Crédito malparado atinge 7200 milhões de euros em Portugal;

Situação tende a piorar em 2023
Crédito malparado atinge 7200 milhões de euros em Portugal
Nível de crédito malparado continua muito acima da média europeia.
Portugal contabiliza cerca de 7200 milhões de euros em malparado no sistema financeiro nacional, o qual equivale a 3,1% do crédito concedido, conclui a Prime Yield na última edição do seu relatório anual “Keep an Eye on the NPL & REO Markets – Portugal, Spain, Greece & Brazil”. O volume de carteiras de NPL transacionadas no mercado português deverá manter-se em torno dos 1700 milhões de euros.
Este rácio de NPL mantém Portugal como o segundo país da Europa do Sul com maior nível de incumprimento, apenas superado pela Grécia, e continua muito acima da média europeia, que atingiu 1,8%.
No terceiro trimestre de 2022, o sistema financeiro nacional registava 7200 milhões de euros em crédito malparado, montante que corresponde a 3,1% do volume total de crédito concedido no país (rácio de NPL) e a venda de carteiras de crédito malparado (Non-Performing Loans, NPL, na sigla inglesa) em Portugal não deverá ir além dos 1700 milhões de euros de volume transacionado em 2023.
Pese embora ambos os indicadores continuarem a exibir uma trajetória de redução ao longo do último ano, Portugal mantém o segundo rácio de NPL mais elevado da Europa do Sul, apenas superado pela Grécia, onde o peso do malparado no crédito total foi de 4,9%. Além disso, não obstante os progressos dos últimos anos, o rácio de NPL português continua a quase duplicar a média europeia, que posicionou este indicador em 1,8% no terceiro trimestre de 2022.
Ainda assim, entre o terceiro trimestre de 2021 e terceiro trimestre de 2022, o stock de NPL em Portugal reduziu 14%, tendo saído 1200 milhões de euros de incumprimento do sistema financeiro, de 8400 milhões de euros (terceiro trimestre 2021) para 7200 milhões de euros (terceiro trimestre 2022).

Bancos mais cautelosos na concessão de crédito
“A redução do stock de malparado nos últimos anos reflete não só o bom ritmo de vendas, especialmente no período que antecedeu o Covid, como a postura de maior cautela do lado da banca na concessão de crédito, através de condições mais restritivas. Além disso, os receios relativos a uma nova onda de malparado advindo da pandemia não se confirmaram, o que contribuiu ainda mais para que esta trajetória de desalavancagem continuasse”, explica Nelson Rêgo, CEO da Prime Yield.
Contudo, para este responsável, “há ainda muito caminho a percorrer no esforço de redução do crédito malparado, pois não só mantemos o rácio de NPL muito acima da média europeia, como estamos em destaque na Europa do Sul, onde apenas a Grécia exibe um peso de malparado mais expressivo que o nosso. Além disso, estamos num momento de grandes desafios económicos e as probabilidades de o rácio de NPL aumentar são bastante fortes. No curto-prazo, isso pode acontecer por via da travagem na concessão de novo crédito, como já sinalizam os últimos dados do crédito à habitação. Se o volume de crédito concedido não aumentar, naturalmente o peso do malparado tende a ser mais expressivo. Num prazo mais alargado, adicionalmente poderemos assistir ao crescimento efetivo do stock de crédito em incumprimento. As taxas de juro não dão sinais de abrandar a subida, cresceram mais rapidamente e durante um período mais alargado que o inicialmente previsto, num contexto de inflação em máximos de 30 anos e travagem do PIB. A incapacidade das famílias e empresas cumprirem as suas obrigações de crédito vai aumentar bastante e isso deverá ser visível já na reta final deste ano”.

CGD mais ativa na venda de NPL
Considerando os processos de venda de NPL em curso no 1º trimestre de 2023, identifica-se um volume potencial de transações próximo dos 1500 milhões DE EUROS, o qual, contudo, deverá aumentar progressivamente nos próximos meses, à medida que forem sendo lançados no mercado novos mandatos, esperando-se que o ano feche com um nível de atividade idêntico a 2022, em torno dos 1700 milhões de euros. Nesta fase, a Caixa Geral de Depósitos destaca-se como a entidade mais ativa, liderando dois processos de venda em curso: o projeto Saturno, avaliado em 600 milhões de euros, e uma outra carteira no valor de 500 milhões de euros, incluindo ativos com e sem colaterais.
“A expetativa para 2023 é que venhamos a assistir a uma estabilização da atividade um pouco por toda a Europa, que deverá fechar com um volume global de vendas muito semelhante ao do ano anterior. Esta é uma tendência que observámos também em Espanha e na Grécia, que são outros países europeus onde a Prime Yield está presente e que se destacam por terem, respetivamente, o segundo maior stock de NPL (21% do total europeu, em 79 mil milhões de euros) e o maior rácio de NPL na Europa (4,9%)”, acrescenta Nelson Rêgo
Para Espanha, a Prime Yield antecipa a venda de portfólios de NPL no valor de 10 mil milhões de euros em 2023, numa quebra de 9% face aos resultados de 2022 e longe dos níveis prévios de um mercado que já transacionou acima dos 20 milhões de euros anuais (2019). Na Grécia, as estimativas são para vendas na ordem dos 15 mil milhões-20 mil milhões de euros, em linha com 2022, e igualmente a cerca de metade do pico de atividade neste mercado, que se posicionou entre os 40 mil milhões-45 mil milhões de euros (2021).

13/04/2023
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