Retorno acionista gerado pelo setor das Telecomunicações com tendência positiva, fixando-se nos 6% nos últimos 5 anos;

Retorno acionista gerado pelo setor das Telecomunicações com tendência positiva, fixando-se nos 6% nos últimos 5 anos
A indústria das Telecomunicações gerou um aumento de 572 mil milhões de dólares em valor criado entre 2019 e 2023, segundo o estudo “2024 Telecommunications Value Creators Report”, realizado pela Boston Consulting Group (BCG), que analisa o desempenho de 59 empresas cotadas do setor a nível global. A média anual do retorno acionista evolui para 6%, o que compara com o valor de 3% reportado no ano passado.
“A criação de valor nas Telecomunicações teve um ano de recuperação, mas continua, em média, a ser inferior à de alguns outros setores. Este é um setor com características de mais baixo risco e tem conseguido entregar esse perfil de menor flutuação no valor gerado. Enfrenta, ainda assim, alguns desafios como as taxas de juro elevadas, a estagnação da receita, e a constante exigência dos investimentos para upgrade tecnológico, como é o caso do 5G”, afirma Eduardo Bicacro, Partner da BCG em Lisboa. “Observamos que, comparando entre operadores de características competitivas semelhantes, as organizações que criam mais valor são aquelas que conseguem crescer o seu negócio ou, nos mercados mais maduros, as que conseguem assegurar uma maior disciplina no controlo de custos, sendo para isso necessário recorrer a novas ferramentas digitais e à transformação do modelo operativo”.

O pagamento de dividendos agregou, neste período, 485 mil milhões de dólares, 85% do valor criado, enquanto o aumento do valor de mercado das empresas gerou apenas 87 mil milhões de dólares (mais de 5 vezes menos). De facto, mais de 40% das empresas estudadas encerraram este período quinquenal com um valor de mercado inferior ao que tinham inicialmente.

As diversas empresas foram categorizadas em quatro arquétipos para melhor se poder compreender e comparar a distribuição do valor criado. As empresas de telecomunicações globais geraram 32% do valor total criado e tiveram um retorno médio anual para os acionistas (TSR) de 7% entre 2019 e 2023, crescendo 4pp. face ao período de 2018 a 2022. Os grandes operadores em mercados domésticos, que representam mais de um terço da amostra, geraram 267 mil milhões de dólares em valor acrescentado, cerca de metade do total do setor, e tiveram um retorno médio de 6% no mesmo período, um crescimento de 3 pp. em relação ao registado entre 2018 e 2022. As pequenas empresas (com receitas abaixo dos 10 mil milhões de dólares) geraram 33 mil milhões de dólares, 6% do valor total, e tiveram um retorno médio anual para os acionistas de apenas 3% no intervalo de cinco anos analisado, ainda assim, com um aumento de 1 pp. face ao quinquénio entre 2018 e 2022. Finalmente, as empresas de infraestruturas, apesar de representarem apenas 10% da amostra, geraram 89 mil milhões de dólares, 16% do valor total, e registaram um retorno médio anual de 10% entre 2019 e 2023, o valor mais elevado dentro do setor. Estas últimas, no entanto, decresceram 2 pp. face ao período entre 2018 e 2022.

Uma nova fórmula para impulsionar a criação de valor no setor
A BCG destaca algumas ações que as empresas de telecomunicações devem implementar para alcançarem os melhores resultados e conseguirem gerar valor:
  • Defender o core e expandir para lá do core. Continuar a trabalhar a equação de valor da oferta core, nomeadamente com a introdução de novas tecnologias, como a IA, solidificando a relação com os clientes. Em simultâneo, apostar em produtos e serviços novos e complementares, captando receitas adjacentes ao negócio principal, o que pode acontecer em verticais como o financeiro ou o da casa inteligente.
  • Maximizar o valor extraído da base de ativos e otimizar custos numa base de mudança paradigmática. Os operadores mais competitivos continuam a explorar ângulos para melhorar o retorno extraído dos seus ativos, tais como fibra e redes móveis, através de modelos de abertura destes ativos ao mercado numa lógica partilhada. Adicionalmente, urge criar uma nova cultura de eficiência, pragmatismo, simplicidade e automação que permita uma mudança no paradigma da base de custos – alicerçado sobre um novo modelo operativo em vez de tentar (apenas) otimizar sobre as lógicas existentes.
  • Apostar numa transformação core-to-cloud dos sistemas de suporte ao negócio e à rede. Ao modernizarem o seu landscape aplicacional e apostarem na migração para a cloud, os operadores que mais valor estão a gerar têm conseguido ser mais eficientes, mais rápidos e mais capazes de entregar boas experiências ao cliente e aos seus trabalhadores. Para além disso, a rede de próxima geração permite explorar ainda todo o potencial da IA e da analítica avançada para planear, construir e operar de forma mais eficiente – com consequências positivas para acionistas, clientes e para o meio ambiente.
  • Traduzir a promessa da IA Generativa em valor. Esta tecnologia tem, de facto, um potencial de trazer todas as anteriores alavancas para um novo patamar de impacto, com destaque para as melhorias na eficiência do serviço ao cliente e nas áreas de suporte (com atividades mais administrativas). No entanto, o potencial desta ferramenta não se esgota numa lógica de custos ou experiência – pode também ser crítica para executar um estratégia de vendas mais eficaz, assente na hiperpersonalização das campanhas.
O relatório está disponível na íntegra aqui.

21/03/2024
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