Mercado do alumínio tem falta de mão de obra;

Rui Abreu, presidente da APAL, alerta
Mercado do alumínio tem falta de mão de obra
Os últimos anos trouxeram muitos desafios ao setor do alumínio e as empresas tiveram de se adaptar, destacou Rui Abreu.
O mercado da reciclagem do alumínio é muito competitivo e as empresas do setor estão a desenvolver esforços para se adaptarem a toda uma nova realidade. Entretanto, esta é mais uma indústria em que é notória a escassez de mão de obra. Entre os vários desafios, os operadores têm ainda pela frente o difícil objetivo de atingirem as metas ambientais definidas a nível europeu – referiu em entrevista à Vida Económica Rui Abreu, presidente da Associação Portuguesa de Alumínio (APAL).

Vida Económica - Como caracteriza a atual situação da reciclagem de alumínio?
Rui Abreu -
O mercado da reciclagem de alumínio está muito desenvolvido no que diz respeito à sucata proveniente de processos industriais. A sucata de alumínio tem um valor competitivo, o que torna o processo de reciclagem da sucata (recolha e entrega nas unidades de Reciclagem) muito interessante para os gestores de resíduos. A reciclagem do alumínio proveniente de embalagens de grande consumo (exemplo das latas de bebidas) está mais atrasada. Este mercado está muito dependente de nós, como cidadãos, colocarmos ou não embalagens de alumínio no ecoponto. Neste caso, Portugal tem muito ainda para andar. Mas penso que os esforços estão a ser feitos e podemos facilmente chegar a quase 100% de reciclagem deste setor. O nosso futuro como sociedade neutra em carbono passa pela reciclagem.

VE - Quais os principais problemas que se colocam às empresas do setor?
RA -
A APAL tem como associados empresas do setor da extrusão de alumínio e todo um universo de empresas que apoiam este setor (produtores de tintas, produtores de produtos químicos para o tratamento de superfície do alumínio e empresas que desenvolvem e vendem perfis de alumínio). Como muitos outros setores da indústria, os últimos anos trouxeram novos desafios e as empresas tiveram de se adaptar. É um mercado muito competitivo. Existem muitas empresas a operar no mercado europeu. Eu falo no mercado europeu porque as exportações representam 40% do volume de vendas e com tendência para aumentar. As importações de produtos, por exemplo da Turquia, já estão a causar problemas em alguns países do centro da Europa. No mercado nacional, o setor da construção (que representa direta e indiretamente 50% do volume de vendas dos nossos associados) está mais baixo do que estávamos habituados. Existe alguma recuperação, mas ainda por baixo.
Existe também falta de mão de obra, especializada ou não, tornando o processo de aumentar turnos em alguns casos um pesadelo. O ponto mais importante no futuro será a capacidade das nossas empresas adaptarem os seus processos de produção à estratégia da União Europeia de se tornar neutra em carbono no ano 2050. Produzir o mesmo com menos energia e usando energia livre de carbono. Este é o desafio.

VE - Como funcionam as empresas do setor?
RA -
Neste setor, e no que diz respeito aos associados da APAL, existem empresas multinacionais e empresas familiares. Empresas de extrusão, fundições de alumínio (unidades de reciclagem da sucata de alumínio), produtores de tintas em pó produtos, produtos químicos, empresas que se dedicam a desenvolver e comercializar sistemas para construção, entre outros. Os associados da APAL englobam um conjunto de empresas heterógeno, mas que têm como centro o alumínio. Uma componente muito forte na APAL é participar na definição de regras da qualidade para o tratamento de superfície do alumínio, aumentando assim ainda mais a sua durabilidade. Somos o licenciador geral para Portugal de marcas que o setor do alumínio conhece muito bem: Qualicoat e Qualanod (as duas mais importantes). A APAL juntou-se no passado ao LNEC, mantendo assim regras de qualidade e capacidade de inspeção para o sector. Na realidade este foi o início da APAL, trazer para o país todos estes standards de qualidade no tratamento de superfície do alumínio.

Um mercado livre

VE - O mercado tem regras rígidas?
RA -
Não existem regras rígidas, existe um mercado livre. As regras são toda a legislação existente para a indústria.

VE - Qual o potencial de crescimento no que toca ao mercado português?
RA -
O mercado português, tal como o europeu, é um mercado onde a indústria do alumínio terá um crescimento importante (assim se espera). O setor automóvel, e com a sua eletrificação, vai assistir ao aumento a incorporação de alumínio nos seus componentes. A substituição de outros materiais mais pesados pelo alumínio torna o carro mais leve, logo necessita menos energia para se mover. No setor dos transportes (comboios, autocarros, etc) a situação é a mesma. O alumínio é cada vez mais usado. Neste setor, o investimento massivo dos países nos transportes públicos implica um aumento do consumo. Na construção, e com o apertar das regras para tornar as habitações mais eficientes energeticamente, vai fazer com que as renovações das casas existentes vão gerar uma procura de alumínio maior. Relembro agora o facto do alumínio poder ser reciclado infinitamente e com baixo consumo energético. Vejo a necessidade do alumínio aumentar, pelo que o crescimento do mercado é promissor. Mas nós não vivemos isolados e estamos num mercado livre, a concorrência é forte. Acredito sinceramente que há potencialidades para o nosso setor crescer em Portugal e as exportações aumentarem.

VE - Quais os principais objetivos da associação?
RA -
A APAL nasceu no início dos anos 80 do século passado com o foco nos tratamentos de superfície de anodização e lacagem aplicados ao perfil alumínio extrudido. Na altura chamava-se Associação Portuguesa de Anodização e Lacagem. A Associação foi crescendo e, neste momento, já conta com mais de 50 associados e representando mais de quatro mil colaboradores. Mudou, entretanto, de denominação, passando a chamar-se de Associação Portuguesa do Alumínio. Neste momento existe um movimento muito grande no mundo para tornar toda a nossa economia sustentável. O alumínio tem uma palavra muito importante a dizer para uma sociedade sustentável. A APAL tem qde mostrar ao mercado as vantagens do alumínio para uma sociedade sustentável. Queremos fazer parte desta revolução. Sei que é uma palavra forte, no entanto, considero que passar de uma sociedade insustentável para uma sustentável é uma revolução.
08/06/2023
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