Rui Madeira: o arquiteto dos ralis
“Criar uma escola de ralis é um projeto que tenho na gaveta e que gostaria de fazer, mas, atendendo ao momento que o mercado automóvel enfrenta, não é a melhor altura” – afirma Rui Madeira, piloto de 53 anos e arquiteto de formação, que foi campeão do mundo e uma referência nacional num percurso onde a sua formação de base muito o ajudou na competição.
Rui Madeira continua ligado ao automobilismo e aos mais novos deixa o conselho: ser disciplinado com os estudos, organizado, persistente, humilde, começar pelo Karting e aprender mecânica. Galp, Delta Cafés e Mitsubishi continuam a ser os seus parceiros há longos anos.
Rui Madeira continua ligado ao automobilismo e aos mais novos deixa o conselho: ser disciplinado com os estudos, organizado, persistente, humilde, começar pelo Karting e aprender mecânica. Galp, Delta Cafés e Mitsubishi continuam a ser os seus parceiros há longos anos.
Vida Económica – O que leva um arquitecto a querer ser piloto e em que medida essa profissão o ajuda?
Rui Madeira - Eu acabo por ser piloto graças à entrada na faculdade e uma das condições familiares era não perder nenhum ano na faculdade, algo que foi atingido com muita dedicação e noites mal dormidas, mas era pela procura do meu sonho!
A competição com adrenalina, a procura da perfeição, a memória visual são fatores que ajudam em muito por ser cada vez mais eficaz nas trajetórias e deram-me muita experiência para, no segundo exato, decidir onde “atacar” nas classificativas e nos troços.
VE - Conseguiu ser campeão nacional e mundial! O que contribuiu para esse feito?
RM - Ter apoios é um dos pilares, depois, muito trabalho de entrosamento com o meu navegador Nuno Rodrigues da Silva dentro e fora do carro, bom relacionamento com os mecânicos e engenheiros, pois são eles uma parte do sucesso.
Considero que aí tenho orgulho de todas as equipas terem gostado de trabalhar comigo porque não era muito exigente e não estragava material, aliás, no ano de 1998 a nossa Equipa Grifone vence Fia Team´s Cup graças a três vitórias nossas e conseguimos disputar esse campeonato com metade do orçamento de pilotos que competiam com TTE, como Freddy Loix ou Marcus Gronholm.
VE - Qual a viatura que mais prazer lhe deu pilotar?
RM - É sempre difícil responder a essa pergunta, mas desde o último Skoda R5 ao Mitsubishi Mirage, com que vencemos as duas últimas edições do rali da Camélias, obviamente, de novas gerações.
Nas gerações anteriores gostei muito de pilotar o Ford Focus WRC, o Toyota Corolla WRC e, o mais divertido, talvez, pelo roncar do motor Boxeur, o Subaru Impreza 555, pois era um carro que parecia indestrutível, um carro de guerra nos ralis, aliás, as saudades foram tantas que representámos Portugal no passado RallyLegends de San Marino / Itália.
VE - Qual a importância que tem um co-piloto para si?
RM - São os nossos olhos na estrada, temos de confiar a 100% no seu trabalho, sobretudo no período dos reconhecimentos.
VE - Olhamos para a vitória de um piloto quase sempre como do piloto, mas é todo o trabalho de uma equipa?
RM - É verdade e não é justo, pois os mecânicos, os engenheiros, o copiloto formamos todos uma equipa, fazem parte integrante da vitória e dos sucessos.
VE – É fácil um piloto conseguir patrocínios? Um piloto consegue viver somente do automobilismo?
RM - Está cada vez mais difícil encontrar patrocinadores. Os meus são parceiros de longos anos, a quem devo muito na minha carreira: a Galp, Delta Cafés, Mitsubishi. Os novos parceiros devem-se à minha resiliência nos projetos apresentados e aos retornos publicitários desenvolvidos ao longo do ano.
Em relação ao viver dos apoios, é impossível nos ralis, pois não existem equipas de fábrica.
No ano em que vencemos o campeonato Mundial Taça Fia de Produção de 1995, estava a fazer estágio profissional de Arquiteto, inclusive, a minha família teve de patrocinar-me, pois os apoios não chegaram para pagar a temporada.
