Salários em Portugal aproximam-se da média europeia;

Jean-Michel Casa, embaixador de França em Portugal, considera
Salários em Portugal aproximam-se da média europeia
Para Jean-Michel Casa, a economia portuguesa está a recuperar muito bem depois da crise, com um crescimento de quase 3%.
“O custo médio/baixo do salário em Portugal é uma vantagem, mas este panorama está a mudar, pois os salários estão a crescer e a aproximar-se da média europeia”, afirma Jean-Michel Casa, Embaixador de França em Portugal.  
A mão-de-obra qualificada, sobretudo em novas tecnologias, e as competências linguísticas dos portugueses são vantagens competitivas na atração do investimento. Todavia, “começa também a existir uma escassez deste tipo de colaboradores”, acrescenta.
A balança comercial entre Portugal e França é positiva em 1,1 mil milhões de euros.

Vida Económica – Qual a importância desta participação enquanto país convidado desta que é a edição inaugural do “Guimarães Wine Fair”?
Jean-Michel Casa –
Este convite é para nós muito importante, porque esta é a primeira edição do “Guimarães Wine Fair”, cidade que é o centro de uma região de vinhos importantes, como é o caso dos vinhos verdes.
Não posso deixar de referir que este evento é organizado pela Câmara Municipal de Guimarães e pela Associação Comercial e Industrial de Guimarães, contando com o apoio do E.Leclerc, sendo este um grande distribuidor francês de supermercados bem instalado na região Norte de Portugal.

VE – Como vê a evolução recente do comércio externo entre França e Portugal?
JMC –
É uma relação cada vez mais estreita e ativa. Existe um desequilíbrio a favor de Portugal, uma vez que muitas empresas francesas instalaram-se em Portugal, exportando a partir daqui para toda a Europa, O que reflete o dinamismo desta relação bilateral muito importante.
Exemplo disso são os números do investimento francês em Portugal, que em junho de 2018 atingia cerca de 6,3 mil milhões de euros. Para além disso, em 2017 existiam mil empresas francesas em Portugal, com cerca de 46 mil empregados. Já os investimentos portugueses em França ascendiam, em junho deste ano a 1,2 mil milhões de euros. Os dados de 2017 indicam-nos ainda que existem cerca de 200 empresas portuguesas em França com cerca de 5600 funcionários.
Os dados de 2017 indicam ainda que ,quanto ao comércio de bens, França foi o segundo mercado das exportações portuguesas e o seu terceiro fornecedor. Já Portugal é o 18º mercado de França e o seu 15º fornecedor. Em relação ao comércio de serviços, França é o primeiro mercado de Portugal e o seu terceiro fornecedor; por seu lado, Portugal é o 23º mercado de França e o seu 13º fornecedor. Em suma, em 2017, o défice comercial da balança de bens de França com Portugal foi de 1,1 mil milhões.

VE – A comunidade portuguesa em França desempenha um papel de aproximação entre os dois países?
JMC –
Evidentemente que sim. É um elemento fundamental ter na comunidade portuguesa um elemento tão dinâmico e ativo. Embora França não tenha estatística de origem, sabemos que vivem em França cerca de dois milhões de portugueses ou luso-descendentes. A presença de tantos portugueses permite que não tenhamos tanta falta de mão de obra qualificada, sobretudo nas novas tecnologias de informação, ou na metalomecânica. Em França não é fácil encontrar certas profissões, como soldadores, pois os franceses optam pelo ensino superior, mas mesmo assim o desemprego em França ainda é muito elevado.

“Custo médio/baixo do salário em Portugal é uma vantagem”

VE – Ao nível do investimento, Portugal atrai cada vez mais empresas francesas. Na sua opinião, o que faz de Portugal um país atrativo?
JMC –
São vários os fatores que possibilitam este investimento. A economia portuguesa está a recuperar muito bem depois da crise, com um crescimento de quase 3%, com grande dinamismo, as medidas de incentivo ao investimento por parte do Governo português também são muito atrativas. Portugal é neste momento um país na moda, com um bom clima, e bastante dinâmico.  

VE – É isso que atrai um número crescente de grandes empresas francesas a instalarem-se em Portugal, como é o caso do BNP Paribas, da Natixis ou da Teleperformance?
JMC –
O custo médio/baixo do salário em Portugal é uma vantagem, mas este panorama está a mudar, pois os salários estão a crescer e a aproximar-se da média europeia. As empresas que referiu apostam muito em mão de obra qualificada, em novas tecnologias, onde o vosso país também é bastante forte. Isto sem esquecer o facto de Portugal ter competências linguísticas, pois os portugueses, por norma, falam várias línguas e estas empresas procuram pessoas bilingues; todavia, começa também a existir uma escassez deste tipo de colaboradores.

VE – Para colmatar esta escassez de portugueses que falam francês, o que é preciso fazer? Apostar em formação?
JMC –
Este problema já não é propriamente novo, mas modificar esta realidade implica custos, o ensino obrigatório da língua francesa quase desapareceu há mais de 20 anos e por isso as gerações mais novas falam muito menos francês do que gerações que hoje têm mais de 50 anos. Falou-se de vários projetos, como a criação de escolas francesas em Portugal, mas que ainda não se concretizaram. Não obstante, estamos a promover a língua francesa nas escolas primárias como atividade extracurricular, sobretudo no Porto e em Lisboa, com o apoio das câmaras municipais, assim como as empresas francesas presentes em Portugal promovem o programa “Francês, como língua de oportunidades”, que permite ensinar francês aos seus colaboradores.

VE – Qual a importância relativa do setor agroalimentar no comércio externo francês?
JMC –
A França tem uma grande tradição no setor agroalimentar, assim como Portugal, e por isso as parcerias entre estes dois países fazem todo o sentido. Passamos de uma produção agrícola simples para produtos cada vez mais sofisticados, utilizando muitas vezes novas tecnologias. O mesmo acontece no setor dos vinhos. Por exemplo, existem grandes casas de Vinho do Porto que neste momento são propriedade de casas de Champagne francesas.

VE – A França é também, desde há muitos anos, um país fortemente turístico. O que é que Portugal pode aprender com a vossa experiência?
JMC –
Pode aprender connosco a valorizar o património histórico, a tradição gastronómica, pois temos um agroturismo muito ativo, mas também as praias. França valoriza e aproveita muito vários destes elementos, de modo a promover uma oferta turística muito diversificada. Da mesma forma, no futuro, Portugal deverá deixar de apostar apenas no turismo baseado no sol, como o Algarve, e apostar mais no interior e no seu património nacional.
FERNANDA SILVA TEIXEIRA fernandateixeira@vidaeconomica.pt, 30/11/2018
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