Tecnológicas portuguesas impulsionam exportações e internacionalização;

Tecnológicas portuguesas impulsionam exportações e internacionalização
O setor tecnológico português representa mais de 6,5% do PIB (dados 2022), emprega mais de 200 mil pessoas (dados 2022) altamente qualificadas em Portugal e que em 2023 terá gerado mais de 5,3 mil milhões de euros.
Apostadas em internacionalizar negócios e atividades, sete tecnológicas portuguesas são unânimes em considerar que Portugal precisa de melhor diplomacia económica e de uma estratégia clara de posicionamento do setor no exterior, que nos promova pela riqueza da capacidade de inovação e de I&D, pelo valor da propriedade intelectual e pela elevada qualidade do talento nacional, em vez da atual tónica na mão-de-obra barata que presta suporte a produtos de outros.



No pequeno-almoço-debate do “Ciclo 2024: Que país é este?”, dedicado às tecnológicas portuguesas, organizado pela Vida Económica e pela VALKIRIAS Consultores, Sérgio Pena Dias, “chairman” da Timestamp, João Paulo Carvalho, cofundador e “senior partner” da Quidgest; Luís Gargaté, “board member” da Critical Software, António Gonçalves, CEO da Extreme Solutions, André Calixto, CEO da Nextbitt, Paulo Figueiredo, CEO da Starkdata, e Vasco Portugal, CEO da Sensei, identificaram o crescimento, a internacionalização e o talento, a par da IA e das grandes mudanças que esta tecnologia está a provocar em todo o mundo, como sendo simultaneamente desafios e oportunidades.
O setor tecnológico português é dinâmico, sofisticado, talentoso, inovador, maduro e resiliente com uma forte componente exportadora que já representa mais de 6.5% do PIB (dados 2022), emprega mais de 200 mil pessoas (dados 2022) altamente qualificadas em Portugal e que em 2023 terá gerado mais de 5,3 mil milhões de euros.
Apesar da instabilidade geopolítica e económica vivida em 2023, as tecnológicas nacionais registaram resultados positivos, crescimento e expansão do negócio, reforçaram as suas equipas, aumentaram as presenças em mais e novas geografias, e, nalguns casos, tiveram mesmo o seu melhor ano de sempre neste período.
A incerteza domina agora 2024, com os vários intervenientes no debate focados em continuarem a fazer crescer e consolidar os seus negócios, mas expectantes e cautelosos.

Captar e reter talento é o desafio

André Calixto afirma que a retenção de talento é o grande desafio do momento. “Portugal é um mercado muito atrativo para empresas muito maiores do que nós e com maior capacidade de aliciar os poucos recursos que existem”. Situação que, segundo João Paulo Carvalho, piora ainda mais pela junção das políticas de atração de investimento e de fomento das exportações e “que têm levado a que a tónica dos vários governos, ao longo de mais de uma década, recaia na atração de grandes empresas internacionais para Portugal, vendendo-lhes o conceito de mão-de-obra de qualidade barata, quando o número de engenheiros que produzimos nem sequer cobre as necessidades do mercado interno. Damos mais condições às empresas internacionais para terem engenheiros baratos em Portugal, do que criamos condições que permitam às empresas portuguesas terem um forte desempenho e notoriedade no contexto internacional”.
Visão que Luís Gargaté partilha, considerando que “a contratação, a retenção e a formação do talento constituem um investimento grande e contínuo. Paulo Figueiredo reconhece a pertinência do tema do talento para qualquer empresa tecnológica, sobretudo de base nacional. Uma posição com que Sérgio Pena Dias concorda, afirmando que “este é um desafio não só de quantidade, mas também, e cada vez mais, tem a ver com a forma como conseguimos harmonizar e maximizar o talento geograficamente disperso”.
Na mesma linha está António Gonçalves: “Nós apostamos muito em termospessoas e empresa satisfeitas, retirando o melhor de cada talento para o negócio e garantindo a produtividade da organização”. Características próprias das empresas mais pequenas e nacionais, que como referiu Vasco Portugal, podem fazer a diferença na hora de contratar e reter talento, porque “as pessoas não estão muito satisfeitas com a experiência nas grandes multinacionais e andam à procura de algo diferente”.