VE - Qual a história mais impactante que viveu no automobilismo? E a que mais o marcou enquanto ser humano?
RM - A vitória no Campeonato do Mundo de 1995 ficará para sempre como sendo dos primeiros portugueses da história do automobilismo a vencer um Campeonato FIA.
A que mais me marcou foi a vitória nesse mesmo ano no RAC, em que fomos nomeados pilotos oficiais para pontuar para a Mitsubishi.
VE - Atualmente, qual a sua ligação ao automobilismo?
RM - Faço provas que dão gozo, por exemplo o Rally Legends, em que encontramos pilotos de várias gerações com elevado palmarés e máquinas fantásticas.
Este ano, deu-me particularmente “gozo” fazer, a convite da equipa IKE Racing, um Subaru Impreza com condições excecionais que foi de testes do piloto Colin Mcrae e que tive o privilégio de estar com toda a família durante os dias de prova.
Também em paralelo, sou embaixador do Rally de Lisboa, uma prova que se está afirmar no panorama do desporto motorizado em Portugal; colaboro desde o seu nascimento com o evento da “Margueira 7 Lisnave” – o Almada Extreme Sprint, depois desenvolvo vários projetos de arquitetura e projetos de kartódromos (o nosso consórcio venceu o Kartódromo do Circuito Estoril que, por falta de verbas, não avançou) e estou a projetar uma pista de Ralicross para o centro de Portugal.
O safari que faltou fazer
VE – O que o move para ainda correr?
RM - A paixão pela competição é algo que nasce e morre connosco, a partir do momento em que achar que não sou competitivo não corro em viaturas R5 (classe mais acessível) ou provas com tempos. Aliás a minha ideia é fazer só provas Legends pelo convívio, espírito e que estas sejam potencialmente proveitosas, para a exposição mediática dos patrocinadores.
VE - O que ainda lhe falta fazer na sua carreira?
RM - Já fiz quase todas as provas de ralis, mas faltou-me uma, o Safari! Talvez seja possível em Clássicos.
VE - Ao dia de hoje, o que dizia a um jovem que quisesse ser piloto?
RM - A base número 1 é ser disciplinado com os estudos, organizado, deve perceber se tem jeito e começar pelo Karting, pela categoria mais económica, pendente sempre da idade com que se inicia, mas o Karting dá uma noção do que são trajetórias, travagens, acertos do Kart, e ao partilhar a sensação de corrida com outros pilotos.
Tem de ser persistente, humilde, não querer ganhar logo, escolher um amigo mecânico que goste muito de ajudar para, em conjunto e espírito de equipa, ir evoluindo, aprender mecânica para transmitir o que pode estar mal, saber ouvir a opinião de quem aconselha, rodear-se de amigos válidos que o ajudem e, se quiser fazer carreira, saber falar fluentemente inglês e outras línguas mas também praticar outros desportos que o ajudem a concentrar-se nos momentos difíceis!
Não se esquecer da imagem da equipa por muito humilde que seja, deve apostar nas ferramentas que existem hoje, as redes sociais e defender sempre a imagem dos apoios para conquistar novos voos.
Falta formação
VE - Existem escolas em Portugal ou no estrangeiro para um jovem poder aperfeiçoar os seus conhecimentos nesta área?
RM - Em Portugal existem uma ou duas escolas vocacionadas mais para a velocidade. Nos ralis é um projeto que tenho na gaveta e gostaria de fazer, mas, atendendo ao momento que o mercado automóvel enfrenta, não é a melhor altura. Lá fora, sobretudo na Finlândia, Suécia e Alemanha, existem várias para os ralis e o trabalho deles é ajudar a dar a confiança ao piloto, em situações mais complicadas, com resultados a nível psicológico elevado, para que passem a dominar e controlar a física, a inércia do carro! Existem alguns pilotos coach, que ajudam muitos pilotos desde o Karting, como é o caso dos irmãos Couceiro. Nos ralis é uma lacuna apesar de se ter iniciado este ano um campeonato Fpak Júnior para jovens pilotos com os KIA Picanto, o que é um princípio positivo!
