para a agricultura, pescas, etc.
O resultado? Primeiro, Portugal não convergiu com a Europa. Segundo, cresceu menos ano após ano do que recebeu em todos os tipos de fundos. Terceiro, o seu ranking na transparência baixou de 22º para 30º. Quarto, em liberdade económica de 38º para 62º. E quinto em competitividade passou de 32º para 39º.
Pelo que o passado não indica nada de auspicioso para o futuro. Cada um tem direito à sua opinião, mas ninguém tem direito aos seus próprios factos, isto é, à sua própria realidade.
 
VE –De facto, o nosso país tem evoluído em termos de infraestruturas e tecnologia. Mas continua a marcar passo no aumento da competitividade? Como vê a evolução de Portugal face aos outros países europeus em termos de competitividade? Qual a solução?
JVS -Não há competitividade sem concorrência. E não há concorrência sem liberdade económica.
Escrevi três livros a alertar para o que aí vinha. “Portugal a voar baixinho” e “Daqui por dez anos” na década de noventa. E “Portugal Europeu?” em 2003, há vinte anos. E criei o instituto de liberdade económica há duas décadas quando ninguém falava disso.
A instituição da liberdade económica é a grande revolução a fazer 50 anos depois da da liberdade política.
Parte da população opõe-se. Parte tem de ser convencida. E a mudança tem de vir da restante através da alteração do mapa eleitoral, aproveitando a próxima crise.
 
VE – Próxima crise?
JVS - Tendo Portugal ido à falência três vezes desde 1974, não é de excluir nova convulsão a breve prazo.
Há então que aproveitá-la para impor a votação da diáspora pela net. Ao fim e ao cabo depois de Malta, Portugal é o país europeu com maior percentagem de população no exterior. E a votação pela net de que a Estónia foi pioneira, é prática frequente e testada. Cujos inconvenientes são inferiores às vantagens. E com esta reforma estrutural nunca nada será o mesmo em Portugal.
É claro que há várias medidas económicas que se deveriam tomar já, mas não acredito que haja condições.
Por exemplo, diminuição de impostos sobre as horas extraordinárias, prémios de produtividade e programas de partilha de lucros das empresas, para promover a produtividade. Ou ligar o FEF para as autarquias ao montante de subcontratação aos privados, por oposição aos custos internos das câmaras.
Todos contratos colectivos deveriam por lei, obrigatoriamente, conter uma parte sobre remuneração variável, podendo as empresas optar por um de dois esquemas descritos em anexos.
Algumas associações europeias têm departamentos que ajudam as empresas a instituir programas de aumento de produtividade. De organizações e métodos. E de incentivos.
Porque não fazem as associações portuguesas um benchmarking, em vez de estarem preocupadas apenas com receber fundos comunitários ou gabarem-se a despropósito por tudo e nada, quando ao fim e ao cabo não passam de subempreiteiros de mão-de-obra barata fruto de salários mínimos.
As medidas de cima parecem óbvias mas o seu tempo ainda não chegou. Não é hoje possível implementar.
 
VE – E até lá?
JVS - Até lá, defendemo-nos do sistema de um ou dois modos.
Primeiro ir para fora cá dentro. Ou criando ilhas de excelência, insuladas do meio ambiente. Ou fazendo o bypass trabalhando para o exterior. De cá para fora. Dada a morte da distância.
E segundo contribuindo no dia-a-dia para mais Europa em Portugal. Apelando sistematicamente e consequentemente aumentando a intervenção de Bruxelas. A todos os níveis. Sistematicamente. Uma pergunta de um burocrata central incomoda muito um burocrata ou político local. E apesar de tudo são preferíveis os burocratas europeus que a alternativa.
Mais uma razão para se ser europeísta convicto. Ao fim e ao cabo, S. Paulo em determinada altura da sua vida não apelou a Roma?
Mas ambas coisas são paliativos porque um mau sistema derrota sempre uma boa pessoa.
 
VE –Não se referiu à corrupção. Contudo recentemente têm sido inúmeros os casos no mínimo de conflito de interesses…
JVS - No ranking da Transparência Internacional Portugal ocupa o 32º no mundo em termos de transparência e a UE tem 27 países.
É sabido que a corrupção é um imposto sobre o desenvolvimento. Desvia o dinheiro de aplicação eficiente de recursos (preço, qualidade e prazo) para a incompetência.
As causas são três. Primeiro a dimensão do estado. Depois o DNA: a tendência para os lobbies, tribos, para fugir à concorrência do mérito. E finalmente a vaidade: Eu sou filho de; Omeu nome é...; Sentem-se “entitled”, com direito a.
Como aliás já os visitantes ingleses no século 19 apontavam. São os ditus: donos disto tudo. A vários níveis, é claro, uns tendo herdado mais, outros menos. Mas há uma diferença entre pessoas ricas e pessoas com dinheiro. Não é a mesma coisa. O que é que fizeram na vida? Não é a Bíblia que diz: pelos seus frutos os conhecereis?
Creio que foi o actual Presidente da República que quando se demitiu de líder do PSD disse: são todos muito importantes.
 
VE –E a solução para a corrupção?
JVS - A principal entre todas é permitir e alargar tudo à volta da delacção premiada, das denúncias anónimas, etc.
Tem inconvenientes? Tem. Certa vez fui chamado à Polícia Judiciária para explicar como tinha comprado o meu carro…
Mas não havendo nada sem inconvenientes, as vantagens são incomensuráveis. Zangam-se as comadres e…
 
VE –Ainda não percebi se está optimista ou pessimista.
JVS - Optimista se se fizer uma coisa. Mas vamos por partes.
Primeiro as coisas vão piorar antes de melhorar. Até uma pessoa com meio cérebro percebe isso.
Segundo, na próxima convulsão, aproveitar o benefício da dúvida dado pelas vítimas da lavagem ao cérebro para então (terceiro) mudar definitivamente o país eleitoral. Permitindo à diáspora votar pela net e assim acabando com os excluídos. Este é o cerne da questão e se tal não acontecer voltar-se-á uma vez mais ao sistema de bombeiros e tapa-buracos.
Quarto, aproveitar para instituir a liberdade económica. Que exige profissionalismo. Onde a corrente leva todos para a frente. Por oposição a nadar, nadar e devido a uma corrente contrária ficar-se cada vez mais para trás.
É disto que é feito o prazer de trabalhar nos EUA: everything goes and nothing matters. Em Portugal?: everything matters e nothing goes.
 
 
03/02/2023
Partilhar
Comentários 0