IA é potencial “game changer” para empresas nacionais

A IA é vista como uma grande oportunidade para as empresas mais pequenas, porque lhes permitirá evoluírem para uma posição idêntica à dos grandes “players” internacionais. Segundo João Paulo Carvalho “temos a ideia de que a IA vai uniformizar e democratizar o conhecimento, mas é precisamente o contrário, porque a competência que permite colocar as questões certas e analisar os resultados é essencial e determinará o futuro da IA. Nas mãos de quem não sabe do que está a falar, não sabe analisar as respostas, esta tecnologia vale zero”.
Na mesma linha, André Calixto disse que “se for bem aproveitada, a transição tecnológica que estamos a viver neste momento abre oportunidades muito grandes para as PME. Quem for mais rápido pode ultrapassar as dificuldades de ser mais pequeno”.
Perspetiva que Luís Gargaté corrobora, defendendo que a IA poderá ser determinante a nível da internacionalização e uma verdadeira “revolução prestes a acontecer, com potencial para mudar completamente o jogo. É uma oportunidade única para as empresas mais pequenas passarem a dar cartas no mercado externo”.
Já Paulo Figueiredo advertiu para a necessidade da tecnologia e dos negócios/empresas acertarem o passo, dado que “o ritmo do dinamismo da tecnologia e das empresas não é igual, porque os negócios não estão em disrupção constante. Os negócios têm o seu próprio tempo e a tecnologia tem de se saber adaptar a ele e conseguir suscitar alterações de velocidade que criem uma disrupção saudável. Há realmente uma boa oportunidade na IA, mas é preciso ter cuidado para não criarmos demasiadas expectativas e não cairmos na sensação da falta de qualidade face ao que foi a promessa”.
Uma visão que é também a de Vasco Portugal e António Gonçalves.

Internacionalizar para ganhar escala e crescer

As empresas nacionais estão determinadas a serem bem-sucedidas em áreas e geografias dominadas pelos grandes “players” internacionais e encontrar formas de cooperação ou de associação com outras empresas é o caminho para o conseguir.
Sérgio Pena Dias referiu que “internacionalizar requer muito investimento e nem sempre é possível fazê-lo. A experiência demonstrou-nos que é preferível investir em mercados maduros e complexos, como os europeus que podem ter taxas de crescimento menores, mas têm um nível de perpetuidade muito mais interessante, pelo que a Europa é o nosso grande foco”. Já Luís Gargaté mencionou que a sua empresa, com forte presença no mercado europeu, tem “uma vasta experiência tanto na internacionalização como nas joint-ventures”, um modelo que comprovaram com a BMW para entrarem no mercado alemão e que permitiu “hoje podermos abordar facilmente outras grandes empresas noutros mercados e noutras geografias. Estamos inclusive a equacionar usar este modelo nos EUA”.
Também nos EUA irá apostar a Starkdata e a Quidgest noutras geografias como a Nicarágua, Costa Rica, El Salvador, Jamaica, Timor-Leste e Áfricas. Uma dispersão que se deve, como disse João Paulo Carvalho, a “procurarmos sempre ter uma vantagem competitiva válida à escala global”. Uma estratégia que a Sensei também está a seguir, tendo já entrado no Brasil.
André Calixto observou que para crescer e ampliar o negócio “a internacionalização é uma estratégia fundamental, no contexto da qual as parcerias representam uma forma de alavancagem noutros mercados, sobretudo para empresas de nicho como nós. A Europa será o nosso principal foco nos próximos anos, sobretudo porque são mercados muito mais evoluídos do que os mais emergentes a nível da sustentabilidade”.
Uma posição que a Extreme Solutions de António Gonçalves partilha.

Smart capital e cultura de risco procuram-se

Num setor que cresceu fortemente nos últimos cinco anos, criando uma boa capacidade de alavancagem para as empresas que, porém, pode não ser suficiente para suportar o nível de investimento exigido pela internacionalização, são várias as estratégias e opções possíveis de financiamento, consoante a fase de vida, as ambições e o perfil de cada organização. Autofinanciamento; financiamento junto da banca a taxas de juro controladas; entrada de fundos de investimento (private equity; capital de risco; etc); e fusões & aquisições, permitem aumentar escala e ganhar massa crítica, num país onde à limitação advinda da falta de dimensão acrescem, desde sempre, uma clara aversão ao risco e a ausência de smart capital.
Ainda no contexto dos financiamentos, Vasco Portugal e Paulo Figueiredo sublinharam a importância de uma cultura de risco. O responsável da Sensei considerou que “Portugal não é uma geografia que tenha atração pelo risco, e onde haja muito capital, e muito menos para o nosso perfil de risco inicial”, e revelou que “num primeiro momento tentámos levantar capital junto de alguns acionistas estratégicos do mercado português, nomeadamente grandes retalhistas, mas mais tarde recorremos a um fundo de venture capital de Madrid. No mercado nacional, efetivamente há algum dinheiro, mas falta smart capital”.E o responsável da Starkdata concluiu dizendo que “mais do que tudo precisamos desenvolver e alimentar uma cultura de risco diferente em Portugal tanto por parte dos investidores, como também das entidades públicas.”





16/05/2024
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