VE - De que modo as novas tecnologias vieram ajudar o automobilismo?
RM - As tecnologias utilizadas na competição ajudam muito os construtores automóveis a melhorar a segurança dos carros do dia, o controlo de tração, os motores com cilindradas mais baixas mas com melhores desempenhos, as novas suspensões, travões, a estrutura e a segurança dos Rollbar tornam tudo mais fácil e também mais rápido! Até mesmo os simuladores são uma ferramenta muito interessante para os jovens e uma forma de captação de muitos novos valores.
Rui Madeira - Eu acabo por ser piloto graças à entrada na faculdade e uma das condições familiares era não perder nenhum ano na faculdade, algo que foi atingido com muita dedicação e noites mal dormidas, mas era pela procura do meu sonho!
A competição com adrenalina, a procura da perfeição, a memória visual são fatores que ajudam em muito por ser cada vez mais eficaz nas trajetórias e deram-me muita experiência para, no segundo exato, decidir onde “atacar” nas classificativas e nos troços.
VE - Conseguiu ser campeão nacional e mundial! O que contribuiu para esse feito?
RM - Ter apoios é um dos pilares, depois, muito trabalho de entrosamento com o meu navegador Nuno Rodrigues da Silva dentro e fora do carro, bom relacionamento com os mecânicos e engenheiros, pois são eles uma parte do sucesso.
Considero que aí tenho orgulho de todas as equipas terem gostado de trabalhar comigo porque não era muito exigente e não estragava material, aliás, no ano de 1998 a nossa Equipa Grifone vence Fia Team´s Cup graças a três vitórias nossas e conseguimos disputar esse campeonato com metade do orçamento de pilotos que competiam com TTE, como Freddy Loix ou Marcus Gronholm.
VE - Qual a viatura que mais prazer lhe deu pilotar?
RM - É sempre difícil responder a essa pergunta, mas desde o último Skoda R5 ao Mitsubishi Mirage, com que vencemos as duas últimas edições do rali da Camélias, obviamente, de novas gerações.
Nas gerações anteriores gostei muito de pilotar o Ford Focus WRC, o Toyota Corolla WRC e, o mais divertido, talvez, pelo roncar do motor Boxeur, o Subaru Impreza 555, pois era um carro que parecia indestrutível, um carro de guerra nos ralis, aliás, as saudades foram tantas que representámos Portugal no passado RallyLegends de San Marino / Itália.
VE - Qual a importância que tem um co-piloto para si?
RM - São os nossos olhos na estrada, temos de confiar a 100% no seu trabalho, sobretudo no período dos reconhecimentos.
VE - Olhamos para a vitória de um piloto quase sempre como do piloto, mas é todo o trabalho de uma equipa?
RM - É verdade e não é justo, pois os mecânicos, os engenheiros, o copiloto formamos todos uma equipa, fazem parte integrante da vitória e dos sucessos.
VE – É fácil um piloto conseguir patrocínios? Um piloto consegue viver somente do automobilismo?
RM - Está cada vez mais difícil encontrar patrocinadores. Os meus são parceiros de longos anos, a quem devo muito na minha carreira: a Galp, Delta Cafés, Mitsubishi. Os novos parceiros devem-se à minha resiliência nos projetos apresentados e aos retornos publicitários desenvolvidos ao longo do ano.
Em relação ao viver dos apoios, é impossível nos ralis, pois não existem equipas de fábrica.
No ano em que vencemos o campeonato Mundial Taça Fia de Produção de 1995, estava a fazer estágio profissional de Arquiteto, inclusive, a minha família teve de patrocinar-me, pois os apoios não chegaram para pagar a temporada.
VE - Qual a história mais impactante que viveu no automobilismo? E a que mais o marcou enquanto ser humano?
RM - A vitória no Campeonato do Mundo de 1995 ficará para sempre como sendo dos primeiros portugueses da história do automobilismo a vencer um Campeonato FIA.
A que mais me marcou foi a vitória nesse mesmo ano no RAC, em que fomos nomeados pilotos oficiais para pontuar para a Mitsubishi.
VE - Atualmente, qual a sua ligação ao automobilismo?
RM - Faço provas que dão gozo, por exemplo o Rally Legends, em que encontramos pilotos de várias gerações com elevado palmarés e máquinas fantásticas.
Este ano, deu-me particularmente “gozo” fazer, a convite da equipa IKE Racing, um Subaru Impreza com condições excecionais que foi de testes do piloto Colin Mcrae e que tive o privilégio de estar com toda a família durante os dias de prova.
Também em paralelo, sou embaixador do Rally de Lisboa, uma prova que se está afirmar no panorama do desporto motorizado em Portugal; colaboro desde o seu nascimento com o evento da “Margueira 7 Lisnave” – o Almada Extreme Sprint, depois desenvolvo vários projetos de arquitetura e projetos de kartódromos (o nosso consórcio venceu o Kartódromo do Circuito Estoril que, por falta de verbas, não avançou) e estou a projetar uma pista de Ralicross para o centro de Portugal.
O safari que faltou fazer
VE – O que o move para ainda correr?
RM - A paixão pela competição é algo que nasce e morre connosco, a partir do momento em que achar que não sou competitivo não corro em viaturas R5 (classe mais acessível) ou provas com tempos. Aliás a minha ideia é fazer só provas Legends pelo convívio, espírito e que estas sejam potencialmente proveitosas, para a exposição mediática dos patrocinadores.
VE - O que ainda lhe falta fazer na sua carreira?
RM - Já fiz quase todas as provas de ralis, mas faltou-me uma, o Safari! Talvez seja possível em Clássicos.
VE - Ao dia de hoje, o que dizia a um jovem que quisesse ser piloto?
RM - A base número 1 é ser disciplinado com os estudos, organizado, deve perceber se tem jeito e começar pelo Karting, pela categoria mais económica, pendente sempre da idade com que se inicia, mas o Karting dá uma noção do que são trajetórias, travagens, acertos do Kart, e ao partilhar a sensação de corrida com outros pilotos.
Tem de ser persistente, humilde, não querer ganhar logo, escolher um amigo mecânico que goste muito de ajudar para, em conjunto e espírito de equipa, ir evoluindo, aprender mecânica para transmitir o que pode estar mal, saber ouvir a opinião de quem aconselha, rodear-se de amigos válidos que o ajudem e, se quiser fazer carreira, saber falar fluentemente inglês e outras línguas mas também praticar outros desportos que o ajudem a concentrar-se nos momentos difíceis!
Não se esquecer da imagem da equipa por muito humilde que seja, deve apostar nas ferramentas que existem hoje, as redes sociais e defender sempre a imagem dos apoios para conquistar novos voos.
Falta formação
VE - Existem escolas em Portugal ou no estrangeiro para um jovem poder aperfeiçoar os seus conhecimentos nesta área?
RM - Em Portugal existem uma ou duas escolas vocacionadas mais para a velocidade. Nos ralis é um projeto que tenho na gaveta e gostaria de fazer, mas, atendendo ao momento que o mercado automóvel enfrenta, não é a melhor altura. Lá fora, sobretudo na Finlândia, Suécia e Alemanha, existem várias para os ralis e o trabalho deles é ajudar a dar a confiança ao piloto, em situações mais complicadas, com resultados a nível psicológico elevado, para que passem a dominar e controlar a física, a inércia do carro! Existem alguns pilotos coach, que ajudam muitos pilotos desde o Karting, como é o caso dos irmãos Couceiro. Nos ralis é uma lacuna apesar de se ter iniciado este ano um campeonato Fpak Júnior para jovens pilotos com os KIA Picanto, o que é um princípio positivo!
VE - De que modo as novas tecnologias vieram ajudar o automobilismo?
RM - As tecnologias utilizadas na competição ajudam muito os construtores automóveis a melhorar a segurança dos carros do dia, o controlo de tração, os motores com cilindradas mais baixas mas com melhores desempenhos, as novas suspensões, travões, a estrutura e a segurança dos Rollbar tornam tudo mais fácil e também mais rápido! Até mesmo os simuladores são uma ferramenta muito interessante para os jovens e uma forma de captação de muitos novos valores.
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